Ela nunca faz barulho. Mas ele ouve-a
sempre chegar. O cheiro do seu perfume é inconfundível. O aroma
fresco e doce que o conquista dá-lhe o sinal de que ela está
próxima. Quanto maior a intensidade, maior a proximidade. Ele nunca
se lembra do nome do perfume. Sabe apenas que é dos mais vendidos.
Mas a conjugação perfeita do aroma fresco e doce com o corpo dela
confere-lhe algo único. Para ele, aquele perfume é ela. Só existe
nela. E só resulta com ela. É aquilo que a distingue das outras
mulheres. É por isso que a reconhece, mesmo com os olhos fechados.
Deitado no seu quarto e de olhos fechados, ele sente
o tal aroma. Sabe que ela se aproxima. E o tempo necessário para ela
chegar perto dele é mais do que suficiente para que ele a imagine detalhadamente. Consegue recordar-se dos cabelos castanhos e lisos que
lhe cobrem ligeiramente os ombros. De lhe dizer que prefere que ande
com o cabelo solto. Do brilho e beleza dos olhos. De lhe pedir que
nunca os feche para que o mundo não perca encanto. Da sensualidade
que emana de cada traço e curva do seu corpo. E também do seu
toque. Da suavidade única de cada um dos seus dedos. Dos arrepios
que sente sempre que ela lhe sussurra ao ouvido. Ou quando as mãos
dela percorrem o seu corpo. Para ele, é também impossível não se
lembrar da sensação de paz que o consome quando os seus dedos se
entrelaçam com os dela.
Como está no seu quarto, também se
lembra da primeira vez deles. Porque foi ali que aconteceu. Foi ali
que ele a despiu. Bastaram dois toques e alguns segundos para que o
vestido dela passasse a ser um pequeno monte de tecido que cobria
parte do chão do quarto. Foi ali que ela sorriu perante a
destreza dele ao soltar o soutien com um simples toque. Foi
também ali que ele se afastou dela quando a viu nua pela primeira
vez. Recorda-se ainda do ar assustado dela enquanto ele se afastava. E ri
quando se lembra do respirar fundo dela assim que ele disse: “estou
a afastar-me de ti para te admirar de modo a nunca mais te esquecer.”
Também lhe vem à memória o momento em que os corpos se uniram pela primeira vez. E o sabor, cuja definição permanece um mistério
por falta de palavras, dos seus beijos. Ele não acredita na
perfeição. Nunca acreditou. Mas sente que o mais próximo que está daquilo em que
não acredita é quando ela está por perto.
Ele continua a sentir o aroma dela.
Cada vez mais intenso. Mas sabe também que ela não se vai
aproximar. Nem hoje. Nem amanhã. E muito dificilmente ao longo do
próxima semana. Mês. Ou ano. Mas não se sente enganado. Porque
sabia disso quando se quis aproximar dela. Sabia que ela estava de
partida. Para muito longe. E depressa demais para que a história
deles permitisse largar tudo por ela. Sabia que seria apenas uma
noite de amor. Talvez amor seja muito forte. Uma noite marcada por um desejo intenso é
mais acertado para aquilo que aconteceu. Ele também sabia que, ao
acordar, provavelmente teria apenas como recordação o aroma nos
lençóis e almofada. Sabia porque ela confessou não ter jeito para
despedidas. Também não havia um bilhete com palavras lamechas ou
mesmo um número de telefone. Ambos acordaram que isso iria complicar
ainda mais as coisas. Bastava-lhe saber o país e cidade para onde ela partiria em breve.
O que ele desconhecia é que iria ficar
preso nela e naquele aroma. Não sabia que depois de lavar os lençóis
dezenas de vezes iria continuar a sentir o seu cheiro, como se ela
ainda estivesse a seu lado. Mas, agora que lida com essa realidade, voltaria a viver
tudo, da mesma forma. Não mudaria nada. Porque tem a certeza que ela
será sempre sua. Mesmo estando longe. Mesmo podendo estar com outro
homem. Para ele, ela será sempre dele. Para ele, a força das
memórias daquela noite que ambos viveram e os sorrisos motivados por
aquela noite são muito mais intensos do que a dor da sua ausência.
