fútil? talvez...

Nunca fui pessoa de olhar para um catálogo repleto de destinos paradisíacos e meter na cabeça que tenho de visitar algum e fazer disso uma obsessão. Mentia se dissesse que não tenho a minha lista de locais que gostava de viajar. Também sei que sou um felizardo e sortudo por já ter conhecido diversas culturas e países. E isso deve-se à minha família e profissão. Porém, passei a ter um sonho (nunca passará disso mesmo) que para muitos poderá ser uma futilidade.

Quero ir a Saint Barths, nada mais do que o destino de férias mais luxuoso e exclusivo do mundo. Luxo, é ali! Também existem aqueles belos bares onde a cerveja é barata e onde podemos sujar as mãos com ketchup e gordura das batatas. Onde está o povo, misturado com o luxo. Todavia, em Saint Barths é mais provável encontrar um Anjo da Victoria´s Secret, um membro de uma família real, um actor, um realizador, um milionário ou mesmo um jogador de futebol do que um desconhecido.

E, quando este sonho se tornar real, já sei onde ficar. Vou alugar a villa Rock Star do famoso resort Eden Rock. Vou alugar uma “pequena casa” de quatro suites. O aluguer da mesma custa a módica quantia de 11209 euros por noite ou não fosse a melhor de todas. Coisa pouca. A esta altura do texto, a futilidade sobe de tom, podem pensar. Mas, nem tudo o que parece é. Para já, deixo-vos as fotos da casa.

Podia dizer que quero ficar nesta villa pelo espaço. Pelos três andares. Pela vista. Pela segurança privada. Pelo acesso directo à praia. Pelo soalho francês. Pelas louças italianas das casas-de-banho ou mesmo pelas obras de arte que adornam a Rock Star. Podia ainda dizer que o meu sonho era banhar-me numa banheira redonda com acabamentos em ouro. Podia também dizer que aquilo que me atrai é a cozinha de luxo, a mesa para doze pessoas criada por um designer de topo. Ou mesmo as piscinas. Podia ainda falar dos gadgets topo de gama que estão presentes na villa ou mesmo do ecrã de 52 polegadas. Ou ainda da sala de cinema com capacidade para dezasseis pessoas. Podia, por fim, falar do motorista privado a que teria direito e dos dois carros que estavam ali só para mim. Porém, se estes fossem os meus verdadeiros motivos, seria o primeiro a apelidar-me de fútil.

É óbvio que não existe uma única pessoa no mundo que rejeitasse passar aqui uma noite. Quem tivesse essa oportunidade, aceitaria certamente experimentar os imensos prazeres desta villa. Mas, no meu caso, nada do que referi anteriormente transformou este espaço num local de sonho. Aquilo que mexe realmente comigo está na última foto. E não. Não é a sala do cinema. São aqueles dois objectos que estão ligados à música e que aparecem ao lado do ecrã.

É que a Rock Star tem um estúdio de gravação totalmente equipado. Agora, podia falar dos diversos músicos que passaram por este espaço. Mas, para mim, basta-me saber que foi ali que John Lennon gravou uma das músicas mais belas do mundo. Foi ali, que pouco tempo antes da sua morte, o artista gravou Imagine. E este é o único motivo que me leva a querer passar uma noite naquele espaço. Se assim não fosse, podia ir a Saint Barths e dormir numa cabana na praia que ficaria feliz. Aceito que muitos continuem a defender que poderá ser um sonho fútil. Para mim, a concretização deste sonho seria respirar a história da música mundial. E se isso é ser fútil. Então que seja. E eu seria. Por uma noite.