Uma das grandes lacunas do nosso país
(não sei se acontece o mesmo lá fora e a verdade é que não tenho
experiência suficiente para falar do que acontece para lá da nossa
fronteira) é a clara incapacidade de aceitar que uma pessoa, seja
ela quem for, pode ser tão boa numa área como em duas ou
três.
Este problema não é de hoje. Nem
começou ontem. Tem dezenas e dezenas de anos. É impensável
acreditar que um excelente cirurgião seja igualmente bom a pilotar
um avião ou a fazer bolos. Um actor nunca poderá ser em simultâneo
um excelente escritor, compositor e argumentista. E estes são apenas
dois exemplos.
Se uma pessoa se apresenta como
cirurgião, piloto e pasteleiro ouve imediatamente como resposta:
“Mas o que é que tu fazes dessas três coisas? És melhor no quê?”
E isto pode ser devastador para uma pessoa talentosa que pretenda
alimentar várias vertentes da sua vida. Se estiver mal acompanhada e
se as pessoas ao seu redor forem fracas, poderá facilmente quebrar e
deixar de acreditar em tudo aquilo que faz com mestria.
Metendo ainda mais o dedo na ferida.
Existem muitos escritores que abominam pessoas que escrevem de forma
brilhante mas que não se assumem como escritores. E deixo um
exemplo: Rosa Lobato Faria. As palavras desta linda mulher (que
infelizmente já partiu) que me habituei a ver como actriz são do
melhor que os portugueses têm. Mas a verdade cruel é que muitos
escritores nunca viram Rosa Lobato Faria como uma escritora. A única
explicação que vejo para isto é inveja. É o sentimento de
impotência perante os múltiplos talentos de uma só pessoa. E este
tipo de sentimentos são corrosivos. Principalmente para quem os
sente pois em nada mudam as qualidades dos outros.
Não sei quantos anos vão ser precisos
para acabar com isto. Prevejo um caminho árduo e espinhoso. Até lá,
aqueles que são bons em muitas coisas serão sempre vistos como
medíocres em tudo aos olhos dos outros. E isto não passa de uma
grande mentira. A verdade é que é possível ser extraordinários em
muitas coisas. E não posso dar um melhor exemplo do que Rosa Lobato
Faria.
É engraçado que tenhas falado na Rosa Lobato Faria relativamente a esse tema porque foi ela que me ensinou a acreditar que as pessoas podem ser mesmo boas em imensas coisas.
ResponderEliminarAté "lê-la" só a via como atriz e admito que nem era das que mais admirava. E depois cativou-me tanto! Devorei os seus livros uma a seguir ao outro.
Abri os olhos a outros tão bons exemplos que se fizeram notar e realmente o céu é o limite para tudo o que podemos realizar (bem!).
A Rosa Lobato Faria é um dos melhores exemplos de que se pode ser realmente bom em diferentes coisas.
EliminarNa nossa terra adoramos rótulos e comportamentos padrão.
ResponderEliminarSe és diferente...passa-se qualquer coisa de errado contigo...há um longo caminho pela frente e não vejo assim muita gente interessada em "mudar mentalidades".
jinho
Há pessoas que preferem seguir com a maré.
Eliminarbeijos
Como escritora, para mim, é a melhor, venham cá Saramagos ou Margariditas (prrrrrrr... estou a gozar, esta não conta!). Já como escritora de música, francamente, não sei o que lhe passou pela cabeça no dia em que meteu no mundo um "peguei trinquei meti-te na cesta". A sério que não! Era (é, porque continuo a ler os livros dela... várias vezes) uma excelente contadora de histórias, e com um sentido de humor apuradíssimo, que não é para muitos!
ResponderEliminarÉ um talento único. Disso ninguém tem dúvidas.
EliminarEngraçado que este texto que escreveste vai de encontro a uma formação/palestra de emprego que fui na terça-feira onde falaram da mentalidade e da diferença das pessoas no mercado de trabalho em Portugal.
ResponderEliminarNós temos de saber fazer um pouco de tudo e devemos!E a Rosa Lobato Faria já estava muito "à frente", como muitos portugueses (felizmente).
