Após alguns minutos de conversa, afastei-me
dele com alegria. Se há pessoa que merece tudo de bom é aquele rapaz, que já
passou por muito. Partilhei a alegria dele e cresceu em mim a satisfação de ser “tio”
novamente.
Ontem, voltei a cruzar-me com este mesmo
amigo. Meteu-se comigo quando eu atravessava a estrada e fui ter com ele ao
carro. Assim que reparei que era ele só me apetecia fazer uma pergunta. Após os
segundos iniciais de brincadeira, perguntei o que mais queria: “Vais ter um
menino ou menina?” Apesar de me ter respondido em centésimas de segundo,
posso jurar que na minha cabeça a resposta dele demorou cerca de três
horas. Ainda não tinha dito qualquer palavra e já sabia que a resposta ia ser a
que menos queria ouvir. “Ela abortou”, disse-me.
Nesta altura, gelei. Fiquei sem saber o que
fazer. Sem saber o que dizer. Sem saber como demonstrar o meu apoio, se é que
posso fazer algo mais. Numa demonstração de força e esperança de mudar de
assunto, ele agarrou-se às estatísticas com um ligeiro sorriso. “Acontece a uma
em cada três mulheres abortar antes dos três meses de gestação”, disse-me. E
antes que pudesse dizer alguma coisa, ele acrescentou: “Agora, continuamos a
tentar” e sorriu.
Depois, aconteceu aquilo que normalmente
acontece quando dois amigos se cruzam e o tema a debater é complicado. Muda-se
de assunto. Fala-se de futebol e dos outros amigos. Não sei porque isto acontece. Talvez por estar tudo dito. Talvez por não querer pisar um assunto
que causa dor a alguém de quem gosto. Talvez por não querer deixar de ver
aquele sorriso, por mais tímido e forçado que possa ter sido naquele momento.
Pela primeira vez, dois encontros com o mesmo
amigo significaram os momentos mais felizes e mais tristes da vida dessa pessoa.
Espero que o próximo seja marcado por mais sorrisos e que ele me diga novamente
“vou ser pai.”
Quando situação similar me acontece ofereço o meu silêncio, o meu abraço com sabor a beijo e linha aberta para o amigo/a falar quando lhe apetecer. Agora para mudar de assunto, os homens falam de futebol, as mulheres não me lembro. Acho que conselhos e sugestões para a pessoa sair e se distrair.
ResponderEliminarFoi o que fiz. E ele sabe que estou aqui para o que for necessário. Mas, realmente, os homens têm têndencia para mudar o assunto e guardar a dor.
Eliminareu não imagino o que se responda a isso.
ResponderEliminarEu aprendi ontem...
EliminarVais ver que da próxima vez ele vai estar feliz, o que te disse de uma em cada três mulheres perder o bebé não é mentira, e oportunidades haverá muitas! :)
ResponderEliminarEspero que aconteça novamente em breve :)
EliminarDa próxima vez que se encontrarem a mulher do teu amigo já vai estar grávida de 6/7 meses e tudo correrá bem, tenho a certeza.
ResponderEliminarEra bom sinal!
EliminarÉ sem duvida um choque...julgo que o silêncio implicito, mesmo que por escassos segundos, já é cumplice. Claro que ele voltará a ser pai mas a dor que ele sentiu e sente não vai esquecer nunca mas irá ser atenuada com muitos filhinhos.
ResponderEliminarPor muito solidários que sejamos, cada um tem que viver a sua própria dor.
Espero que a nova gravidez não demore para que a felicidade volte a reinar.
EliminarHSB
ResponderEliminarAcontece bem mais do que se pensa. Dai muita gente não contar antes das 12 semanas...
Podemos apenas lamentar e mostrar disponibilidade para estar lá, acho...
Duvido que da proxima vez eles já estejam novamente encarrilados porque acho que as vezes os medicos aconselham uma pausa...
Mas vais ver que não tarda serás "tio" novamente...
Tudo de bom!
carla
Ele deveria ter tentado guardar a notícia mas sentiu-se tão feliz que quis partilhar o que sentia. Infelizmente, aconteceu o que aconteceu.
