corda bamba

“Não é tecno, não é samba. É a dança do ter e não ter. É a dança da corda bamba”, canta Manuela Azevedo. Se ouvisse esta música dos Clã há coisa de dois anos era capaz de não a escutar até ao fim. Talvez vibrasse com o ritmo até ao refrão e depois, provavelmente mudava de estação de rádio. Mas como basta um segundo para que tudo mude, hoje dei por mim a olhar para a letra da música. E, se em tempos não a ouvia até ao fim, agora revejo parte do meu passado recente nesta letra.

“A vida é como uma corda. De tristeza e alegria. Que saltamos a correr. Pé em baixo, pé em cima. Até morrer. Não convém estica-la. Nem que fique muito solta. Bamba é a conta certa. Como dança de ida e volta. Quem mantém a via aberta”, é o que diz a música. Em tempos podia achar isto uma patetice pegada. Hoje, para mim é uma verdade inabalável.

Não sei se existe uma competição mas sinto-me capaz de participar num concurso de dança na corda bamba. Sinto-me capaz de lutar por um dos lugares do pódio. E com isto não pretendo gabar-me. Sinto aquilo que escrevo porque estou há tempo demais em cima da corda. Estou numa fase em que os pés já estão em sangue. Mesmo assim, não cedem. Não escorregam. E os joelhos não tremem. E eu não vacilo. Tal como não tenho medo da queda. Apesar de olhar para baixo e não conseguir vislumbrar o chão.

Não me assusta que os meus pés sangrem mais um pouco. Não tenho medo de cair, mesmo desconhecendo onde vou parar. Nem tão pouco me incomoda o grupo de pessoas que está sentado no chão, a comer pipocas e a beber um refrigerante qualquer, enquanto aguardam ansiosamente pelo momento da minha queda. No meio desta situação só há um detalhe que me tira do sério. Chama-se indefinição. Não saber se tenho de sangrar mais. Se tenho de cair. Ou se tenho de fazer outra coisa qualquer que ainda não está ao meu alcance. Pior, saber que uma destas decisões está ao alcance de terceiros.

Até lá, por cá me mantenho. Na minha corda bamba que - peço desculpa pelo egoísmo pois sei que há bem pior do que isto – aparenta ser a maior do mundo. E enquanto não chega o momento, seja ele qual for, irei continuar a cantarolar a música dos Clã. Aquela que não apreciava muito. E que hoje é uma parceira de vida. “Não é tecno, não é samba. É a dança do ter e não ter. É a dança da corda bamba.”