Uma das memórias que guardo da
infância e adolescência diz respeito às idas ao baieta. Acredito
que todos estejam familiarizados com esta expressão mas caso alguém
desconheça, significa ir ao barbeiro. Confesso que não era uma das minhas coisas preferidas.
Não que fosse daqueles miúdos que não param quietos na cadeira mas
porque aqueles minutos pareciam uma eternidade para mim. Porém
achava piada à cadeira antiga e aos posters que forravam as paredes.
Aqueles das equipas de futebol e também os outros. Os das mulheres
nuas com o visual que marca a década de 80.
O barbeiro onde ia, conhecido por
baieta, era daqueles típicos. Bata branca. E um manancial de
utensílios que serviam mais para exposição do que para uso.
Recordo, em especial, duas visitas ao baieta. Numa, cortou-me a
orelha, algo que para ele era tão natural como cortar um cabelo.
Outra, aconteceu quando usava um daqueles penteados habituais para quem
nasceu em 1981, ou seja, cabelo à tigela com risco ao meio. Fiz
questão de dizer ao baieta que usava risco ao meio. Porém, cortou-me o cabelo como se usasse risco ao lado. Não
reparei no corte e antes de sair do salão meti o boné. Quando
cheguei a casa e fiz o penteado habitual reparei que tinha muito mais
cabelo num dos lados da cabeça. Depois do gozo dos meus pais, lá
voltei para um segundo corte. Como era habitual no baieta, a culpa do
erro foi minha. Fui eu que não me expliquei bem. O homem era daqueles que nunca erra.
Além de nunca errar, o baieta falava mal de toda a gente. Só não falava
mal de quem estava dentro do salão. Mas só não falava mal enquanto
lá estivessem. Pois, assim que abandonavam o local, começava logo a
falar mal das pessoas. Esta era a sua característica principal. Um
dos alvos primordiais do seu veneno era outro barbeiro, que tinha um
salão a cerca de 200 metros do seu. “Esse é um porco”, dizia
vezes sem conta. “Esse gajo fica com coisas brancas nos cantos da
boca quando está a cortar o cabelo”, referia.
Esse, por sua vez também falava mal do baieta mas era mais comedido no despique que não passava despercebido aos moradores da zona.
Tenho saudades de tudo isto. Dos
posters das equipas de futebol. Dos posters das mulheres nuas onde
não se notava o uso do photoshop. Até tenho saudades dos cortes na
orelha e dos cabelos mal cortados. Mas, aquilo de que tenho mais
saudades é do “bairrismo” daqueles tempos. Da proximidade das pessoas. Algo que se tem vindo
a perder ao longo dos anos e que provavelmente nunca será recuperado.
Pois eu acho o contrário, com esta crise económica as pessoas voltaram, novamente ao barbeiro do bairro, (é mais barato do que ir a um centro comercial) ao sapateiro, ao alfaiate, à modista, parece que as dificuldades tem servido para unir as pessoas, voltando assim ao bairrismo.
ResponderEliminarAssumo que já cortei o cabelo em sítios onde o corte chegava a custar quase 40/50 euros. Não o fazia por ser uma moda mas por causa do profissional de quem gostava. Porém, voltei a cortar o cabelo num centro comercial por pouco mais de dez euros porque posso poupar muito dinheiro.
EliminarSó no meu barbeiro, não havia posters, nem cortes de orelha, nem enganos...
ResponderEliminarMesmo assim, continuo a frequentar, mas vou reclamar. :D
A sério? :D
EliminarVerdade verdadeira.
EliminarVou lá desde sempre e vou ter que exigir livro de reclamações... Não podem passar impunes. :D
Fazes bem :)
EliminarBoas memórias! :) Fartei-me de rir ao ler o seu texto, porque me fez lembrar momentos de infância, não no baieta, nem na cabeleireira, mas em casa. Como não havia dinheiro para cortar o cabelo fora, era a minha mãe que me cortava o cabelo. Eu detestava, mas não tinha outro remédio. Uma vez disse que só cortaria as pontas (como é que eu acreditei nisso)... Quanto mais cortava, mais torto ficava, até que eu tive de dizer chega e ficou torto mesmo eheheh. Parabéns pelo blogue, já o sigo desde 2011 mas hoje não podia deixar de comentar. :)
ResponderEliminarJovita Capitão.
http://rainhadasinsonias.blogspot.pt/
Trata-me por tu, pode ser?
EliminarAdorei o teu relato desse corte de cabelo. O corte pode não ter sido o melhor mas acredita que é bom ter memórias dessas :)
Combinado! :) Com o TU assim será!
EliminarÉ mesmo bom ter essas memórias, mas também intensificam a saudade.
Tens razão.
EliminarTive um "trauma" em criança por causa de um corte de cabelo assim mais para o curto... Já passei por uma fase mais arrojada e agora com algumas pequenas alterações vou mantendo um corte que me faz sentir bem. Ah! E sou fiel ao cabeleireiro.
ResponderEliminarEssas memórias são boas :)
EliminarEu também sou fiel a quem me corta o cabelo.
Pensando bem esse sítios não mudaram assim tanto =) Pelo menos nos cabeleireiros de senhora ainda se fala mal de toda a gente!
ResponderEliminarMuito bom :)
EliminarSe fosse na Coreia do Norte com o penteado nº7...era outra coisa :)
ResponderEliminarEra sim :)
EliminarEra no baeta que se sabiam as novidades!
ResponderEliminarPois era :)
EliminarParece que foi dia de recordar a infância nos blos! :)
ResponderEliminarLembrei-me disto porque fui cortar o cabelo :)
Eliminar81? Ano fantástico, não??? :)
ResponderEliminarQuanto ao falar mal... no cabeleireiro, no barbeiro... isso não mudou... pelo menos... continuo a ouvir no cabeleireiro... desde criança que sempre que vou ao cabeleireiro as coscuvilhices são sempre as mesmas... quem acabou de sair... a vizinha... a filha da vizinha... e por aí fora...
Quanto a proximidade... depois do deslumbramento som os shoppings e afins... prefiro o comercio tradicional para muitas das minhas compras... Gosto de ir à frutaria do fábio... ao talho do quim berto... e enquanto o faço, passeio a pé pela "minha" cidade, levo a minha filha a apanhar ar fora de casa... mas tenho saudades de quando era pequena, estar na casa da minha avó e ue comprar um bocado de sabão rosa à "venda da Lindinha"...
Bela colheita :)
EliminarAinda bem que há pessoas como tu :)
Acho que hoje em dia estas tradições só se mantêm nas aldeias :) Aí sim ...tens o sr baieta tradicional e que ainda serve de noticiário e te conta de todas as novidades da actualidade :)
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