os meandros desta cena chamada blogosfera

Quando criei o meu blogue, em Abril do ano passado, estava longe de imaginar naquilo em que me estava a meter. Por várias razões. Lia alguns, poucos blogues, em grande parte por influência da minha mulher que costumava ler alguns. Quando achava que os assuntos eram pertinentes para mim, mostrava-me o conteúdo. Gostei do que fui descobrindo. Tanto no blogue mais mediático como naqueles que ela conhece que têm sempre uma piada que nos faz sorrir. E era isto. De resto, não sabia tudo o que está nos bastidores daquilo que a nossa vista alcança quando olha para uma página de um qualquer blogue. É verdade que já tinha criado um blogue sobre um clube onde joguei. Mas era algo lido por meia dúzia de pessoas que estavam ligadas ao mesmo.

Quando decidi criar este que vocês conhecem, tive por base aquilo que tinha feito no tal blogue ligado ao desporto. Pensava que seriam mais ou menos as mesmas pessoas a lerem o que escrevia. Mais do que a necessidade de partilhar aquilo que penso e sinto sobre determinado assunto, foi uma forma de canalizar a escrita que não utilizo profissionalmente. Não criei o meu blogue a pensar num número de visualizações diárias nem de seguidores. E isto é fácil de explicar pelo simples facto de que quando criei o blogue revelei apenas a duas pessoas que o tinha feito. E durante muito tempo, estas foram as pessoas que souberam que sou eu que estou deste lado das palavras que estão a ler.

O que mudou foi o facto de passar a comentar aquilo que apenas lia. Nessa altura, achei por bem assinar os meus comentários. Por uma razão, seria a minha marca e aquilo que me distingue dos demais. De forma surpreendente, passados poucos meses o blogue atingiu um vasto número de visualizações diárias. Ao mesmo tempo iam chegando os seguidores. Mais tarde, os emails de pessoas simpáticas (e talvez curiosas) que metiam conversa comigo. Como adoro comunicar sempre respondi ao que as pessoas me disseram. E não se trata de um frete. Faço porque gosto. E faço porque sei o que é enviar um email a alguém que não nos liga nenhuma ou que responde de forma previamente formatada para todas as pessoas. Nunca pretendi isso. Porém, mesmo com este surpreendente crescimento, continuei a não perceber naquilo em que me estava a meter.

Com o constante crescimento do blogue comecei a ser contactado por algumas marcas que queriam dar-me a conhecer os seus produtos. Mais uma surpresa. A isto juntaram-se os convites para eventos. Na altura (e ainda hoje) a surpresa apoderou-se de mim. Aceitei aqueles que podia aceitar. E recordo-me de uma coisa que disse no primeiro evento a que fui. “Não sei o que estou aqui a fazer nem porque fui convidado”, foram as minhas palavras para uma determinada pessoa. Porém, estes eventos permitiram-me conhecer um grupo de pessoas muito simpáticas. Refiro-me a autores de diversos blogues e também aqueles que são a máquina que dá vida a um evento. Nessas alturas, dei os meus primeiros e verdadeiros passos neste mundo da blogosfera. Comecei a ouvir falar de histórias macabras de coisas que algumas pessoas são capazes de fazer. Porém, ainda não sabia onde me estava a meter pois sou aquele que escreve num pequeno blogue.

Quase um ano depois de ter dado vida a este espaço continuo sem perceber mais de metade daquilo que se passa nos meandros da blogosfera. Será que as pessoas não percebem que este mundo não passa de palavras. Palavras que se articulam, que se dividem por vírgulas e que se separam por traços e pontos finais. É que na realidade, isto é um blogue. Isto é a blogosfera. Não compreendo quem faz deste mundo uma qualquer pista de corridas automóveis onde o objectivo é chegar à meta o mais depressa possível e à frente dos outros. Às vezes pedem-me para explicar o meu sucesso. O que é isso do sucesso? Quem define sucesso neste mundo do www? É ter mais visualizações? É ter mais seguidores? É ter as duas coisas? É ser dono e senhor de todas as verdades? Não sei. Só sei que aquilo que tenho não é sucesso nenhum. Isto sou eu. São as minhas palavras. É aquilo que sinto. É aqui que sou. Com as minhas qualidades e defeitos. Se isto se traduz em visualizações, fico feliz. Se for o único a ler o que escrevo, óptimo. A vida continua tal como existia antes de ter criado este blogue.

Ao longo dos tempos percebi que a blogosfera é como as lojas chinesas. Aqui há-de tudo. Blogues sérios. Políticos. Informativos. Divertidos, satíricos e por aí fora. Existem também autênticos diários pessoais que nos deixam enternecidos a cada palavra que devoramos. Depois existem os outros. Os falsos. Aqueles que têm como propósito engatar pessoas com base em mentiras. De levar para a cama tudo aquilo que mexe e respira. Mas o bom deste mundo é que ninguém é obrigado a ler o que quer que seja. Na generalidade, os blogues são de acesso livre e só lê quem quer. Quem não quer, não lê. Esquece. Arruma para o canto. Varre para debaixo do tapete ou outra coisa qualquer. O que também aprendi é que aqui, tal como na vida real a mentira tem perna curta. Os mentirosos e cobardes ficam rapidamente sem tapete. Mesmo que seja um tapete virtual.

Também aprendi que na blogosfera é possível ter mil caras diferentes. Uma para cada blogue. Uma para cada opinião. Somos os maiores quando dá jeito. Apoiamos os outros quando nos convém. Criticamos quando todo o mundo critica. Damos palmadas nas costas quando todos dão. Seguimos ondas e tendências como qualquer moda criada em Paris, Milão ou Nova Iorque. Depois, na altura de dar uma opinião formal somos as pessoas com a melhor etiqueta do mundo. Temos dez estrelas numa escala de cinco no que ao bom comportamento diz respeito. Aprendi também que a cobardia habita em muitas pessoas. Cobardia anónima. Mas, mais uma vez com perna curta e rapidamente descoberta. Eu podia dizer que sou um menino muito bem comportado. Mas não sou. Eu porto-me mal. Sobretudo quando me incomodam com cobardia. É verdade que podia ignorar tudo isto. E é o que tenho feito ao longo dos tempos. Porém, como sou um menino mal comportado, acho que há coisas que não devem ser apagadas e devem servir de exemplo. Para quem? Para aqueles que se comportam bem com o fato de dia e que são cobardes quando vestem o fato de noite.

O que ainda não aprendi são os motivos que levam alguém a invejar quem escreve num blogue. Pessoas que canalizam os seus insucessos pessoais, os seus problemas de vida e muitos outros problemas a tentar acabar com aquilo que os outros têm. Volto a referir. Isto são palavras. Nada mais do que palavras. Outra coisa que não percebo. Pessoas que criam blogues para depois gritarem ao mundo que não vivem da escrita. Pessoas que sentem a necessidade de se justificar com o que quer que seja. Eu não tenho problemas em dizer. Eu sou um gajo de letras. Eu sou um gajo que vive da escrita. Mas não desta. Da profissional. Daquela que faço no meu local de trabalho. É essa que me paga as contas e não esta. Mas, tal como milhares de jornalistas tenho um blogue. E como sou um gajo de letras e que vive da escrita, acabo por ter aqui uma montra. Não para mim. Não para as cuecas que escolhi vestir hoje. Mas para a minha escrita. Sobretudo porque aqui escrevo de uma forma que não escrevo no meu trabalho. Se isto é um crime, podem algemar-me e prender-me pois sou culpado por agarrar-me aquilo a que posso sobretudo numa altura em que a minha profissão vive tempos muito difíceis.