23.5.13

agora escrevo eu #14


Há alturas em que percebemos que vale a pena ter um blogue. E o Jhonatan Matos proporcionou-me um desses momentos. Apesar dos milhares que quilómetros que nos separam, o Jhonatan descobriu o blogue e ficou animado com a ideia de “interagir com um blogueiro do outro lado do Atlântico ” Autor do blogue Estilhaços Mentais, partilhou uma bela crónica, intitulada observação, já publicada no seu blogue.

Não sei o impacto que o texto terá em quem o ler. Quanto a mim, fiquei com vontade de conhecer a Anne, beber uma (ou várias) cerveja e até dançar ao som dos ritmos quentes do Brasil no tal Bar do Bamba. Só dispensava os cigarros que fuma.

"Crônica noturna: observação

Eu a observava.
O seu cigarro despejava uma fumaça dançante e a sinfonia de vozes, nas mesas do excêntrico bar, formavam uma harmonia de gargalhadas embriagadas. O estabelecimento em que a moça, chamada Anne, se encontrava era conhecido, singelamente, como “Bar do Bamba” e carregava elementos contidos na noite da Ilha da Magia como misticismo, encanto, anarquia e pluralidade. Nesse ambiente, as tribos se chocavam, não com violência, mas com presença de espírito. Ah, o espírito. Esse parecia não estar preso as convenções de uma sociedade engravatada e amarrada pela rotina, mas sim livre para gritar e beber.
Anne estava acompanha apenas por uma cerveja e seus cigarros. Os goles e tragadas eram seus gestos mais comuns. O batom vermelho e sua maquiagem escondiam os cílios tristes e solidão desesperada, seu vestido preto, magnificamente justo em seu corpo curvilíneo, também escondia a angústia da menina que se banhava, sozinha, sob a luz das velhas luminárias do bar. A donzela do batom vermelho era fuzilada pelos sedentos olhares masculinos e pela contida inveja das mulheres. Sim, Anne era linda de um jeito original: sua delicadeza era agressiva, o penetrante olhar era disperso, sua ofegante respiração era suave, os movimentos eram cuidadosamente desastrosos e sua deselegância era fina.

Quando a madrugada começava a rasgar a noite, Anne se levantou. Para a donzela foi um dia qualquer. Ela chegou com sua sensualidade despretensiosa, bebeu uns drinks, fumou o velho e habitual cigarro adocicado e foi embora. Para mim foi arte. Estilhaços que agora sobrevivem, somente, no diário de um boêmio.”

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