Ele prefere a dor da saudade do que viver sem saber como seria o seu
toque e sabor. E agora vive com uma única certeza. É que a história
deles ainda não acabou.
E como um toque qualquer de qualquer coisa, eu reconheço este texto.
ResponderEliminarMuito bom, hsb :)
É bom saber que sentes isso em relação ao texto :)
EliminarObrigado
Ah e tal...tas um Nicholas Sparks wannabe HsB ;)
ResponderEliminarUma vez mais aprecio a maneira como terminas as tuas estorias, pois detesto os tipicos "viveram felizes pra sempre" que nc combinam com a realidade.
PS:Espero que nao t importes que plagie um paragrafo?!
Abraço
Isso são apenas algumas ideias soltas que acabam por "morrer" aqui.
EliminarAinda bem que gostaste. Podes, desde que menciones a origem.
Abraço
"morrer aqui" não... Então? quero ler o resto!
EliminarBeijinhos!
Vamos ver no que dá...
Eliminarbeijos
também tenho a certeza que a história deles não acabou :)) o que tiver que ser, será, sempre
ResponderEliminarGostei tanto do texto. Obrigada por partilhares
Obrigado eu por leres. E a história deles não acabou :)
EliminarBelíssimo..
ResponderEliminarExcelente.
ResponderEliminarBeijinho
Ps: Gostei do blog
São apenas umas ideias soltas.
EliminarObrigado pelas tuas palavras.
beijos
Mais uma vez brilhante, HSB :)
ResponderEliminarFico sem jeito :)
EliminarTexto fantástico, parabéns!
ResponderEliminarObrigado Roger!
EliminarFantástico, adorei.
ResponderEliminarFico muito feliz por isso.
EliminarGostei tanto desta noite de amor... :) Ele tem que ir atrás dela! ;)
ResponderEliminarHá coisas que estão destinadas a acontecer e que não dependem do ir atrás ;)
EliminarNão, não. Eu queria um final feliz... please ;)
EliminarE terás um final feliz ;)
EliminarO texto é bom, parabéns! Mas, lá vou eu ser do contra, isto não existe... Só na ficção.
ResponderEliminarAchas mesmo que só acontece na ficção?
Eliminartenho a certeza. Não existe um sentimento assim...Neste assunto sou como S. Tomé... e até agora nunca vi nenhum caso destes, já li muitos mas ver...não vi.
EliminarMas eles andam aí...
EliminarMais uma vez, adorei!
ResponderEliminarObrigada por partilhares, são minutos do meu dia, em que me esqueço onde estou.
Bjs
Que elogio maravilhoso. Fiquei sem palavras.
EliminarObrigado
beijos
Ah ah ah, o HSB sem palavras, que ironia :)
EliminarLogo tu, que tens o mundo na ponta dos dedos :)
Isto de ter um computador a separar duas pessoas é um grande escudo :)
Eliminar:) muito bom
ResponderEliminarObrigado :)
EliminarO menino está proibido de fazer chorar às 2h da manhã (hora em que li).
ResponderEliminarNão há palavras para descrever esta "estória" ou "história"?
Fizeste-me lembrar um autor que gosto muito e português: Tiago Rebelo.
Desculpa!
EliminarÉ bom saber que gostaste da história :)
Adorei =)
ResponderEliminarAinda bem :)
Eliminar:) muito bem, na verdade há memórias, cheiros, gestos que nunca se esquecem, para alguns são os seus "fantasmas" de estimação :)
ResponderEliminarSão uns fantasmas tão bons. Recordam a infância, pessoas especiais, locais mágicos e por aí fora.
EliminarAdorei.
ResponderEliminarIsso deixa-me muito feliz.
EliminarAdorei o texto... Fiquei sem palavras... Deu-me cá um aperto no peito, nem sei explicar. Sou uma pessoa céptica, não acreditava em amor à primeira vista. Acho sempre que é só uma atracção que se prolonga e se transforma... Mas depois vi-o e deixei-me levar... Cinco meses depois ainda não me saiu da cabeça a noite em que fomos um do outro, mesmo sabendo que um oceano nos separa e tudo aconteceu "depressa demais para que a história deles permitisse largar tudo por ele".
ResponderEliminarNa minha história o final não foi feliz...
Espero que a tua história ainda não tenha um final...
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