24.10.12

o meu mundo redondo e feito de gomos


As quase duas décadas enquanto jogador de futebol federado deixaram-me muitas memórias. Uma extraordinárias, outras boas, algumas de que me recordo ocasionalmente e outras que prefiro não esquecer porque me fizeram aprender a ser melhor jogador e, mais importante do que isso, melhor pessoa. Talvez por jogar futebol às quartas-feiras, este é o dia em que recordo mais coisas. Estas pequenas memórias são como gomos que cosidos uns aos outros constroem o meu mundo redondo, a minha bola de futebol. Talvez por hoje sentir mais saudades do futebol do que o normal, decidi partilhar aquilo que me enche o coração, aquilo de que me lembro. Não só as coisas boas mas também os meus erros.

Primeira experiência
Devia ter uns dez anos. Fui treinar ao Corroios pela primeira vez. Não fui na altura certa e as inscrições já tinham terminado. O clube tinha o plantel formado e não queriam gastar mais dinheiro em jogadores. O treinador disse-me que podia ficar e que seria inscrito na época seguinte. Como ir aos treinos era um sacrifício para a minha mãe, que ia de autocarro comigo, acabei por desistir. Não do sonho, mas do clube.

Primeiro clube
Na companhia de dois amigos, decidi tentar a minha sorte no Paio Pires Futebol Clube. Chegamos à sede. Olharam para nós com olhos que diziam: estão contratados. O treino é amanhã. "Apareçam", foi o que nos disseram. Assim foi. E tinha razão. Ficamos no clube.

As primeiras praxes
Com apenas 12 anos partilhava um balneário igual ao de qualquer equipa de seniores. As praxes eram muito divertidas. Que saudades desses tempos. Das brincadeiras! Das coisas escondidas. Dos atacadores presos um ao outro. De tudo!

O primeiro jogo
Barreirense – Paio Pires. Domingo de manhã. Recordo o jogo como se fosse agora. O “túnel” de acesso ao campo. As palavras do treinador. O jogo. E o resultado 0-0. E ainda atiramos uma bola à barra. No primeiro jogo defrontei uma das equipas mais fortes e estive perto de vencer.

O primeiro golo
Galitos – Paio Pires. Era o marcador de livres da equipa. Recordo-me de pegar na bola como se ela estivesse agora nas minhas mãos. Livre no meio campo ofensivo do lado esquerdo. Já perto da área. Tomo a opção de fazer um cruzamento a pensar colocar a bola no segundo poste. Pensei: “Se ninguém tocar, vai à baliza.” Assim foi. Ninguém tocou. E marquei o meu primeiro golo.

O primeiro hat-trick
Samouquense – Paio Pires. A jogar a defesa-central marquei os meus primeiros três golos num jogo. O jogo estava fácil e ganhamos por 7-0. Estava a gostar tanto daquilo que já nem defendia. O treinador bem gritava mas eu queria era jogar e marcar golos.

A primeira expulsão
Nunca fui adepto de injustiças. Só que não sabia lidar com elas no início. Um colega meu foi agredido. O árbitro não viu e não expulsou o outro jogador. Aquilo irritou-me e fui logo colar-me a ele. Parecia a sua sombra. Numa altura em que pensava que ninguém estava a olhar, fiz-lhe uma rasteira. O fiscal de linha viu e mostrou-me o cartão vermelho. Três jogos sem jogar ensinaram-me muito.

O sr. Pichas
Um dos funcionários mais simpáticos que conheci. Era dirigente do Paio Pires. Era aquele senhor que nos dizia sempre: “menino, meta a camisolinha para dentro.” Com ele não havia volta a dar. Camisola para dentro, meias para cima e mais nada. Este senhor, segundo sei, já faleceu para grande tristeza minha.

O melhor balneário
O do Paio Pires, quando era puto. Perdia quase sempre mas toda a gente se dava bem. “Quando chego a casa, a minha mãe já não pergunta se ganhei. Pergunta logo por quantos é que perdi”, dizia um colega meu. Os resultados eram os piores mas a amizade reinava.

O momento belisca-me
Num dia de chuva, ainda no Paio Pires, defrontei a melhor equipa do Amora (eles tinham duas para cada escalão. Uma jogava no Nacional, outra no Regional). Fiz um dos jogos da minha vida e empatamos 0-0. No final do jogo sou abordado por um senhor que me cobre com um chapéu de chuva ainda na lama. “Queres jogar no campeonato nacional no próximo ano? Então vem para o Amora.” Disse logo que sim. Foi a minha primeira transferência. Sem qualquer entrave do clube. Algo que não se repetiu ao longo dos anos.