EliminarEspero ser tio novamente em breve :)
compreendo perfeitamente que ele quisesse partilhar antes do tempo. Eu també, o fiz... quando falei nisso foi relativamente a quantidade de perdas que existe,...
Eliminartambém espero ler aqui, em breve, boas novas sobre o teu amigo e a esposa! :)
Obrigado Carla :)
EliminarPassei por essa situação com uma das minhas melhores amigas. A felicidade que senti quando soube da feliz novidade foi inversamente proporcional à dor que senti quando soube da sua não confirmação. Dei-lhe o espaço e o silêncio que julgava necessários, mostrando-lhe numa mensagem que estava com ela naquele momento e que estaria lá QUANDO e SE ela quisesse. Foi o que fez, minutos depois. Falámos longamente sobre o que tinha acontecido, mas sobretudo sobre o sentimento de injustiça que sentia. Disse-me que esse momento ficaria para sempre consigo mas que continuaria a tentar. Assim o fez... Acredito eu e acredita ela que será uma questão de tempo :)
ResponderEliminarFoi o que fiz. Mostrei-lhe que estou aqui para o que for preciso.
EliminarObrigado :)
Beijinho, da próxima corre tudo bem...
ResponderEliminarObrigado Verde.
EliminarA vida tem mesmo destas coisas :( mas o importante (e de certeza que ele sabe disso) é a vossa amizade e concerteza ele sabe que se precisar de algo tu estarás lá! Mudar de tema é o mais normal, sobretudo entre vocês homens...nós mulheres temos mais necessidade de falar das coisas e de mostrar as nossas emoções!
ResponderEliminarEu sei que ele sabe isso. Realmente, os homens tendem a mudar de conversa. É uma forma diferente de lidar com a dor.
EliminarPassei por essa situação, e também tentei novamente e consegui...por 2 vezes! Mas, depois da experiência falhada, nas 2 situações seguintes, por precaução, só dei a noticia quando a gestação já ia nos 6 meses e ai, quando as pessoas perguntavam para quando e lhes dizia que ia nascer dentro de 6 meses, quase sempre questionavam se só as ia avisar quando a criança nascesse!
ResponderEliminar3 meses e não 6 meses, desculpe!
EliminarPodes tratar-me por tu.
EliminarAcho que fizeste muito bem. São situações como esta que me fazem pensar em tratar uma gravidez da mesma forma que tu.
Muito doloroso....
ResponderEliminarPara alguem que queira ter filhos e esteja realmente emplogado com a ideia....perder um bébé com 8/12/ou seja o que fôr...é sempre uma perda....uma grande dor...
Muitas das vezes o aborto é quase como um parto...ou ainda pior são raspagens...horriveis.... não se deve "invalidar" o sofrimneto destes pais.
Lamento muito por eles...e desejo apenas q em breve sejam brindados com uma nova gravidez.
Compreendo o que dizes :(
EliminarEspero mesmo que recebam uma boa notícia em breve. Ele merece, mesmo!
Das coisas mais dolorosas que se tem de dizer... pois cada vez que se diz dói lá dentro! Nunca passei por isso mas já fui mãe e digo-te que desde que se engravida já é tão nosso... perdê-lo deve ser a maior dor do mundo.
ResponderEliminarTens razão. Assim que acabei a pergunta, vi que ele mudou por completo. Era só dor e tristeza :(
EliminarIsto acontece porque a grande maioria dos homens tem alguma dificuldade em falar sobre aquilo que sente. Vocês sabem e sentem que tem de lidar com os problemas sozinhos e que só em ultima instancia desabafam com alguém.
ResponderEliminarSão criaturas adoráveis e que quando nos amam de verdade se tornam cavaleiros de armaduras reluzentes!
beijinho!
Eu sou como dizes. Poucas são as pessoas que podem dizer que sabem quando estou mal.
EliminarPosso estar muito mal mas com o maior sorriso para que ninguém saiba o que sinto. Quando estou sozinho, tudo muda!
beijo
Ando a escrever um pouco abrazileirado... valha-me a paciência!
