apenas vergonha #7

Os momentos de vergonha acontecem quando menos se espera. Onde menos se espera e são proporcionados pelas pessoas de quem menos esperamos. Pessoalmente, já vivi momentos menos felizes em todos os locais. Até a correr junto ao rio.

Houve uma altura em que pratiquei menos desporto. Até que senti necessidade de retomar a actividade física. Como tal, iniciei as corridas à beira rio numa altura em que ainda vivia na casa dos meus pais. Aos Sábados e Domingos lá ia eu bem cedo. Acordava às sete da manhã e entregava-me às corridas.

Como não praticava desporto há algum tempo, senti uma dificuldade natural na primeira corrida. Na viagem de regresso já ia com a língua quase no chão. Mas como não dou parte fraca, faço sempre o percurso na íntegra. Não deixo que o cansaço me vença.

Porém, quando a meta estava próxima, ouço passos vindos atrás de mim. O som seguinte foi uma voz...

“Então, vamos dar uma corridinha?”, diz-me um senhor com idade para quase ser meu avô.

“Quer acompanhar-me?”, acrescentou antes de eu falar.

Vi que o homem tinha uma pedalada e não me meti no desafio. “Obrigado mas não vai dar”, disse.

“Vá lá”, insistiu.

“O meu percurso acaba já ali à frente”, disse eu.

O homem viu que não ia conseguir puxar por mim e desistiu. “Ok. Para a semana vai ver que já corre mais”, afirmou antes de abrir o passo e afastar-se de mim.

Até hoje não sei se o homem queria puxar por mim ou simplesmente humilhar-me perante o meu miserável estado físico. E a verdade é que me senti mal. Não com o eventual objectivo do homem mas pelo meu miserável estado que desde então está muito melhor. E é isto. Apenas vergonha. Neste caso, de mim e do estado lastimável a que tinha chegado.