Para não ser muito maçador, fico-me (agora) por aqui. Estes são apenas alguns gomos de uma bola gigantesca. Há muito para contar. Muitos sorrisos para partilhar, muitas lágrimas para limpar e muitos memórias para libertar. Se quiserem, a minha bola será também vossa. Todos os gomos, um a um.

29 comentários:

  1. Adoro recordações!

    É com estas pequenas (grandes) lembranças que escreves a tua história no futebol e se percebe perfeitamente a tua adoração por este desporto!

    Bom jogo! ;)

    ***

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  2. Tens de continuar a partilhar

    DESBOCADO!

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  3. Belos momentos... Belas memórias!
    Conta mais ;)

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  4. Belos relatos de recordações.. . Partilha sempre que quiseres :)

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  5. Continuava a ler por mais uma hora... podes partilhar mais à vontade.

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  6. Continuava a ler por mais uma hora... podes partilhar mais à vontade.

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  7. Que belas memórias:) Obrigada pela partilha! Está percebido a tua paixão pelo futebol. É algo que faz parte de ti!

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  8. Ena pá!!! O que perdi por n ir ver um joguito dos Galitos em Paio pires, essa bela terra (desculpa mas não gosto nada) onde andei perdida sete anos da minha vida...

    Lanço-te um desafio. Qual o nome de rua mais engraçado de Paio Pires, em que até os habitantes devem ter vergonha em mencionar. :)

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    1. Mora tão perto e desconheço! não te esqueçar de postar isso.

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    2. O jogo com o Galitos foi no campo do Galitos e não em Paio Pires. Não sei o nome da rua porque só jogava lá. Não fazia vida lá e desconheço o nome das ruas. Mas deve ser algo interessante.

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    3. Por acaso a rua ficava perto do estádio.
      E o nome da rua é: Rua Professor Paulo Assunção Bagina (Paio Pires).

      :

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    4. HAHAHAHAHA Assunção :)
      Agora a sério, tive um amigo chamado Bagina e ele odiava que lhe chamassem por esse nome.

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  9. Obrigada por partilhares os gomos da tua via connosco, os teus leitores. Continua, é um prazer saber-te a descascar mais um gomo :)

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  10. Epah conta mais...
    Os galitos, passo pelo campo todos dias, quer apanhe a 25 ou a Vasco, todos os dias ali passo e olho para lá não sei porquê? "Ca granda" campo, o do Paio Pires desconheço.
    Assim que comecei a ler o 1º jogo e vi Barreirense pensei que tinhas levado um cabaz, mas afinal não...

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    1. Era raro o jogo no campo do Galitos em que a bola não ia para a estrada :)

      O do Paio Pires é um campo muito bom, sobretudo agora que tem relva artificial.

      O Barreirense tinha uma equipa muito forte. Sempre tive mas posso dizer que nunca perdi com eles. Nem no Paio Pires e muito menos no Amora.

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    2. Do Amora conhecia o "Faquinha", Márcio qualquer coisa, andou comigo na 1ª, jogou contra o Benfas para a Taça e levou alguns 7, és desse tempo?

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    3. Nessa altura era junior ou juvenil. Fomos todos aos estádio ver o jogo.

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    4. Que grande jogo, foi um bailinho e gritas-te nos golos ou "tiveste-te" que te conter? com o mister ali ao lado :)

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  11. Por mim deves continuar a partilhar estes momentos ;)

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  12. Olá,
    Ao "ouvi-lo" contar esses episódios relembro os tempos em que acompanhei o meu filho enquanto jogou no Vilanovense e no Boavista como avançado. Cheguei a ir a Praga e a Manchester ao torneio da Nike e traz-me alguma nostalgia (mesmo para quem como eu não gosta de futebol)pois torcia e sofria todos os jogos. Em miúdos, jogam com um empenho e entrega, como muitas vezes não se vê nos profissionais. Hoje ele, com 21 anos (e depois de ter sido operado ao ligamento cruzado anterior do joelho direito), joga no Fiães sem ilusões. Enfim é o futebol.
    Um abraço para si.
    Alexandra Anjos

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    1. Ten razão em tudo Alexandra. E trata-me por tu. Os meus pais também andavam sempre comigo para todo o lado. E isso é muito importante. Não descansava enquanto não os visse.

      beijo

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