Recentemente estive à conversa com um homem extraordinário que me relembrou que “a morte é a curva da estrada, morrer é só não ser visto”, em alusão ao poema de Fernando Pessoa. Nessa altura lembrei-me de outra frase que me acompanha diariamente. “Todos os homens morrem mas nem todos vivem”, de William Wallace. Não sei se está relacionado com os tempos difíceis em que vivemos mas estas frases e este tipo de conversas mexem comigo. Deixam-me pensativo. E a questão é sempre a mesma: O que é viver? Pergunta que me leva para outro tipo de dúvidas.
Caso não se verifique uma mudança radical no mundo da ciência, daqui a alguns anos (muitos, de preferência) não estará cá ninguém para contar histórias aos novos que cá vão estar. A esperança média de vida em Portugal ronda os setenta e tal anos. Destes, separam-se os primeiros anos de vida, marcados pela inocência e ausência de preocupações. Os últimos, em alguns casos, podem assemelhar-se aos primeiros tempos. E o resto? O que acontece à maior parte das nossas vidas? Será que aproveitamos esse período para viver?
Será que nos anos “de ouro” das nossas vidas vivemos realmente? Ou será que, de acordo com as palavras de Fernando Pessoa, já estamos mortos pois deixamos de ser vistos? Será viver andar louco enquanto se amealham tostões para comprar um qualquer gadget que nos isola do mundo? Será viver passar a vida a discutir e a falar mal da pessoa do lado? Será viver passar largas horas a esperar que o colega que foi promovido vá de baixa para casa para aquele cargo ficar novamente disponível?
Estudar todos os manuais do mundo que nos ensinam a não errar, seja numa tarefa complicada ou na mais banal ensina-nos a viver? Será viver assumir o papel de um robot que não ri, não chora, não erra, não diz asneiras, não cai ao tropeçar numa pedra, não faz aquilo que não era suposto fazer e que nunca segue o caminho errado? Estar protegido por uma redoma que nos impede de contactar o mundo que nos rodeia será viver?
Tudo isto, para mim, não é viver. É simplesmente existir e percorrer, quase por obrigação, um caminho sem rumo que termina no momento em que nos deixam de ver, que não coincide necessariamente com a morte física. E tenho medo disto! Assusta-me que isto seja o futuro das pessoas. Que passe a ser uma espécie de regra geral de um qualquer manual do saber viver. E temo este cenário porque, não quero deixar de ser visto nem quero deixar de ver aqueles que me rodeiam. Quero valorizar todos os pequenos prazeres da vida. Aqueles que são desprezados por boa parte do mundo e não apenas os momentos de “luxo” que me possam aparecer no caminho. Porque estes são bons, sobretudo para constar num álbum de fotografias. Já os outros, são marcas de uma vida preenchida. Ou não?
Acho que, acima de tudo, cada pessoa tem o seu conceito, muito próprio, de viver. Para algumas pessoas, viver pode ser pôr uma catrefada de filhos no mundo, para outros pode ser tornar-se num empresário de sucesso e para outros pode ser, simplesmente, andar a viajar pelo mundo fora.
ResponderEliminarMas quando falamos daquelas pessoas que vivem em função da infelicidade dos outros, como falas no post, não estamos a falar em viver. Melhor, acho que essas pessoas vivem alimentando-se da vida dos outros...e isso não é, nada mais nada menos, do que triste.
le-laissez-faire.blogspot.pt
Tens razão no que escreves.
EliminarUma pequena rectificação:
ResponderEliminarMelhor, acho que essas pessoas vivem alimentando-se da vida dos outros...e isso é, nada mais nada menos, do que triste.
:)
Muito triste.
EliminarÉ verdade. Ás vezes esquecemo-nos de viver. Estamos demasiado preocupados com a família, com os estudos ou com a carreira e a vida que realmente interessa fica para trás. O pior de tudo é que nem damos por isso. O tempo passa e quando "acordamos" a vida também já passou... isso deve ser muito mau.
ResponderEliminarPor essas e por outras é que eu tento viver a minha vida intensamente e aproveitar a grande aventura que é viver. Viver os bons e os maus momentos, mas vive-los sempre em pleno.
Lá diz o ditado : "Morra marta, mas morra farta"
Na minha opinião fazes muito bem :)
EliminarViver não será nada mais nada menos do que fazer aquilo que nos faz feliz?
ResponderEliminarAcho que sim!
EliminarFaço apenas uma questão será que vão haver novos para ouvir histórias?
ResponderEliminarJá agora, segundo a ordem de pensamento de Fernando Pessoa, a cantora Tina Turner então há muitos anos que deixou de viver! Sinceramente, há os ditos idosos que são mais jovens que muitos jovens, que aceitam as diferenças com mais facilidade do que seria esperado, porquê? Porque já viram e viveram muito, porque sofreram, porque choraram... passaram fome, maus tratos... enfim... tanto!
Um beijinho e bom fim de semana!
Vão haver. Se têm disponibilidade para histórias é outro assunto...
EliminarAdoro esse tipo de "idosos"
beijos e bom fim-de-semana
Mas Vadia eu passei 2/3 da minha vida a estudar e a trabalhar, 1/3 a dormir e lazer e considero que "vivi" porque tudo o que fiz fi-lo com prazer, vontade e alegria : estudar, trabalhar, dormir e divertir-me...tudo me deu (e dá) imenso gozo!
ResponderEliminarSerá que já estou pronta para morrer? ;-)
EliminarAinda bem que te deu gozo.
EliminarQuanto a ti não sei mas eu julgo que nunca poderei dizer isso. Terei sempre muito para fazer.
Vive-se sempre que se deixa algo, que se constrói que se continua a sonhar apesar de todas as contrariedades e sofrimentos e se procura ser feliz. Quem não desiste de si próprio dos sonhos por mais utópicos que sejam e faz do errado certo e do certo errado sem medo de arriscar para mim vive.
ResponderEliminarViver não tem idade, é sim uma forma de estar por isso há os novos velhos e os velhos novos. Há os que vivem como nunca terem vivido,para mim vegetam. Não tenho medo da morte porque me preocupo todos os dias em viver e da melhor forma que me fôr possivel, do sofrimento por doença isso sim tenho muito medo, confesso!
Viver para mim não passa certamente por me preocupar com a vida dos outros por inveja, ciúmes ou outro aspecto negativo preocupo-me com os outros como forma de os fazer felizes porque eles são no fim o contexto onde me insiro porque eu preciso deles e eles de mim. Acho que no dia em que pensar que nada mais terei que fazer, que não poderei contribuir de alguma forma para ninguém nem para mim própria, nesse dia , sim morrerei mesmo que fisicamente continue a existir.
Obrigado pelo teu texto :)
EliminarGostei e penso o mesmo.
Viver não tem limites...interessa aproveitar mesmo enquanto cá estamos, deixar a nossa marca à nossa maneira porque todos somos diferentes:) Apreciar as coisas simples e boas da vida enquanto cá estamos ...
ResponderEliminarMuito importante: deixar a nossa marca!
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