Foi a primeira vez que fui operado. E
acredito ter vivido algo que será bastante comum a quem passa pelo mesmo do que
eu. Ou seja, pensar que tudo vai correr mal no bloco operatório. Como tal, a
ansiedade é muita. Mais do que muita. E é substituída por uma grande camada de
nervos a partir do momento em que nos dizem: “vamos descer para o bloco”,
começando a empurrar a cama. Ir do sexto andar até ao primeiro foi para como se
estivesse a percorrer o corredor da morte. Quanto mais me aproximava do bloco
mais nervoso ficava. Acredito que isto seja muito comum, por isso é que deixam
que um familiar nos acompanhe.
E se já estava nervoso, mais fiquei na
minha primeira paragem. Fui recebido pela enfermeira chefe, a simpática
Cristina, que me explicou o que ia acontecer. Quem a ouvisse acreditava que ia
passar um bom momento. Parecia um passeio no parque. Fui mudado para a marquesa
(acho que é assim que se diz) onde fui operado e levaram-me para uma sala mais
fresca. Aí, voltei a ser confortado pela enfermeira Cristina. “Dúvidas?”,
perguntou-me. “Só quero saber qual é a anestesia que me vão dar. É que estou muito
nervoso e faz-me impressão a ideia de estar a ouvir o cirurgião a falar
enquanto me opera”, disse. Sorriu e disse que ia passar o recado à equipa de
anestesistas.
Depois de alguns segundos (pareceram
horas) a olhar para o tecto, recebi a companhia da equipa de anestesistas. Que
brincaram com o homem de 33 anos, que parecia um puto de dez, cheio de nervos.
Fiz-me de forte (fui facilmente convencido) e disse que a epidural chegava e
sobrava. Acalmaram-me e levaram-me para o bloco operatório. Local onde me transformei
por completo. A começar pela epidural, brincando com a posição em que me
colocaram. Depois, brinquei com a Drª Marta, da equipa de anestesistas que me
fez companhia durante quase toda a operação. “Eu confio em si. Pelo menos
enquanto tiver coxo e não puder correr atrás de si para me vingar de uma
eventual mentira”, disse-lhe.
Fui deixando de sentir as pernas mas
não me calei. Fiquei eufórico. Fiz perguntas sobre os aparelhos. Falei de
restaurantes bons e baratos. Falei do meu trabalho. De alguns momentos do meu
quotidiano. Brinquei com o suporte de silicone onde tinha a cabeça, dizendo que
era um bolo de ananás e que só faltava o chá para uma festa. Recordo-me de me
terem colocado algo no nariz (outra anestesia) que acabou com a euforia e me
fez dormir.
Sei que entrei no bloco operatório
cheio de medo e diverti-me lá dentro como se estivesse num parque de diversões.
Fez-me lembrar o medo que tinha da montanha russa até que andei numa (a que
tinha – ou ainda tem – mais loops na Europa) acabando por repetir imediatamente
a experiência. A minha euforia era tanta que não posso reproduzir aqui tudo o
que disse no bloco. Partilho apenas que me foi perguntado, em tom de
brincadeira, se consumia substâncias ilícitas, ao que respondi que não.
A verdade é que a operação acabou por
ser um passeio no parque. Não sei o que me foi dado além da epidural. Só sei
que me deu para ficar eufórico até me deixar dormir. Tanto que, assim que saí do bloco e fui para o
quarto, a minha mulher reparou que estava alterado. Tinha muito medo. Agora
tenho uma história para contar aos amigos que se vão fartar de rir com aquilo
que fiz e disse no bloco operatório.
Ah, ah, ah, ah... Vais para o Ridicoulousness
ResponderEliminarE com uma bela história para contar.
EliminarAh, ah, ah, ah... Vais para o Ridicoulousness
ResponderEliminarAhahah já passou, agora é recuperar junto dos miminhos da esposa :)
ResponderEliminarÉ a parte boa :)
EliminarSó fui operada uma vez na vida e ainda era criança, não tenho muitas memórias, só me lembro de ver a minha mãe em pânico e de eu não saber porquê...Tudo correu bem, mas é sempre algo stressante para nós e para os mais chegados!
ResponderEliminarAs pessoas que não estão no bloco sofrem mais com a operação. E digo isto porque já estive dos dois lados.
EliminarA anestesia pode provocar esse efeito. É normal. E o pessoal dos blocos operatórios sabem disso, embora se metam na mesma com as pessoas ;)
ResponderEliminarAté lhes pedi desculpas ;)
EliminarExplicando assim muito rápido, o corpo liberta certas hormonas (verdadeiras dorgas) que te deixam de um tal modo, que te dão essa sensação de teres acabado de fumar ceninhas para rir...
ResponderEliminarO estado de nervos em que estavas contribuiu imenso para isso. Nunca te deu para rir num momento de stress? ;) tem tudo a ver... E não precisas de ser anestesiado ahahah
(correção: pelo menos enquanto EStiver coxo :D)
Por acaso com nervos não me dá para rir. Mas ali, assim que entrei no bloco mudei por completo. Era digno de um vídeo de comédia :)
EliminarSerá que alguém gravou isso no bloco? :)
ResponderEliminarEspero que não :)
EliminarAinda bem que assim foi :)
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