Em tempos falava com um amigo sobre filhos. Ele, pai, falava sobre o aumento da família. Eu, sem filhos, falava na possibilidade de ser pai. Esta conversa teve lugar num momento complicado das nossas vidas (a minha e a dele) e um dos temas abordados foi o dinheiro necessário para a criação de uma ou de mais uma criança. Ele, defendia que em casa onde come um, comem dois. E aplicava esta máxima a tudo o que envolve ter um filho. Defendia também, tendo por base o exemplo de uma família onde os avós estão geograficamente perto dos netos, que eventuais momentos complicados para os pais são suportados pelos avós ou mesmo por outros familiares. Ou seja, do seu ponto de vista, é um erro não ter um filho a pensar apenas no dinheiro porque há sempre uma solução.
Em parte, concordo com o seu ponto de vista. E digo em parte porque sei que existem casais que não têm qualquer ajuda e que não têm a quem recorrer caso o dinheiro não chegue para tudo ou caso a comida não dê para todos. Mas aceito o seu ponto de vista que fazer muitas contas ao dinheiro que se gasta para ter um filho não deve ser impeditivo para ter um filho. E digo isto porque acredito que os verdadeiros pais arranjam sempre uma solução para a maioria das coisas de que os filhos necessitam diariamente.
Eu, que não sou pai mas que pretendo ser, nem perco muito tempo com contas ao dinheiro. Talvez por partilhar do tal raciocínio do meu amigo. Aquilo em que penso é que a partir do dia em que for pai, tudo muda. A partir daquele momento, existe uma pessoa que depende de mim. Algo que não acontece actualmente. Ninguém depende de mim. Nenhuma vida depende das minhas opções. Daquilo que entendo justo, correcto e o caminho certo a seguir. Para mim, ser pai não é o mesmo que ter um objecto de que gosto muito. Que está sempre comigo quando assim o desejo e que depois coloco num canto quando me está a aborrecer. Ou que entrego a outra pessoa quando já não o suporto.
Para mim, ser pai não é delegar nos outros aquilo que me compete fazer. Não é querer viver apenas os momentos bons e sair de casa nos momentos maus. Não é fugir de um bebé que chora a noite toda, dizendo sempre à mãe para resolver aquela choradeira. Não é não abdicar de nada em prol de quem depende de mim sem que essa dependência tenha sido uma escolha sua. Isso sim, é algo que me preocupa. Saber se estou à altura de uma missão bastante complicada. De uma missão que não dura um dia, uma semana ou um mês mas uma vida inteira.
E o mais fascinante desta minha dúvida é que só se descobre a resposta quando se é pai. Posso achar que serei um grande pai e ser um desastre completo nesse domínio. Como posso achar que nem sequer sei pegar numa criança ou trocar-lhe uma fralda quando na realidade serei um pai extraordinário. Se existisse (não sei se existe) algum teste 100% eficaz sobre se seremos bons ou maus pais, tenho a certeza de que nunca o faria. Porque só quero fazer esse teste a partir do momento em que for pai.