2.5.13

uma inesquecível noite de amor


Ela nunca faz barulho. Mas ele ouve-a sempre chegar. O cheiro do seu perfume é inconfundível. O aroma fresco e doce que o conquista dá-lhe o sinal de que ela está próxima. Quanto maior a intensidade, maior a proximidade. Ele nunca se lembra do nome do perfume. Sabe apenas que é dos mais vendidos. Mas a conjugação perfeita do aroma fresco e doce com o corpo dela confere-lhe algo único. Para ele, aquele perfume é ela. Só existe nela. E só resulta com ela. É aquilo que a distingue das outras mulheres. É por isso que a reconhece, mesmo com os olhos fechados.

Deitado no seu quarto e de olhos fechados, ele sente o tal aroma. Sabe que ela se aproxima. E o tempo necessário para ela chegar perto dele é mais do que suficiente para que ele a imagine detalhadamente. Consegue recordar-se dos cabelos castanhos e lisos que lhe cobrem ligeiramente os ombros. De lhe dizer que prefere que ande com o cabelo solto. Do brilho e beleza dos olhos. De lhe pedir que nunca os feche para que o mundo não perca encanto. Da sensualidade que emana de cada traço e curva do seu corpo. E também do seu toque. Da suavidade única de cada um dos seus dedos. Dos arrepios que sente sempre que ela lhe sussurra ao ouvido. Ou quando as mãos dela percorrem o seu corpo. Para ele, é também impossível não se lembrar da sensação de paz que o consome quando os seus dedos se entrelaçam com os dela.

Como está no seu quarto, também se lembra da primeira vez deles. Porque foi ali que aconteceu. Foi ali que ele a despiu. Bastaram dois toques e alguns segundos para que o vestido dela passasse a ser um pequeno monte de tecido que cobria parte do chão do quarto. Foi ali que ela sorriu perante a destreza dele ao soltar o soutien com um simples toque. Foi também ali que ele se afastou dela quando a viu nua pela primeira vez. Recorda-se ainda do ar assustado dela enquanto ele se afastava. E ri quando se lembra do respirar fundo dela assim que ele disse: “estou a afastar-me de ti para te admirar de modo a nunca mais te esquecer.” Também lhe vem à memória o momento em que os corpos se uniram pela primeira vez. E o sabor, cuja definição permanece um mistério por falta de palavras, dos seus beijos. Ele não acredita na perfeição. Nunca acreditou. Mas sente que o mais próximo que está daquilo em que não acredita é quando ela está por perto.

Ele continua a sentir o aroma dela. Cada vez mais intenso. Mas sabe também que ela não se vai aproximar. Nem hoje. Nem amanhã. E muito dificilmente ao longo do próxima semana. Mês. Ou ano. Mas não se sente enganado. Porque sabia disso quando se quis aproximar dela. Sabia que ela estava de partida. Para muito longe. E depressa demais para que a história deles permitisse largar tudo por ela. Sabia que seria apenas uma noite de amor. Talvez amor seja muito forte. Uma noite marcada por um desejo intenso é mais acertado para aquilo que aconteceu. Ele também sabia que, ao acordar, provavelmente teria apenas como recordação o aroma nos lençóis e almofada. Sabia porque ela confessou não ter jeito para despedidas. Também não havia um bilhete com palavras lamechas ou mesmo um número de telefone. Ambos acordaram que isso iria complicar ainda mais as coisas. Bastava-lhe saber o país e cidade para onde ela partiria em breve.

O que ele desconhecia é que iria ficar preso nela e naquele aroma. Não sabia que depois de lavar os lençóis dezenas de vezes iria continuar a sentir o seu cheiro, como se ela ainda estivesse a seu lado. Mas, agora que lida com essa realidade, voltaria a viver tudo, da mesma forma. Não mudaria nada. Porque tem a certeza que ela será sempre sua. Mesmo estando longe. Mesmo podendo estar com outro homem. Para ele, ela será sempre dele. Para ele, a força das memórias daquela noite que ambos viveram e os sorrisos motivados por aquela noite são muito mais intensos do que a dor da sua ausência. Ele prefere a dor da saudade do que viver sem saber como seria o seu toque e sabor. E agora vive com uma única certeza. É que a história deles ainda não acabou.

41 comentários:

  1. E como um toque qualquer de qualquer coisa, eu reconheço este texto.

    Muito bom, hsb :)

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    1. É bom saber que sentes isso em relação ao texto :)

      Obrigado

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  2. Ah e tal...tas um Nicholas Sparks wannabe HsB ;)

    Uma vez mais aprecio a maneira como terminas as tuas estorias, pois detesto os tipicos "viveram felizes pra sempre" que nc combinam com a realidade.

    PS:Espero que nao t importes que plagie um paragrafo?!

    Abraço

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    1. Isso são apenas algumas ideias soltas que acabam por "morrer" aqui.

      Ainda bem que gostaste. Podes, desde que menciones a origem.

      Abraço

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    2. "morrer aqui" não... Então? quero ler o resto!

      Beijinhos!

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  3. também tenho a certeza que a história deles não acabou :)) o que tiver que ser, será, sempre
    Gostei tanto do texto. Obrigada por partilhares

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  4. Excelente.

    Beijinho

    Ps: Gostei do blog

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    1. São apenas umas ideias soltas.

      Obrigado pelas tuas palavras.

      beijos

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  5. Mais uma vez brilhante, HSB :)

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  6. Gostei tanto desta noite de amor... :) Ele tem que ir atrás dela! ;)

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    1. Há coisas que estão destinadas a acontecer e que não dependem do ir atrás ;)

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    2. Não, não. Eu queria um final feliz... please ;)

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  7. O texto é bom, parabéns! Mas, lá vou eu ser do contra, isto não existe... Só na ficção.

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    1. Achas mesmo que só acontece na ficção?

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    2. tenho a certeza. Não existe um sentimento assim...Neste assunto sou como S. Tomé... e até agora nunca vi nenhum caso destes, já li muitos mas ver...não vi.

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  8. Mais uma vez, adorei!
    Obrigada por partilhares, são minutos do meu dia, em que me esqueço onde estou.
    Bjs

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    1. Que elogio maravilhoso. Fiquei sem palavras.

      Obrigado

      beijos

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    2. Ah ah ah, o HSB sem palavras, que ironia :)
      Logo tu, que tens o mundo na ponta dos dedos :)

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    3. Isto de ter um computador a separar duas pessoas é um grande escudo :)

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  9. O menino está proibido de fazer chorar às 2h da manhã (hora em que li).
    Não há palavras para descrever esta "estória" ou "história"?
    Fizeste-me lembrar um autor que gosto muito e português: Tiago Rebelo.

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  10. :) muito bem, na verdade há memórias, cheiros, gestos que nunca se esquecem, para alguns são os seus "fantasmas" de estimação :)

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    1. São uns fantasmas tão bons. Recordam a infância, pessoas especiais, locais mágicos e por aí fora.

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  11. Adorei o texto... Fiquei sem palavras... Deu-me cá um aperto no peito, nem sei explicar. Sou uma pessoa céptica, não acreditava em amor à primeira vista. Acho sempre que é só uma atracção que se prolonga e se transforma... Mas depois vi-o e deixei-me levar... Cinco meses depois ainda não me saiu da cabeça a noite em que fomos um do outro, mesmo sabendo que um oceano nos separa e tudo aconteceu "depressa demais para que a história deles permitisse largar tudo por ele".
    Na minha história o final não foi feliz...

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