EliminarNós as mulheres devíamos todas entender isso... que vocês sentem tudo aquilo que nós sentimos só que de uma outra maneira, perspectiva... a vossa perspectiva!
Cada ser humano tem a sua natureza, forma de estar e sim, o homem é como um elástico... estica, estica, estica... e quando precisa estar só, fica mesmo só, não adiantando nada perguntar, telefonar ou tentar iniciar um diálogo!
Nestas alturas o importante é dar apoio e saber ouvir... ouvir é o segredo!
beijo!
Acho que isso não é só de mulheres ou de homens..Eu sendo mulher sou assim como o HSB poucos sabem quando estou mal,porque o sorriso continua.
EliminarÁs vezes custa ser assim mas prefiro que não sintam a minha dor.
EliminarOlha, entre o meu filho mais velho e a minha 2ª filha tive QUATRO, QUATRO abortos seguidos...chamaram-lhe abortos de repetição... e é tramado...é horrível!Quando o voltares a ver dá-lhe a dica para mimar muito a mulher e lhe dar muito colo, que é o que mais precisamos nesses momentos.
ResponderEliminarHoje temos 4 filhos, maravilhosos, mas a vivência das 3 ultimas gravidezes era sempre um stress...
E o mais triste no meio disto tudo é que as pessoas desvalorizam o aborto quando é às primeiras semanas, mas desde o instante em que se sabe que estamos grávidas, aquele embrião já é um bebé, já é o nosso filho, já tem um nome...doi que se farta!
Depende da forma como as pessoas encaram a gravidez.
EliminarQuando é desejado, no momento que o óvulo é fecundado já é um filho, já é uma vida. Quando não é... bem, o resultado está à vista...
jingas
Obrigado Carla!
EliminarÉ bom saber que apesar de tudo não desitiram e que hoje têm essa família numerosa :) Fico feliz.
Obrigado pelas dicas.
4 seguidos? Irra!
EliminarQuando decidimos ter o 2º filho a pressão ainda é maior.
Eu passei a 2ª gravidez (de termo! na realidade já ía na 4ª) com medo de voltar a passar por isso e com medo de ser necessário explicar isso à pipoca. Tinha quase 4 anos e viveu a gravidez do mano tão ansiosa por o conhecer :)
Mas parabéns pela grande família :)
É isso mesmo. Parabéns!
EliminarÉ o sonho transformado em pesadelo...
ResponderEliminarMas eles podem voltar a tentar e conseguir.
Há muitos que nem essa esperança têm...
Muita força ao casal.
Foi o que ele me disse. Continuamos a tentar :)
EliminarObrigado Jingas.
Eu só consigo neste momento escrever... Um abraço!
ResponderEliminarObrigado Libelinha!
EliminarNesses casos, os nossos amigos sabem que sentimos o que as palavras não conseguem transmitir.
ResponderEliminarPara a próxima pode ser: são gémeos!
Tens razão. Adorava que assim fosse :)
EliminarParece-me que demonstraste o teu apoio da melhor forma que o podias ter feito, estiveste lá a ouvir e a acompanhar o teu amigo até ao momento em que ele decidiu calar a sua emoção. Aí estiveste lá a partilhar o seu silêncio.
ResponderEliminarE se fosse preciso passava horas com ele nesse silêncio.
Eliminarinfelizmente, acontcee muito... as minhas duas irmãs mais velhas tiveram cada uma um e foi muito duro, mas hoje uma tem dois filhos e a outra uma filha e são todos saudáveis e engraçados e bem-dispostos e felizes :) às vezes não há nada a dizer. há abraços, conversas para nos esquecermos da tristeza e sorrisos. e é o melhor que podemos dar :)
ResponderEliminarÉ esse o espírito. Fico feliz pelas tuas duas irmãs :)
EliminarNão se fala nisso até nos acontecer.
ResponderEliminarA mim, foram 2 vezes seguidas.
A 1ª foi difícil. Não conhecia as ditas estatísticas e dei por mim a ouvir desabafos de um montão de mulheres que tinham passado pelo mesmo.
Não se sabe porque acontece. É a natureza a resolver qualquer coisa que não está bem. Mas nós, futuras mães e futuros pais não conseguimos ver as coisas de uma forma tão fria. Aquele "feijãozinho" já é o nosso bebé!
