15.5.15

o pouco valor dado à vida

Num passado não muito distante fui assaltado no Porto. E dizer que fui assaltado é uma forma simpática de dizer que fui violentamente (e de forma cobarde) agredido por um conjunto de jovens. Eles deviam ser uns sete. Eu estava acompanhado por um amigo. Em tempos partilhei a história no blogue. Mas, de forma resumida, deviam ser umas seis/sete da manhã quando estava a sair de um bar depois de uma longa noite de trabalho.

Enquanto caminhava para o parque de estacionamento fui abordado pelo tal grupo de jovens. “Carteira e telemóvel”, disse um deles. Acho que ainda nem tinha acabado a frase quando me deu um murro. Ou seja, mesmo que lhes quisesse dar as duas coisas não teria tempo para o fazer. Depois disto, eles dividiram-se entre mim e o meu amigo. Murros e pontapés sem parar. Por mais que lhes explicasse que não tinha carteira eles continuavam a agredir, o que me leva a acreditar que o desejo era esse e que a carteira e o telemóvel seriam um mero bónus. Por momentos pensei agarrar num deles e fazer-lhe em dobro ou triplo aquilo que me faziam. Tive o meu momento de lucidez que foi perceber que eram muitos e nós apenas dois e já separados. Preocupei-me em proteger a cabeça e em não parar até chegar à rua principal. Quando consegui olhei para o meu amigo que tinha a cara em sangue. Isto para apenas levarem o meu telemóvel profissional. Daqueles que custam dez euros e que nenhum ladrão quer.

Dentro do mal, acabei por conseguir sair da rua, o que fez com que eles fugissem. Mas e se tenho caído? Se com um dos murros ou pontapés tivesse ido ao chão, batendo com a cabeça e ficando por ali? E o mesmo se aplica ao meu amigo que ficou bastante maltratado. Os recentes casos de violência, sobretudo o do jovem que terá sido agredido até à morte, fez com que recordasse este episódio. E pensei no grupo de delinquentes que me agrediram e que tinham ar de quem fazia aquilo com frequência e por prazer. Não sei se algum já terá sido preso. Não sei se algum já terá sido vítima do seu próprio veneno. Mas tenho a certeza de que estão a desperdiçar as suas vidas. E que olham para a delinquência como uma profissão de futuro. É apenas mais um grupo de pessoas que desvaloriza e não aproveita a vida que tem.

Sinto isto quando leio a notícia do jovem que foi agredido até à morte, tal como sinto isto quando leio a notícia da mãe que entregava a filha para abusos sexuais a troco de dinheiro, chocolates e bombons. Que mundo é este? A nossa passagem por aqui é bastante curta e simplesmente há quem opte por desperdiçar a oportunidade de viver e de ser alguém. Aceito que me falem em dezenas de motivos para que as pessoas optem por este caminho. Mas não aceito que tudo seja desculpável com o ambiente familiar e coisas do género. Porque a pessoa também terá uma opção.

Ainda por causa dos casos de violência, um amigo (que frequentou a mesma escola do que eu) partilhou no facebook a sua história de agressões, assaltos e bullying que ocorriam quase diariamente. E explicou que nada disso fez com que fosse igual aquelas pessoas. Nada disso lhe deu vontade de entrar na escola com uma arma e começar a disparar. Transformou aquela experiência numa lição e percebeu o que queria ser. Defendeu que teve uma opção. E acho isso mesmo. Haverá sempre uma opção. Quer seja de desistir, de seguir os maus caminhos ou de lutar para ser alguém na vida. Quero acreditar que todas as pessoas, em determinado momento, têm a sua oportunidade. E o mundo está cheio de pessoas (e de histórias) que nascem sem nada, que vivem em meios complicados e que conseguem ser alguém, sendo um exemplo para milhões de pessoas. É por isso que acho que todas as pessoas têm uma opção/oportunidade e decidem o que fazer com ela.

14 comentários:

  1. É exatamente isso! Acredito que em criança seja difícil definir o certo do errado e que se tome más opções, quando a família não é o melhor exemplo! Agora sendo adulto julgo que cada um escolhe o caminho que quer...

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  2. Normalmente as pessoas escolhem os caminhos mais fáceis e mais à mão..

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  3. Já viste ou ouviste falar de um filme chamado "We need to talk about Kevin"? Lembro-me tanto desse filme sempre que vejo notícias sobre actos desta natureza... Fica a dica, com o aviso de que é muito violento, mas muito real, infelizmente. (http://www.imdb.com/title/tt1242460/)

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    1. Já tinha ouvido falar mas ainda não vi. Mas já tinha ouvido opiniões como a tua. Obrigado pela dica.

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  4. As pessoas que escolhem esses caminhos acham que é o caminho mais fácil, acham que "é assim", é o "olho por olho..."

    Só que, o essas pessoas não sabem, é que dá tanto ou menos trabalho ter uma vida feliz, e uma boa vida, do que ser assim.

    O mal que advém desses caminhos é incomensurável, embora as pessoas que os seguem, pensem sempre que não o receberão, mas é a lei do equilíbrio, e um dia, tudo o que tu fizeste retorna a ti.

    ..é a lei natural das coisas... "what goes around, comes around"... pena que pelo meio disso tudo, haja vítimas inocentes a apanharem por "tabela" dessas escolhas que não foram as delas...

    Eu acredito que tu fazes da tua vida aquilo que tu queres, não interessa o que te aconteceu no passado. Não é o passado que te define como pessoa, mas as escolhas que fazes e a tua postura perante esse mesmo passado.

    O que tu és hoje é o que interessa. Porque só hoje é que tens escolha de ser, de fazer e de viver diferente.

    Beijinhos
    Z.

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    1. Lá está, é tudo uma questão de escolhas que nos definem.

      Beijos

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  5. A tua história é muito semelhante à do meu sobrinho e um amigo que, numa noite aqui de Braga foi desafiado por um grupo de adeptos do SCB, apenas provocando-os, não os assaltaram, e como o amigo perguntou o que eles queriam, e que os deixassem em paz, ele não têm mais nada, pontapés e murros em cima dos dois.
    O amigo teve de ser hospitalizado, o meu sobrinho tinha o rosto parecia um monstro, estava cheio de vergonha porque no dia seguinte tinha uma visita com o boss a uns clientes e não sabia o que fazer.
    Penso que estes jovens têm prazer em provocar e destruir.
    Lamentável, tudo isto, para ti, para todos.
    Nada justifica violência.
    Um beijinho para ti.

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    1. É verdade. Há jovens que se alimentam da violência como se isso fizesse deles homens melhores.

      beijos

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  6. Ainda que seja muito importante o meio familiar e social considero que há sempre opção de escolha. No entanto , há jovens que optam pelo caminho mais fácil: não tem quem os oriente, quem lhes imponha limites e regras, que lhes diga que há outra opção. E por vezes os modelos de referencia não são os melhores. Muitos destes jovens fazem-no como chamada de atenção, outros porque reproduzem os modelos que adquiriram na infância e ainda outros porque estão zangados com o mundo e projetam nos outros a raiva

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    1. Não questiono nada disso. E concordo que as escolhas estão ligadas ao que a pessoa é. Mas a verdade é que podem escolher.

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  7. A isso chama-se cobardia e pessoas pequeninas, que recorrem à violência para se divertirem ou para não se sentirem como o lixo da sociedade, é uma lufada de ar fresco nos seus dias, e não se esforçam por fazer algo de útil, vão antes pelo campo da cobardia.

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