Mas claro que temos mais aptidão para uma efectuar alguma coisa que outra. Eu confesso, que por exemplo, não tenho jeito para línguas. Desenrasco-me apenas... Mas sei que tenho um forte e mim, que não digo! ;)
A Rosa Lobato Faria viveu muito à frente da maioria das pessoas da sua geração.
EliminarConta lá!
Não conto! :D
Eliminareu acho que o problema é que a maioria das pessoas não sonha que a Rosa Lobato faria foi escritora e que tem livros e textos espetaculares!
ResponderEliminarE alguns escritores batem-te se disseres que foi escritora.
EliminarSe existem máquinas multifunções (ex.: cópia , scanner e fax) porque ao Homem, ser inteligente, não o é permitido?
ResponderEliminarEu sou multifuncional em todas as áreas mas principalmente na profissional. E tens razão, isso não é bem visto pois partem do principio que alguma se há-de destacar...e eu pergunto qual? Se pensarmos que vivemos cada vez mais numa sociedade que nos imprime mobilidade, flexibilidade e polivalência, tal não deveria ser assim tão estranho, além de que somos seres naturalmente multitalentosos, só temos que os desenvolver, se assim o quisermos.
bjs
O mundo exige que saibamos fazer de tudo um pouco mas somos postos de lado se assumimos que sabemos ser multi funcionais com competência.
Eliminarbeijos
Acreditas que nunca tinha pensado nisso?? A Rosa Lobato Faria é de facto um óptimo exemplo. Acredito que esse preconceito seja mais forte em algumas áreas mas não deixa de estar presente em todas.
ResponderEliminarInfelizmente, está em todo o lado.
EliminarQuem é mãe e trabalhadora, independente ou dependente, não tem outra alternativa senão ser multifacetada. Quanto à Rosa Lobato Faria, nunca gostei dela como atriz, nunca gostei da música dela e por isso nunca senti vontade de perder tempo com um livro dela, mas obviamente de alguma coisa eu não podia gostar de fazer e lê-la não está certamente nos meus planos!
ResponderEliminarClaro. Nesse caso tens toda a razão. Quanto à Rosa Lobato Faria, desafio-te a conheceres a obra. Podes começar por um livro inédito que foi lançado agora.
EliminarOlha, eu por acaso tenho-me como boa mãe, boa esposa boa filha e boa profissional. Tenho talento para essas coisas todas. Mas isto de ser bom aos olhos dos outros é muito subjectivo. Eu gosto dos livros da Rosa Lobato de Faria, achava-a lindíssima mas como actriz penso que deixava muito a desejar!
ResponderEliminarEra linda. Aqueles olhos verdes eram mágicos. Imaginas que escreveu mais de 1500 canções? Que escreveu romances a um ritmo alucinante entre muitas outras coisas.
EliminarTodos temos talentos diferentes. O problema em Portugal é que facilmente se colam "rótulos" nas pessoas e isso é difícil de mudar.
ResponderEliminarSão hábitos antigos, é a mentalidade que predomina!
Um abraço,
http://carpediemtome.blogspot.pt/
Esperemos que isso mude depressa.
EliminarAbraço
São essas pessoas que admiro,que tenha a capacidade de conciliar várias profissões.
ResponderEliminarE que deviam ser reconhecidas por todos.
EliminarO talento assusta os mais inseguros. Os outros, os seguros de si, aplaudem e apoiam o talento dos outros :)
ResponderEliminarMuito bem dito :)
EliminarAcho que essa aversão dos escritores se deve principalmente àquele tipo de pessoas que, por serem famosas, editam livros em seu nome com a certeza que vão vender, mesmo que os livros não sejam nada de especial. E há muitos casos desses. É claro que também há muitas pessoas capazes de fazer mais do que uma coisa perfeitamente bem. Há que saber diferenciar.
ResponderEliminarMas temos de ter capacidade para separar talento de oportunismo.
EliminarE depois existem aqueles que nao têm jeito/vocaçao para nada mas dizem q sao bons em tudo e mais alguma coisa!!
ResponderEliminarTambém é verdade!
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