Destas notícias, nenhuma me chocou tanto como um pequeno texto que passa quase despercebido no fundo da página dezanove. Naquelas dezoito linhas é feita uma notícia, de pequena dimensão mas gigantesca importância, com base na página de Facebook de Anabela Rocha, uma simples professora de filosofia do 11º ano.
“Doente. Depois da desistência de dois alunos porque não têm
dinheiro para o passe, hoje (20 de Novembro) um aluno desmaiou na aula por
fome. Num 11º ano. Em Lisboa. Portugal. 2012?”, são as palavras que a
professora usou para demonstrar a sua revolta.
Isto choca-me. Isto assusta-me. Isto é muito grave. Seja em que circunstância
for, saber que um jovem de 16/17 anos desmaia por fome é deveras assustador.
Saber que foi na principal cidade do país é ainda mais dramático. Não se trata
de uma aldeia onde existem poucas pessoas e onde a crise é ainda mais
acentuada. Nem se trata de um petiz da primária que após poucas horas sem
alimentação dá sinais de fraqueza. Trata-se de um “quase homem” cujo corpo
atingiu o limite do suportável.
Hoje, dia em que os estudantes decidiram protestar, esta notícia
deixou-me de rastos. Será este o caminho da vida académica, dos adolescentes e
jovens? Crianças que deixam de estudar porque os pais precisam de mais um
salário para pagar as contas. Pior ainda. Jovens que passam o dia todo sem
comer, passando todos os segundos do dia a pensar na hora da próxima refeição
enquanto se dedicam a outras tarefas como os estudos.
E se isto acontece em Lisboa, como será naquelas pequenas aldeias
que nem sequer chegam a fazer parte das notícias. Este tipo de coisas revoltam-me,
assustam-me e preocupam-me. E fico assim porque quero ser pai. Porque coisas destas fazem com que tema o futuro. E porque, em momentos como este, a
minha cabeça fica repleta de dúvidas e medos. E a tristeza toma conta de mim.
As coisas não são como as pessoas as pintam. Muito menos quando são os professores. Eu ando no 12º ano e desde o 3º ciclo que vejo colegas meus, a quem os pais dão dinheiro todos os dias para comerem, a abdicarem da comida para poderem fumar ou comprar outro tipo de coisas. As pessoas é que agora querem pegar nisso como "efeito da crise".
ResponderEliminarDesculpa Ana de Oliveira mas e a criança cuja escola primária no Algarve a colocou numa sala sozinha com uma carcaça e não lhe serviu o almoço porque os pais tinham senhas de almoço em divida? Por Deus...essa criança tinha apenas 6 anos...
EliminarOnde é que no texto se falou dessa criança? Estamos a falar de pessoas do secundário, que têm idade para saberem o que fazem e cujas atitudes muitas vezes, tanto os professores como os pais, desconhecem.
Eliminartb me vem ao pensamento a mesma opinião que a da Ana oliveira, 16 anos já é mto vivido e independente....a minha mais velha, 13 anos, leva lanche para a escola e tem os colegas tal abutres de volta dela a pedir um pouco do lanche para depois irem comprar doces ao bar
Eliminar( ainda não fumam).
Mas que preocupa e assusta ao que estamos a chegar.
E o outro caso da mãe que acabou por confessar quando chamada à escola( por causa do comportamento e apatia do aluno nas aulas ),que os filhos não comiam em casa a não ser uma pequena refeição porque face ao desemprego os pais não tinham dinheiro para a a alimentação Era o relato público e condoído de um professor que dizia que perante 200 alunos não podia sequer percepcionar situações destas. Claro que sempre houve esses casos que relatas Ana de oliveira, mas há outras situações infelizmente.
EliminarAna, compreendo o que dizes. É uma realidade que vem dos meus tempos de escola e provavelmente antes disso.
EliminarAgora, um jovem de 16/17 anos que desmaia por fome não é porque não lanchou na escola. É porque não come há muito tempo. Esta é a minha opinião. E isso é que me assusta.
Nem imaginas como fiquei ontem quando soube dessa noticia...não tive orgulho nenhum no meu país! A pior miséria está escondida! As pessoas que estão a passar mal de verdade não estão nas filas para a marmita...estão em casa...envergonhadas! Por Deus, tive vontade de gritar "saiam de casa, peçam ao vizinho, a quem quer que seja, somos um povo generoso..."
ResponderEliminarHá pessoas que estão a chegar ao limite. E isto é apenas o princípio do caos.
EliminarHá muita miséria escondida, mesmo ao nosso lado, é assustador pensar que provavelmente já atingimos o topo na linha marginal da qualidade de vida, o futuro será necessariamente pior.
ResponderEliminarPenso nisso que dizes e fico triste e preocupado. Sem saber o que irá acontecer num futuro próximo.
EliminarAssustado!
ResponderEliminarAs coisas andam piorando por todos os lugares!
Aqui também não está diferente. Cada dia que passa somos surpreendidos com coisas inacreditáveis!
