Aqui e ali já se começam a ouvir
opiniões que podem ser resumidas pela questão: não havia melhor do que a
Mafalda Teixeira? Melhor, leia-se, alguém mais mediático, uma mulher com outro
peso. Esta questão coloca-se agora mas provavelmente existiu em todas as capas
da Playboy portuguesa. E quando a questão não era esta – como por exemplo
aconteceu quando Rita Pereira foi capa – questionava-se a nudez ou a falta
dela.
Faço parte do grupo de pessoas que tem
como exemplo a edição brasileira da Playboy. Produções fotográficas excelentes,
nu total e frontal e mulheres (na maioria dos casos) com carreiras consagradas.
Ou seja, despem mulheres que praticamente todas as pessoas, homens e até
mulheres, têm curiosidade em ver sem roupa, independentemente do motivo de cada
um. Mas, uma coisa é ter com exemplo esta revista. Outra é saber distinguir
realidades.
Não posso comparar o mercado
brasileiro, onde a tiragem (número de revistas feitas) pode ser superior a um
milhão de unidades (com capas muito boas) com o mercado português onde a
tiragem é de 20 mil exemplares. Posto isto, não é preciso ser um génio de
matemática para perceber que o dinheiro movimentado pelas revistas é totalmente
diferente. Que o preço da publicidade também será diferente. Tal como os
anunciantes. E que isto tudo misturado resulta em cachets com diferenças
gigantes. Por exemplo, Cléo Pires recebeu 450 mil euros para se despir.
Trata-se de um valor proibitivo para uma publicação que tem uma tiragem de 20
mil unidades. Segundo consta, em Portugal os valores podem chegar aos 30 mil
euros.
Tendo sempre como comparação a edição
brasileira pode ainda discutir-se outro factor que está ligado à mentalidade. É
um motivo de orgulho para uma mulher brasileira posar para a Playboy. É algo
que é visto como prestigiante e não existem grandes críticas em volta do
convite. Por cá não é assim. Por cá ainda se olha para uma mulher que se despe
como uma ordinária. “Qual a necessidade que tem de fazer aquilo?”, “Tem uma
carreira estável e até é mãe, não precisava nada disto” e “uma pouca vergonha”
são exemplos de coisas que ainda se ouvem por cá. Olhando para este detalhe
combinado com o cachet sobram poucas pessoas que o aceitem. E os nomes
consagrados que aceitam acabam por fazer uma produção sensual com ainda menos
nudez do que revistas masculinas onde não existe nudez total.
Aposto que uma Playboy portuguesa com
uma capa onde estivesse uma Catarina Furtado, uma Cristina Ferreira, uma Cláudia
Vieira, uma Bárbara Guimarães, entre tantas outras de áreas diferentes, e alguns
fenómenos pontuais onde se despem mulheres que são notícia por isto ou por
aquilo, seria um sucesso. Mas isto exige dinheiro. É certo que existem mulheres
que não aceitam despir-se por dinheiro nenhum mas haverá muitas outras a quem
os 450 mil euros (ou mais) dão que pensar. Mas para isto era necessário um
mercado diferente e uma mentalidade igualmente diferente. A nudez (artística)
tinha de ser bem vista e não algo de que se sente vergonha e de que todos falam
mal.
Isto tudo faz com que a pergunta “não
havia melhor do que a Mafalda Teixeira (neste caso)?” ganhe uma nova dimensão e
seja vista com outros olhos. E a resposta andará perto de um “não, não há
melhor.” Isto no sentido de que as mulheres, que muitos desejam ver despedidas,
ganham muito mais do que isso sem necessitar de tirar a roupa. As que não
ganham hesitam no impacto que poderá ter na carreira. Umas acham que será mau. Umas precisam do dinheiro. Outras têm o desejo de fazer um nu e não hesitam em estar na Playboy.
Mas as que aceitam, independentemente do motivo, vão ser sempre uma pequena parcela do nosso mercado. E mesmo estas estão sempre na defensiva no momento de despir a roupa. Depois, sobram as desconhecidas, as raparigas da "porta do lado". Com estas as regras e valores são diferentes mas a diferença nos números de vendas é igualmente diferente.
Acho que a mentalidade do "é uma pouca vergonha" está a acabar. No entanto acho que é mais "what's the point". Uma mulher como a Cristina Ferreira que tem uma revista, um programa, uma coleção de sapatos - ou seja deve ser bastante rica - ganhou uma dimensão enorme para Portugal. Qual é o objetivo de se despir exatamente para uma revista? O que é que ela ganha com isso sem ser dinheiro (que não me parece que seja algo que lhe falte). Acho que esse tipo de revistas fazem cada vez menos sentido.
ResponderEliminarEntramos no domínio das mentalidades e do prestígio. Acredito que boa parte das celebridades brasileiras que aceitam despir-se não precisam do dinheiro mas, para eles, é algo prestigiante. Cá não.
Eliminar"nudez (artística)" ?
ResponderEliminarFrancamente... Que gostem de ver mulheres nuas é mais ou menos biológico, que o tentem mascarar com interesse "artístico" é desonesto. 85% das pessoas que virem o nu (artístico claro) vão-se masturbar a olhar para aquela mulher (desculpa, peça de arte). Se há as que gostam desse tipo de atenção e conotação, o mais natural é o oposto.
Não vou discutir esses números porque acho que são exagerados. Acho é que estamos no domínio das mentalidades. E a nossa, portuguesa, é muito diferente da brasileira onde a revista é prestigiante. Cá não.
EliminarBoa análise, crítica comparativa das mentalidades e das dimensões dos dois países correta. A Playboy no Brasil é uma "instituição", não é motivo de vergonha, é motivo de orgulho. E eles trabalham com excelentes fotógrafos, dos melhores a nível mundial, e não abusam no photoshop. A Playboy portuguesa também já teve algumas edições boas. E a Mafalda Teixeira é uma excelente escolha, na minha opinião. Enquadra-se no conceito Playboy, talvez até mais próximo do norte-americano, por ser loira natural, olhos claros, ser atrevida, mas sem baixar o nível, e encarar o sexo sem preconceitos.
ResponderEliminarE Catarina a Playboy é uma revista de culto porque tem um publico abrangente, e não serve só para os adolescentes baterem punhetas, é mais do que isso. Por exemplo, alguns dos maiores escritores mundiais, inclusive prémios Nobel, escreveram textos para a revista.
Está aí a grande diferença entre a brasileira e a portuguesa. Passa por aí.
EliminarSe fosse entrar no domínio da masturbação teria de falar das pessoas que ligam para a televisão a dizer que se masturbam com as jornalistas, as pessoas que o fazem com fotos de redes sociais e por aí fora. Quero acreditar que estas pessoas são uma insignificante minoria.
Tens toda a razão, tudo isto tem a ver com a forma como a sociedade vê as coisas e o que consome, sem dúvida que a nossa realidade é pequenina.
ResponderEliminarO mercado é pequeno, a mentalidade é diferente. São realidades distintas.
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