Conheço muitos pais que têm uma
dificuldade extrema em autorizar que um filho passe uma semana longe
dos pais. Longe de qualquer membro da família. Com contacto
telefónico limitado. Como é o caso de algumas colónias de férias.
Compreendo o receio natural dos progenitores mas sou apologista de
que os mais novos devem viver este tipo de experiências. Acho até
que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de uma
criança.
Quando era mais novo os meus pais
perguntaram-me se queria fazer um estágio de futebol na Escola Rui
Águas. Fiquei muito contente. Disse logo que sim. Passei uma semana,
longe dos meus pais, em Cascais. Foi do melhor que já vivi. Tanto
que um ano depois , inscrevi-me novamente. Desta vez, o estágio foi
em Ermesinde. E sinto que aquilo que vivi nestes estágios foi
bastante importante para a minha formação.
Começando pelo básico. Dividia o
quarto com uma pessoa ou com seis, consoante o estágio. Além disso,
ninguém o arrumava. Tinha de fazer a cama e arrumar o quarto antes
de ir para o treino matinal. Se podia deixar tudo desarrumado? Podia,
mas era penalizado por isso. Seguia-se o treino da manhã. Ali,
aprendia o espírito de equipa. Que o todo é sempre mais importante
do que as partes. Que devemos apoiar um colega que erra. Depois do
primeiro treino, seguia-se o almoço em conjunto que servia para
perceber a importância do convívio e de uma alimentação saudável.
De tarde, mais treinos. Mais disciplina. Além do futebol, existiam
as idas ao cinema e a outros eventos, que apesar de aparentemente
simples tinham como missão ensinar algo.
Tínhamos ainda a oportunidade de privar com
ex-jogadores de futebol que nos treinavam. E de jogadores actuais que
visitavam o estágio. O contacto com a família era sempre feito por
volta da hora de jantar. E posso garantir que não me recordo de
algum dos miúdos chorar com saudades dos pais. Tal como me recordo
de que todos se desenrascavam. Porque tinha de ser assim. Não havia
outra forma.
É claro que também havia tempo para
brincadeiras. A que recordo com mais saudade envolvia geleia. No
quarto de seis, na hora de deitar, fingíamos que estávamos a
dormir. Até que alguém se deixava realmente dormir. O primeiro a
dormir era a primeira vítima. Colocava-se geleia na mão. E depois
fazia-se cócegas com uma pena na cara. Era uma questão de segundos
até coçar a cara com a mão que tinha geleia. E uma questão de
minutos até a cara estar cheia de geleia.
Eu fazia parte daqueles que pensava que
só acontecia aos outros. Apenas porque pensava que conseguia ser
sempre o último a adormecer. Até ao momento em que acordei com
geleia na cara. Reacção imediata. Rir que nem um louco. Não posso
mentir e dizer que estas brincadeiras não eram penalizadas. Até
porque aconteciam fora de horas.
Recordo-me de dois miúdos que foram
apanhados a brincar noutro quarto. Um dos monitores (um ex-jogador
brasileiro do Benfica) pediu-lhes que despissem a tshirt. Que
tirassem as meias e que percorressem um corredor a rastejar tipo
tropa. Aceito que isto possa parecer duro para quem lê. Mas não
era. Os castigados entendiam que a penalização era merecida.
Aceitavam sem desagrado e não se iam queixar aos pais (ou mesmo ao
Rui Águas). Faziam daquilo um exemplo.
Confesso que não sei se ainda existem
escolas deste tipo ou dedicadas a outras áreas ou desportos. No caso
específico da Escola Rui Águas, sei que poderá voltar a surgir.
Mas o conselho que dou aos pais é que não privem os filhos deste
tipo de actividades. Se existir disponibilidade financeira e se
confiarem na escola, incentivem os filhos a participar nestas
actividades. E notem a diferença que uma semana pode fazer.
Nunca fui para uma colónia de férias....
ResponderEliminarÉ uma experiência que vale a pena.
EliminarSempre deixei e incentivei as minhas filhas a irem para campos de férias e viagens com a escola, longe de casa e dos pais.
ResponderEliminarConcordo que se tiram lições de vida e experiências inesquecíveis.
Hoje são determinadas e não têm problema em meterem-se num avião e irem à aventura, como a mais velha que esteve três semanas na Índia e diz que foram dos dias mais felizes da sua vida.Penso que tem haver com as bases que vão construindo.
Ainda bem que és assim como mãe. Isso é muito importante.
EliminarComo eu concordo com a Amiga da Onça, a minha filha agora cm 23 anos e uma vida independente, foi sempre para colónias férias a 300km de casa e SEM TELEMÓVEL, amou estas experiências e ainda hoje se lembra das peripécias e etm amigos dessas ocasiões. Quando não eram colonias eram acampamentos de escuteiros, sim foi escuteira durante 12 anos, em que eram Proíbidos de ter telemóvel(ainda bem), e só havia contactos com os pais se algo de anormal acontecesse. Pois mesmo assim havia papás que ficavam chateados com o facto de não poderem telefonar para as suas crias.
ResponderEliminarCom isto tudo, aprendeu a crescer e a desenrascar-se sózinha e sem ter o pais sempre por perto. Acho que é Fundamental para o desenvolvimento de uma criança/jovem.
PR
E há algo melhor do que isso para uma criança?
EliminarColonias de ferias nunca fui mas fui em fds na catequese. Mas nunca brinquei com geleia mas sim com farinha ou pasta de dentes xD
ResponderEliminarNão sabes o que perdes :)
EliminarNão podia estar mais de acordo, as minhas filhas fazem campos de férias desde os 11 anos bem longe de casa..pois fazem-nos com o CISV (Children International Summer Village) a Matilde foi aos 11 para o Japão um mês ..adorou..depois disso foi Egipto...Noruega e Israel a mais nova já foi também aos 11 para o Canadá e aos 12 USA, sinto que é o melhor que lhe posso dar, são campos com mais de 50 crianças de pelo menos 10 nacionalidades. Sinto-as independentes e cidadãs do mundo e com amigos por todo lado. beijos
ResponderEliminarHá pessoas que não imaginam a bagagem que se ganha com experiências dessas.
Eliminarbeijos
Concordo com o incentivo dessas experiências, até porque eu próprio tive essas mesmas oportunidades. Os miúdos ganham bagagem e aprendem a desenrascar-se. E aprendem valores importantes como o companheirismo, o espírito de equipa, etc.
ResponderEliminarConheço pais que são demasiado agarrados aos filhos. Conheço o exemplo de uma mãe de 2 filhos (não sei as idades ao certo, mas o mais velho já deve estar a terminar a primária e o mais novo deve estar a entrar na mesma) que nem nos avós os miúdos dormem :/ nunca passaram uma noite longe dos pais porque a mãe fica aterrorizada com a ideia de não ter as crias por perto. E nem imagina o que está a tirar aos filhos com esta mentalidade :S
Tens muita razão Roger!
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