agora papo tudo

Durante muito tempo fui selectivo em relação aquilo que metia na boca. Esta frase é capaz de soar mal. Por isso é melhor explicar que não vou falar de sexo. Como tal, podem perder esse sorriso maroto que estão a fazer neste momento. Aquilo de que estava a falar era mesmo de comida.

Ao longo de muitos anos, sopa só comia canja de galinha (que ainda hoje é, e sempre será, a minha predilecta). Quanto ao peixe, pouco passava da pescada cozida e do peixe espada. Confesso que no Natal comia atum. Marisco não me cativava nem um pouco. E o que dizer daqueles pratos como cabidela? Fugia deles como o diabo foge da cruz.

Mas, tudo mudou. Bem, quase tudo. Agora, penso em mim como uma prostituta gastronómica (espero não chocar ninguém com esta referência que costuma ser utilizada no meu grupo de amigos). Ou seja, papo tudo. Se não podia ver marisco, agora babo por ele. Se comia atum na Consoada, agora delicio-me com uma bela posta de bacalhau. Até já comi cabidela. Cheguei onde nunca tinha pensado. Dou por mim a ir a um restaurante porque vai ser servida moamba de galinha. E dou por mim triste porque já não há e vou ter de comer outra coisa.

Quando olho para o passado só me ocorre dizer uma coisa. “Shame on me, seu triste.” Passei anos a fugir de coisas que agora adoro. Bastava ter provado. Mas era teimoso. E dizia sempre que não gostava, mesmo sem provar. Se insistissem, dizia já ter provado e não ter ficado fã do sabor. Porém, ainda tenho as minhas limitações. Cabrito e borrego continuam a não ter acesso a esta boca.