"Suor... Banhada em suor. A
almofada estava ensopada e a camisa de noite colada ao corpo.
Destapou-se e arrastou-se para fora da cama, tentando acalmar o
coração que palpitava freneticamente no seu peito. Chovia
torrencialmente lá fora e tudo parecia calmo dentro de casa, mas
algo a perturbava. Dirigiu-se em passadas largas ao quarto do bebé,
para verificar que tudo estava como devia estar. Abriu a porta e
deslizou até ao berço do seu menino. Sossegado. Demasiado
sossegado. Adormecido. Inclinou-se, colocando-lhe a mão sobre a
barriga, tentando apanhar os movimentos de uma respiração regular.
Nada. O seu coração saltou enquanto pegava no bebé, para tentar
detectar o calor da respiração. Nada! Não... Não podia ser. O seu
bebé, o seu menino! Repetiu os mesmos movimentos, tentando, em vão,
captar a respiração que lhe provaria que ele estava vivo. Quando
percebeu que nada iria acontecer e que ele iria permanecer adormecido
nos seus braços, apertou-o contra si, embrulhado no cobertor que lhe
comprara, deixando as lágrimas correr livremente e deixando-se cair,
agora sentada no chão a embala-lo, balançando-se para trás e para
a frente e entoando a canção de embalar que lhe cantava desde o dia
que soubera que estava grávida.
Quando o dia começava a romper,
levantou-se, pousando o bebé no berço e aconchegando-lhe o cobertor
ao corpinho frio, prometendo-lhe que iria protege-lo e estar sempre
com ele, sem deixar de cantar. Dirigiu-se à casa-de-banho e abriu
uma gaveta, enquanto trauteava baixinho. Retirou uma lâmina e
sentou-se sobre o tapete que cobria o chão de mosaico. Passeando a
lâmina ao longo do braço, ergueu-a e começou a desenhar a primeira
letra do nome que escolhera para o seu bebé. A música que lhe
brotava dos lábios pálidos ecoava nas paredes nuas, enquanto a
lâmina deslizava sobre a sua pele, penetrando a carne para gravar
nela o nome do que de mais precioso tinha e acabava de lhe ser
roubado. A camisa de noite começava a ficar manchada, mas ela sabia
que era necessário. Uma vez terminado ali, com um floreado, fez
descer a lâmina sobre a perna para continuar o que começara. Mais
sangue a correr e o seu filho cada vez mais gravado em si, parte de
si e cada corte deixando-a mais perto dele. Cantou e cantou até
perder as forças para continuar. Estava tão cansada... O seu
menino. Precisava dela. O último corte... E as suas pálpebras
fecharam. Enquanto cantava para o seu tesouro... e sorria, sabendo
que estariam juntos, em breve."
Cynthia
Um texto muito triste, mas ao mesmo tempo lindo...gostei muito! Parabéns à autora do texto! Bjinhos***
ResponderEliminarÉ forte mas muito bem escrito.
Eliminarbeijos
Só consigo dizer que é tão real que me deixou em choque.
ResponderEliminarÉ um soco no estômago.
EliminarObrigada :) a minha imaginação tende a ser mais fértil quando descai para o sinistro. *
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO que salta dos dedos é: mórbido! Será que é por influência das últimas notícias que os noticiários partilham, de mães que matam os seus filhos e afins?
ResponderEliminarDe forma alguma, quero desfazer o texto da autora que, está muito bem escrito e descrito, mas, de facto, são os pensamentos que me ocorrem.
;)
Obrigada ;) n foi por influência de nada disso, simplesmente foi algo que me ocorreu e passei para palavras.
EliminarConcordo contigo.
EliminarEsse texto fez-me chorar...ninguém escreve assim sem o sentir o presenciar...Deus...é das dores mais profundas...
ResponderEliminarOh, peço desculpa. Não queria fazer ninguém chorar. Acho q estou a deprimir as pessoas por aqui!
EliminarÉ um texto com muito impacto.
EliminarTexto muito forte...parabéns :)
ResponderEliminarComo explicar o que senti ao ler?!
ResponderEliminarAinda estou arrepiada, acho que não há mãe que assim não fique ao ler este texto ( a não ser aquelas que não nasceram para isso). Mas não me chocou, pela simples razão de saber que morreria no dia em que fosse obrigada a passar pela dor de perder uma das partes de mim, que é como quem diz, uma das minhas filhas.
Este texto é daqueles que mexe com as pessoas.
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