Ser professor ( e eu sou) hoje em dia requer muita sabedoria emocional e acima de tudo vontade de mudar o ambiante em que se trabalha, ou ao menos, levar os alunos e perceber que mesmo diante do caos é possível fazer diferença.
Acho que me alonguei!
Fico por aqui!
Abraço!
Não te alongaste em nada. Obrigado pelo teu testemunho. Mesmo.
EliminarSim, isto faz-nos ter muito, muito medo do futuro. Mas, também, ter muita vontade de ajudar. Por isso, por saber que há por aí tantas e tantas crianças com um futuro incerto, e por por agora ter uma vida confortável, tomei finalmente a semana passada a decisão de adotar. :)
ResponderEliminarParabéns Vespinha! Acho uma decisão extraordinária.As maiores felicidades.
EliminarAdorei ler as tuas palavras. Fico feliz por ti. É algo que gostava de fazer. Mas também gostava de ter vários filhos e vejo isto muito mal...
EliminarAinda está tudo muito incipiente, só em janeiro farei uma formação que depois me dará direito a iniciar o processo... e será longo, bem sei, pois vou adotar sozinha. Mas acho que vai ser uma questão de ter paciência! Afinal também os filhos biológicos não vêm logo quando se quer, não é? :)
EliminarDesejo-lhe a maior sorte, vespinha, para tamanho sentimento tão nobre! Há anos que penso nisso...se cada uma de nós cuidasse de uma criança desamparada o mundo seria bem melhor!
EliminarUma boa decisão Vespinha, tenho orgulho no que dizes.
EliminarSinto orgulho em ti Vespinha :)
EliminarIsso assusta-me sim, também soube dessa e doutras noticias semelhantes. A miséria escondida é mais grave porque não reclamando só podemos ajudar quando damos conta em situações extremas como a que contas.
ResponderEliminarSer professor hoje em dia é uma tarefa mito dificil também te digo.
E se ao menos tivéssemos a atingir o limite, mas infelizmente não me parece.. até quando isto é suportável! :(
A continuar assim, cada vez vamos ter menos estudantes pois não há dinheiro para livros, transportes e alimentação.
EliminarVerdade e dói o retrocesso e tudo aquilo que ele significa. Não sou de ficar de braços cruzados mas como sair disto?
EliminarÉ muito complicado.
EliminarQuando vi a notícia esta manhã na tv fiquei paralisada! E a verdade ée que há mais casos deests do que pensamos, situaçõs de pessoas que não sbem ond cortar mais o custos e não têm outra opção senão ir para a alimentação. Assusta-me muito...e assusta-me os nossos políticos assistirem impávidos a isto :(
ResponderEliminarImagino quantos casos destes é que não são tornados públicos :(
EliminarMuito triste mesmo...onde estamos a chegar...
ResponderEliminarHttp://styleloveandsushi.blogspot.com
E para onde vamos...
EliminarTodos os dias surgem notícias destas. Arrepio-me ao ler e dá-me vontade de chorar.
ResponderEliminarCada vez entendo menos este país e não prevejo futuro, quando as crianças/adolescentes e famílias estão a passar fome. Não há "Banco Alimentar" que aguente, nem "Cáritas", nem qualquer outra instituição.
Ontem foi a notícia do "expresso" com uma mãe que não podia levar as bolachas preferidas do menino para casa no hipermercado por ter o dinheiro contado e ir retirando bens alimentares até fazer 70€. Felizmente uma senhora na fila pagou as bolachas do menino... Será que as voltará a comer?
Indigna-me e queria ser milionária para tentar conseguir ajudar pelo menos a combater a fome de crianças e famílias.
Os ministros do governo haviam de ser bombardeados todos os dias com email's deste cariz!!! Mesmo assim penso que não cediam...
Não cedem...
EliminarTenho medo do final desta estrada...
EliminarEu também não gosto do que vejo no final desta estrada, quero acreditar em algo que não sei o quê..:(
EliminarTambém eu.
Eliminaros senhores ministros nao se preocupam com o seu povo, pedem sacrificios mas eles nao dao o exemplo...e infelizmente há muito pobreza escondida por vergonha. Eu tenho uma filha e casa vez mais é dificil gerir um orçamento familiar pobre durante um mês. Eu sou daquelas que tiro da minha boca para dar á minha filha. Mas um dia eu tb posso desmaiar.
ResponderEliminarCada vez que um novo dia nasce, um novo sacrificio é pedido e isto parece nao ter fim e sim estamos no sec XXI.
É assustador.
EliminarAs coisas estão assim, já se podem ler notícias destas tão graves. Se a coisa está longe de acabar, o que mais vamos poder nós ainda ler no futuro??
ResponderEliminarTemo o futuro.
