desbloqueador de conversa

Nada como um desbloqueador de conversa para começar bem o dia. Estava prestes a pagar a minha despesa no café quando reparo que a senhora que estava na caixa tinha o braço ao peito. Do alto da minha sapiência digo: “Então? De braço ao peito?” Podia ter dito mil coisas diferentes. Podia inclusive limitar-me a perguntar o motivo daquela situação. Todavia, provavelmente escolhi o desbloqueador de conversa mais ridículo que podia ter usado. Limitei-me a dizer aquilo que os meus olhos observavam a uma curta distância de aproximadamente um metro.

Talvez tenha usado, de forma inconsciente, aquelas palavras por não existir uma grande intimidade entre nós e por saber que assim estaria a dar total liberdade à pessoa em questão para me contar aquilo que quisesse sobre os motivos do seu estado. Acredito ter passado por parvo mas a verdade é que a senhora acabou por contar o que tinha acontecido. Para me tentar redimir, desejei que tudo ficasse resolvido depressa e afastei-me.

A cada passo que dava em direcção ao carro, além de recordar o quão patético tinha sido, não parava de rir ao lembrar-me de outros desbloqueadores de conversa do mesmo gabarito deste. As clássicas frases que surgem quase por obrigação quando o silêncio se torna insuportável ou quando não nos lembramos de nada para dizer. “Este tempo...” é um dos clássicos. “Cá estamos...” é outro dos mais usados ou um simples “então...” Em caso de não existirem palavras, há o típico acenar com a cabeça que pode ser acompanhado de um ligeiro movimento das sobrancelhas. Gesto este que pode ter dezenas de interpretações. Depois de começar o dia assim, só pode ser sempre a subir.