“aquele” amor que dá sentido à vida

O principal ponto de equilíbrio da vida de qualquer pessoa é o seu próprio umbigo. Se uma pessoa não estiver bem, dificilmente poderá fazer com que aqueles que o rodeiam se sintam bem. O bem estar pessoal depende da pessoa. Cada caso é um caso. Para muitos, o bem estar passa pela melhor moradia com a melhor localização. Mesmo que esteja vazia. De pessoas e de sentimentos. Para outros, o bem estar é o carro com mais cavalos do mercado. Mesmo que sirva apenas para viajar sozinho e com plásticos nos estofos para não estragar o interior da viatura. Há ainda aqueles para quem o bem estar passa pela solidão. Seja porque têm medo de amar, porque não querem amar ou por outro motivo qualquer que os leva a acreditar que é bom estar sozinho. Mas, para grande parte das pessoas, o bem estar pessoal passa por “aquele” amor que dá sentido à vida. Que transforma o feio em belo. O mau em bom e por aí fora.

Para o último grupo de pessoas, encontrar este amor é a missão de uma vida. Um objectivo no qual estão sempre a pensar. Algo que, se não for controlado, acaba por se transformar numa obsessão por se achar que só com aquele amor é que a vida fará sentido. Isto leva à criação de uma imagem de perfeição. Imagem essa que não corresponde à realidade. Simplesmente, porque essa perfeição, imaginada por nós, não existe. A obsessão da perfeição faz com que se passe pelo amor de uma vida e não se repare nele. E não se dá conta porque os olhos estão fixos no chão, onde se continua a procurar o tal amor perfeito que ilusoriamente criamos na nossa mente. Por vezes, dá-se mesmo a aproximação de alguém que pode ser o amor de uma vida. Alguém que diz as palavras certas, no momento certo e no local ideal. Mais uma vez, tudo isso passa ao lado. Porquê? Porque a tal obsessão continua a tapar o que está ali... a descoberto. Que sempre esteve. Mas nunca se reparou.

A este problema juntam-se os erros de relações passadas. Passos mal dados que são acidentes de percurso mas que as pessoas tendem a adoptar como regra geral. Como uma maldição que irá assombrar todos os relacionamentos. Nessas alturas, é preciso parar. Limpar a cabeça. Esquecer esses problemas ou pelos menos evitar uma associação à pessoa que se acabou de conhecer. Pessoa que até pode ser a tal mas que já está a ser rotulada de caso perdido por tudo o que referi anteriormente.

Se não existir uma libertação de tudo o que é mau. Se não for colocada de parte a obsessão da relação perfeita, aquela que nos faz sonhar, ninguém será suficientemente bom. Por mais puro que seja o amor ou a atracção entre duas pessoas... a verdade é que nunca será suficiente. Terá sempre falhas, defeitos e outras coisas más. Aspectos que vão influenciar o natural desenrolar de uma relação. Quando, na verdade, “aquele” amor tem falhas, defeitos e outros aspectos que não invalidam que seja o amor de uma vida.

Mesmo assim, querer loucamente “aquele” amor não é um erro. Pensar com frequência nos erros do passado não é um erro. Desejar algo especial não é um erro. Transformar tudo isso numa obsessão que nos controla já é um erro. Porque isso invalida que se reconheça o verdadeiro amor no momento em que ele se cruze connosco. E, aos meus olhos, na minha humilde opinião, ele anda por aí, à espera de ser encontrado. Por todas as pessoas que o desejam.