Mas foi mais pacífico porque fui-me apercebendo gradualmente de que a gravidez não ia evoluir.
A 2ª foi de uma violência sem explicação. Deve ter acontecido a poucos dias das 12 semanas quando estava tudo a correr bem e já tínhamos visto o coração a bater. Posso dizer que já tinha passado o susto da 1ª e já estávamos tranquilos. E numa consulta normal, descobrimos que o coração não batia. Não me lembro de quantas horas chorei!
Mas animando a coisa, à 3ª foi de vez e à 4ª também.
E depois de ter a minha pipoca nos braços passei a encarar isso como um momento mau que passei na vida e como estatística.
Podia dizer que a dor passa e a vontade que tenho é a de dizer isso mesmo a quem se vê numa situação idêntica. Mas lembro-me que quando me diziam isso eu não gostava. E é só por isso que não o faço.
Se tudo correr bem, daqui a uns tempos, já terão o seu rebento nos braços e vão pensar assim também :)
E os amigos têm um papel fundamental. Nem que seja só emprestar os ouvidinhos!
O teu testemunho arrepiou-me. Obrigado pela partilha. Talvez seja bom mostrar tudo isto ao meu amigo.
EliminarMuito obrigado.
Fazes bem. Dói muito. Custou-me horrores a ultrapassar. Provavelmente a próxima gravidez será com o coração nas mãos mas depois vai correr bem e quando tiverem o seu bebé nos braços, vai parecer tudo tão longe.
EliminarE eles que não se esqueçam que quando alguém lhes fala nisso com naturalidade não tem a ver com falta de coração ou frieza. É mesmo assim :)
Pensamento positivo :)
Obrigado Risota!
EliminarOlha, a minha mãe por exemplo, esteve grávida 5 vezes, tem 2 filhas. Com 15 meses de diferença! Eu vivi o 5º aborto espontâneo, fui ver a que seria a primeira ecografia, e achei o médico um monstro porque parecia estar ali a abanar à força um pequeno ser que afinal já estava morto. Foi precisamente um abordo espontâneo nos primeiros tempos, mas nunca se está preparado.
ResponderEliminarTenho medo de vir a passar por isso :(
Eliminar...
ResponderEliminarBoa sorte ao teu amigo. Acho que fizeste bem HSB, com a devida sensibilidade a maneira dos gajos.
DESBOCADO!
Obrigado!
EliminarÉ verdade. É a sensibilidade masculina.
É horrível ouvir isto de um amigo/a. Também aprendi o que dizer quando uma amiga partilhou a novidade de estar grávida e pouco tempo depois a infeliz noticia do aborto, foi horrível... Acho que nenhuma palavra serve de consolo, mas na hora consegue-se sempre dar a volta e claro estar aqui para o for necessário.
ResponderEliminarNo meu caso tornou-se um pouco mais fácil, pois fiz questão de os ajudar através do Reiki, o que fez com que lidasse com o tema de uma outra forma, ao que ela agradeceu muito.
Muita força para o teu amigo e para ti, poque quando são amigos também nos dói muito a nós!
Por mais que se queira ajudar, fica-se com a ideia de que qualquer palavra será oca e vazia.
EliminarFalo eu doutra perspectiva: além de dois abortos espontâneos, a minha mãe abortou de gémeos no 8º mês de gestação. Uma infecção urinária e um erro médico fez com que os bebés estivessem mortos quando o médico finalmente se interessou. Para bebés de 8 meses o parto tem que ser feito. A primeira experiência da minha mãe numa sala de partos foi para "dar à luz" dois bebés mortos. Deve ter sido brutal. Depois veio a minha irmã. Depois vim eu. E se os gémeos estivessem cá, duvido muito que eu estivesse.
ResponderEliminarQue dizer? Tudo é o que é e o que tem que ser.
Vai correr tudo bem.
Força nisso, e que se divirtam a tentar :)
Que experiência marcante!!!
EliminarFelizmente para os teus pais, tudo acabou por correr bem contigo e com a tua irmã.