Jermaine Pennant é, sem margem de dúvidas, um dos jogadores mais talentosos da sua geração. Só que o talento andou sempre de mãos dadas com a falta de cabeça. Ou profissionalismo, se preferires. O que faz com que tenha tido uma carreira muito abaixo do que se esperava. Por exemplo, o seu último clube foi o desconhecido Billericay Town FC. Quem? Pois... Aos 36 anos, e sem clube, o jogador (ainda não colocou um ponto final na carreira) avaliado em 500 mil euros deu uma entrevista a um jornal espanhol. Em que falou dos erros da carreira, e daquilo que fez quando estava em Espanha.
Foi numa entrevista ao El Periódico de Aragón que Jermaine Pennant falou de tudo um pouco. Não só dos tempos em que representou o Real Zaragoza (2009/10) mas também do que fez em Inglaterra. E talvez assim se perceba por que não chegou onde todos imaginavam que chegasse. Um dos episódios relatados diz respeito ao dia em que se estreou a titular pelo Arsenal.
"Recordo-me do primeiro jogo a titular pelo Arsenal, frente ao Southampton. Tinha apenas 19 anos e na noite anterior decidi ir a uma festa. Recordo-me de tomar o pequeno-almoço num McDonald's. Foi a pior preparação possível"
“Foi um estilo de vida que me saiu bastante caro em diversas ocasiões, ainda que noutras não. Recordo-me do primeiro jogo a titular pelo Arsenal, frente ao Southampton. Tinha apenas 19 anos e na noite anterior decidi ir a uma festa. Recordo-me de tomar o pequeno-almoço num McDonald's. Foi a pior preparação possível. Marquei um hat-trick (3 golos), embora estivesse com uma ressaca terrível. Os meus companheiros de quarto chamaram-me tudo”, começa por contar.
“Conseguia dizer algumas palavras sobre futebol, recordo isso e de 'duas cervejas, por favor'”
O jogador inglês fala ainda sobre a relação com os treinadores, como Marcelino García Toral, com quem trabalhou no clube espanhol. “Fiz saltar a tampa a todos os meus treinadores, coitado do Marcelino. Era duro, severo e às vezes fartava-se depressa. Mas gostava muito dele, era genial. Recordo-me que vinha muitas vezes ter comigo e dizia: 'Como vão essas aulas de espanhol?' Não conseguia conter o riso e assentia”, recorda. “Conseguia dizer algumas palavras sobre futebol, recordo isso e de 'duas cervejas, por favor'”, acrescenta.
Houve ainda tempo para falar sobre a noite mais louca que viveu em Espanha, vivida a meias com Frank Songo'o, filho de Jacques Songo'o, ex-guarda-redes do Deportivo, o companheiro nas aventuras noturnas. “Foi uma viagem terrível até Barcelona. Fomos porque estávamos com umas raparigas e tínhamos de apanhar o comboio às 6h30 da manhã para chegar a tempo de treinar. Mas atrasou-se e ficámos com problemas. O doutor Villanueva estava sempre a ligar-me para saber onde estava, mas não lhe respondia. O meu tradutor disse que estava em minha casa e que viu que não estava lá ninguém. Cheguei e fiz com que acreditassem que estava a dormir e que não podia responder”, refere. Explicando que pediu desculpas aos jogadores da equipa pelos seus comportamentos durante a estadia em Espanha.
“Vivi uma infância difícil e isso sempre fará parte de mim. Tive de crescer sozinho com o meu pai, que tinha problemas com drogas"
Mas existem mais aventuras com comboios. E nesta acabou por se esquecer de um Porsche. “Tinha que apanhar um comboio para Madrid, para apanhar um voo para Manchester e assinar contrato com o Stoke City. Era 31 de agosto [data do fecho de mercado de transferências] e estava prestes a perder o comboio. Se o perdesse, acabava. Acabei por sair do Porsche Cayenne e deixei as chaves no porta-luvas. Sabia que voltaria para apanhar o carro, não sou assim tão mau para abandonar um carro tão caro. Disse ao meu tradutor para ir à estação, apanhar o carro e pagar o estacionamento. Ele tinha que pagar quase 500 euros. Disse para não se preocupar que o carro estava aberto. O pobre homem estava alucinado. 'Um Porsche abandonado e aberto. Estás louco?', disse-me”, relata.
Por fim, falou ainda sobre a infância complicada que marcou a sua juventude. “Vivi uma infância difícil e isso sempre fará parte de mim. Tive de crescer sozinho com o meu pai, que tinha problemas com drogas. Vivi a cultura de gangues, mas sempre tive as minhas prioridades claras. Tive que amadurecer rapidamente, ser forte quando era apenas uma criança”, termina.
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