Clermont
é uma cidade francesa com uma forte tradição no que ao raguebi diz respeito.
Ainda assim, é o futebol que tem dado que falar por estes dias. Tudo por causa
da boa prestação que o Clermont está a ter nesta fase inicial da Ligue 1, o
principal campeonato francês de futebol. E se a equipa está num bom patamar, o
mesmo se pode dizer de Vital N’Simba, uma das estrelas da equipa.
Num jogo recente o Clermont conseguiu vencer o Lille, campeão em prova, com um golo
de Vital N’Simba. Além do remate certeiro, o lateral-esquerdo, de 28 anos e
1,67 metros de altura, conta ainda com duas assistências. O que faz com que
muito estejam a olhar para si e existem até comparações a Marcelo, lateral do
Real Madrid. A brilhar como lateral-esquerdo, Vital N’Simba tem uma história
desportiva, e especialmente de vida, digna de registo.
“Eu
jogava a avançado até que, aos 16 anos, comecei a recuar e a jogar como 8.
Agora, sou extremo, mas ainda tenho aquele instinto ofensivo e capacidade de
ligação. Gostaria de me tornar no melhor lateral-direito da Ligue 2”, disse em
2015, altura em que foi contratado pelo Bourg-en-Bresse. Contratado sempre a
custo zero, Vital N’Simba é um refugiado que teve de fugir de Angola quando
tinha apenas seis anos.
“Eu
jogava a avançado até que, aos 16 anos, comecei a recuar”
“Nasci
em Angola e vivi lá até aos 6 anos, mas tivemos de fugir do país porque os
militares acusaram o meu pai, que trabalhava para a guarda presidencial, de
roubar uma carga. Se o apanhassem, ele corria o risco de que o matassem”,
recorda em declarações citadas pela Marca. “Fugimos a meio da noite. O meu
padrinho levou-nos ao aeroporto e apanhámos um voo para Roma. Ficámos lá
durante algumas semanas e depois mudámos para Toulose, para a casa do meu tio. Dez
meses depois ainda não tínhamos documentos e tivemos de sair. Andávamos de
hotel em hotel enquanto os meus pais arranjavam dinheiro para ter algo para
comer”, acrescenta.
“Nasci
em Angola e vivi lá até aos 6 anos, mas tivemos de fugir do país”
Foi
nesta fase complicada que N’Simba jogou futebol pela primeira vez. “O futebol
era a minha ‘bolha’. Permitia-me fugir de tudo”, diz. À margem disto, a família
teve ainda de lidar com um drama familiar quando já estavam instalados num
centro de refugiados políticos nos arredores de Bordéus. “Quando o meu irmão
tinha um ano adoeceu gravemente com meningite. Ficou em coma durante vários meses e quando acordou tinha perdido todas as capacidades. Hoje, ainda não
consegue falar ou andar. Tínhamos passado muito mal, mas isto foi um golpe
muito duro”, recorda.
Depois
de passar pelas equipas secundárias do Bordéus e Guingamp, N’Simba passou ainda
pelo Luçon e Bourg-en-Bresse antes de chegar ao Clermont, em 2018. “Tive
problemas de atitude, mas nunca duvidei das minhas qualidades. Sabia que
poderia tornar profissional”, conta.
Promessa
à avó
Agora,
o jogador sensação do Clermont está a cumprir a promessa feita à avó. “Com
cinco anos vivi o Mundial 90 em Angola. Tinha a camisola da França e conhecia
todos os jogadores. Então, disse à minha avó: ‘Um dia irás ver-me na televisão
a jogar futebol’. Curiosamente, foi em França”, conclui.