EliminarUma realidade triste e envergonhada que infelizmente não é de agora. Há anos que a conheço na vida de algumas crianças e jovens. Mas de há uns tempos para cá, passou a ter uma dimensão que deixou de poder ficar fechada na casa de cada um e passou a ser mais visível. Em muitos contextos e sobretudo nas escolas. Deixa-me triste e assustada. Não apenas essa realidade que sabemos que existe porque vemos e porque é divulgada, mas também aquela que continua a existir (ainda) apenas do lado de dentro da vida de cada um.
ResponderEliminarTal como tu, fico triste e assustado.
EliminarAcredite que por essas aldeias fora há menos casos destes, porque as pessoas são mais solidárias. Há sempre um prato de comida, uma sopa, um pão com chouriço para dar ao vizinho. Há couves, cenouras, e batatas ali mesmo no terreno ao lado. E há mais solidariedade. Essa ideia de que as "coitadinhas das pessoas das aldeias" passam tanta fominha... é só de quem vive encafuado na cidade e não conhece mais nada para além do burgo.
ResponderEliminarDulce / Porto
Dulce, percebo o que dizes e não pretendi fazer das pessoas da aldeia coitadinhas. A verdade é que conheço muitas onde a miséria é muito pior do que na cidade, apesar da tal bondade das suas pessoas.
EliminarEu que sou mãe...sinto-me todos dias em choque...
ResponderEliminarporque a incerteza da situação me deixa com medo de não conseguir dar estabilidade ao meu....e ao mesmo tempo ver o que se ve...tantos meninos/as a sofrer e adultos e idosos....
onde vamos parar???
Essa é a questão à qual ninguém consegue responder...
Eliminarassustador mesmo......infelizmente também lido com isso diariamente, com doentes que deixam de vir fazer exames ou tratamentos, porque não têm dinheiro para transportes e taxas moderadoras....
ResponderEliminarNão acredito que nos meios rurais a fome seja tanto um problema, porque todos têm uma hortinha onde vão cultivando e dá sempre, nem que seja para uma sopa. Nos meios rurais o problema é mesmo a falta de acessos e transportes públicos....muitos utentes têm de vir de táxi aos hospitais, o que fica caríssimo.....
E tudo isso vai piorar.
EliminarO panorama é terrivel...
ResponderEliminarcreio que o pior, ao contrário da tua opinião, nem seja nas aldeias como dizes, mas nas grandes cidades.
À semelhança do que se passava antigamente, nas aldeias há sempre um naco de pão e a terra que tudo dá e mais nas aldeias as pessoas conhecem-se e condoem-se; o pior é nas cidades onde ninguém conhece ou quer saber de alguém e onde não há terra ou uma árvore de onde roubar fruta...
Juro que tenho tanto, tanto medo do fuuro...
Percebo o que dizes e também temo o futuro.
EliminarIsto é só "meninos".
ResponderEliminarUma pessoa pode desmaiar por ter comido pouco naquele dia em particular e nao passar necessariamente fome.
Basta que naquele dia tenha comido à muitas horas e tenha praticado alguma actividade fisica mais intensa.
Evidentemente que se há casos de fome, devem ser resolvidos, mas tambem não sejam tão credulos e ingenuos em relaçao ao miseravel jornalismo de alguns orgaos de comunicaçao.
A comunicaçao social, infelizmente, é tendenciosa, alarmista e regra geral nao investiga as situações.
Por outro lado, o jovem pode ter feito aquilo que muitos outros fazem, que é deixar de alimentar comprar tabaco, alcool, roupas de marca etc etc
Um pouco de racionalidade tambem é bom.
Percebo onde queres chegar mas acho que não estamos a falar de nenhum colégio privado de meninos ricos. Estamos a falar de uma escola onde duas pessoas (daquela turma) já tinham desistido da escola por não ter dinheiro para os transportes. Será que esses dois alunos também gastaram o dinheiro em álcool e roupa de marca?
EliminarAcho que uma pessoa de 16/17 anos que desmaia por não comer é porque não come há muito tempo ou porque tem um problema de saúde. Acredito que a professora, ao escrever isto no seu facebook, tenha distinguido este caso dos tais alunos que gastam dinheiro noutras coisas. Esta é a minha opinião.
Ás vezes pergunto-me que raio de evolução é esta...
ResponderEliminarQuando era pequenita pensava que quando crescesse houvessem robots para fazerem tudo e que nós, os humanos, seriamos todos felizes e só faríamos as coisas que gostavamos (este pensamento dava-me alento sempre que a minha mãe me mandava limpar-lhe a loiça, ou levantar a mesa e só me apetecia brincar...) Hoje, com 37 anos pergunto-me como imaginam as nossas crianças que será o futuro delas? Eu só vejo um estranho retrocesso, estranho e desigual... Assusta-me pensar que daqui a 30 anos só os ricos poderão estudar para além da 4ª classe, que tecto, agua, gaz e luz serão o privilégios de alguns...
Que o trabalho infantil será uma realidade e deixará de ser considerado trabalho infantil, crianças voltaram a ser consideradas aptas para trabalhar como adultos com 12, 13, 14 anos...
Enfim...
Pintas um cenário negro mas que infelizmente tem muito de real...
Eliminar