19.4.13

quando ter geleia barrada na cara é uma lição


Conheço muitos pais que têm uma dificuldade extrema em autorizar que um filho passe uma semana longe dos pais. Longe de qualquer membro da família. Com contacto telefónico limitado. Como é o caso de algumas colónias de férias. Compreendo o receio natural dos progenitores mas sou apologista de que os mais novos devem viver este tipo de experiências. Acho até que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de uma criança.

Quando era mais novo os meus pais perguntaram-me se queria fazer um estágio de futebol na Escola Rui Águas. Fiquei muito contente. Disse logo que sim. Passei uma semana, longe dos meus pais, em Cascais. Foi do melhor que já vivi. Tanto que um ano depois , inscrevi-me novamente. Desta vez, o estágio foi em Ermesinde. E sinto que aquilo que vivi nestes estágios foi bastante importante para a minha formação.

Começando pelo básico. Dividia o quarto com uma pessoa ou com seis, consoante o estágio. Além disso, ninguém o arrumava. Tinha de fazer a cama e arrumar o quarto antes de ir para o treino matinal. Se podia deixar tudo desarrumado? Podia, mas era penalizado por isso. Seguia-se o treino da manhã. Ali, aprendia o espírito de equipa. Que o todo é sempre mais importante do que as partes. Que devemos apoiar um colega que erra. Depois do primeiro treino, seguia-se o almoço em conjunto que servia para perceber a importância do convívio e de uma alimentação saudável. De tarde, mais treinos. Mais disciplina. Além do futebol, existiam as idas ao cinema e a outros eventos, que apesar de aparentemente simples tinham como missão ensinar algo.

Tínhamos ainda a oportunidade de privar com ex-jogadores de futebol que nos treinavam. E de jogadores actuais que visitavam o estágio. O contacto com a família era sempre feito por volta da hora de jantar. E posso garantir que não me recordo de algum dos miúdos chorar com saudades dos pais. Tal como me recordo de que todos se desenrascavam. Porque tinha de ser assim. Não havia outra forma.

É claro que também havia tempo para brincadeiras. A que recordo com mais saudade envolvia geleia. No quarto de seis, na hora de deitar, fingíamos que estávamos a dormir. Até que alguém se deixava realmente dormir. O primeiro a dormir era a primeira vítima. Colocava-se geleia na mão. E depois fazia-se cócegas com uma pena na cara. Era uma questão de segundos até coçar a cara com a mão que tinha geleia. E uma questão de minutos até a cara estar cheia de geleia.

Eu fazia parte daqueles que pensava que só acontecia aos outros. Apenas porque pensava que conseguia ser sempre o último a adormecer. Até ao momento em que acordei com geleia na cara. Reacção imediata. Rir que nem um louco. Não posso mentir e dizer que estas brincadeiras não eram penalizadas. Até porque aconteciam fora de horas.

Recordo-me de dois miúdos que foram apanhados a brincar noutro quarto. Um dos monitores (um ex-jogador brasileiro do Benfica) pediu-lhes que despissem a tshirt. Que tirassem as meias e que percorressem um corredor a rastejar tipo tropa. Aceito que isto possa parecer duro para quem lê. Mas não era. Os castigados entendiam que a penalização era merecida. Aceitavam sem desagrado e não se iam queixar aos pais (ou mesmo ao Rui Águas). Faziam daquilo um exemplo.

Confesso que não sei se ainda existem escolas deste tipo ou dedicadas a outras áreas ou desportos. No caso específico da Escola Rui Águas, sei que poderá voltar a surgir. Mas o conselho que dou aos pais é que não privem os filhos deste tipo de actividades. Se existir disponibilidade financeira e se confiarem na escola, incentivem os filhos a participar nestas actividades. E notem a diferença que uma semana pode fazer.

12 comentários:

  1. Nunca fui para uma colónia de férias....

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  2. Sempre deixei e incentivei as minhas filhas a irem para campos de férias e viagens com a escola, longe de casa e dos pais.
    Concordo que se tiram lições de vida e experiências inesquecíveis.
    Hoje são determinadas e não têm problema em meterem-se num avião e irem à aventura, como a mais velha que esteve três semanas na Índia e diz que foram dos dias mais felizes da sua vida.Penso que tem haver com as bases que vão construindo.

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    1. Ainda bem que és assim como mãe. Isso é muito importante.

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  3. Como eu concordo com a Amiga da Onça, a minha filha agora cm 23 anos e uma vida independente, foi sempre para colónias férias a 300km de casa e SEM TELEMÓVEL, amou estas experiências e ainda hoje se lembra das peripécias e etm amigos dessas ocasiões. Quando não eram colonias eram acampamentos de escuteiros, sim foi escuteira durante 12 anos, em que eram Proíbidos de ter telemóvel(ainda bem), e só havia contactos com os pais se algo de anormal acontecesse. Pois mesmo assim havia papás que ficavam chateados com o facto de não poderem telefonar para as suas crias.
    Com isto tudo, aprendeu a crescer e a desenrascar-se sózinha e sem ter o pais sempre por perto. Acho que é Fundamental para o desenvolvimento de uma criança/jovem.
    PR

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  4. Colonias de ferias nunca fui mas fui em fds na catequese. Mas nunca brinquei com geleia mas sim com farinha ou pasta de dentes xD

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  5. Não podia estar mais de acordo, as minhas filhas fazem campos de férias desde os 11 anos bem longe de casa..pois fazem-nos com o CISV (Children International Summer Village) a Matilde foi aos 11 para o Japão um mês ..adorou..depois disso foi Egipto...Noruega e Israel a mais nova já foi também aos 11 para o Canadá e aos 12 USA, sinto que é o melhor que lhe posso dar, são campos com mais de 50 crianças de pelo menos 10 nacionalidades. Sinto-as independentes e cidadãs do mundo e com amigos por todo lado. beijos

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    1. Há pessoas que não imaginam a bagagem que se ganha com experiências dessas.

      beijos

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  6. Concordo com o incentivo dessas experiências, até porque eu próprio tive essas mesmas oportunidades. Os miúdos ganham bagagem e aprendem a desenrascar-se. E aprendem valores importantes como o companheirismo, o espírito de equipa, etc.

    Conheço pais que são demasiado agarrados aos filhos. Conheço o exemplo de uma mãe de 2 filhos (não sei as idades ao certo, mas o mais velho já deve estar a terminar a primária e o mais novo deve estar a entrar na mesma) que nem nos avós os miúdos dormem :/ nunca passaram uma noite longe dos pais porque a mãe fica aterrorizada com a ideia de não ter as crias por perto. E nem imagina o que está a tirar aos filhos com esta mentalidade :S

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