23.1.14

is this love? (capítulo treze)


Alexandra e Miguel viviam as horas mais intensas das suas vidas. Depois de tudo o que tinha acontecido, estavam juntos. Ambos se tinham entregado a um amor que parecia agora indestrutível. E reforçado com uma gravidez inesperada mas que era o realizar de um sonho para ambos. Aliás, a notícia da gravidez era o principal motivo da alegria que os dominava. Depois de largos minutos de euforia, Miguel revelou a Alexandra aquilo que queria fazer ao longo do dia. “Hoje é o nosso dia. Já tenho tudo planeado. Vamos tomar banho. Despacha-te”, disse.

Cerca de quarenta minutos depois estavam prontos. Radiante, Alexandra preparava-se para abrir a porta quando foi agarrada por Miguel. “Onde pensas que vais?”, perguntou. “Não é para ir passear?”, respondeu. “É. Mas vou ter de te vendar os olhos antes de saíres de casa. Não quero que saibas onde vamos”, explicou Miguel, já com o seu cachecol preto favorito na mão. Como era de um material não muito grosso, servia o propósito de vendar os olhos de Alexandra. Assim que sentiu o tecido no rosto, Alexandra pressionou ainda mais o cachecol com as suas mãos. Adorava sentir o cheiro do perfume do namorado, que assim se misturava com o seu  aroma passando a ser um só. Aquilo a que gostava de chamar o cheiro deles.

Com os olhos vendados, lá foram para o carro. Seguiu-se uma viagem de cerca de meia hora. Sempre ao som das melhores músicas de Teddy Pendergrass, uma das preferências de Miguel, que tinha acabado de fazer o download das suas preferidas. De olhos vendados, Alexandra cedo perdeu a noção da direcção do carro. Ainda descortinou o percurso nos primeiros cinco minutos. Depois disso concentrou-se na música. E nas três vezes em que tocou Turn Off The Lights, a versão gravada ao vivo num espectáculo de 1982, o seu ano de nascimento. Até que o carro parou. “Posso tirar a venda?”, perguntou. “Claro que não”, respondeu Miguel, que saiu do carro para guiar a namorada até ao destino final. Sentou Alexandra e depois desfez o nó que prendia o cachecol. Assim que abriu os olhos, Alexandra sorriu. “Sabes onde estás?”, perguntou ele. “Claro que sei. Estamos no banco onde nos beijámos e onde começou o primeiro capítulo do nosso namoro”, disse, com a voz trémula e com os olhos a lacrimejar. Depois, beijou Miguel e suspirou. “Ficava o dia todo aqui”, soltou. “Mas não ficas. Vamos já embora”, referiu Miguel, que vendou a namorada, regressando ao carro de mão dada com Alexandra.

Nova viagem. Desta vez, o sentido de orientação de Alexandra não durou mais de um minuto. No rádio, com o volume alto, continuava a tocar Teddy Pendergrass. Agora, Miguel cantarolava You´re My Latest, My Greatest Inspiration. É certo que a voz dele não era nada de especial. Mas como ela adorava ouvi-lo a cantar só para ela. Não o trocava por nenhum cantor do mundo. Por ela, podiam passar horas naquilo. E foi com isso que se ocupou até que o carro parou novamente. No momento em que saiu do carro sentiu uma ligeira diferença na temperatura. “Estou em Sintra”, pensou. E acertou. Quando retirou a venda estava num local especial. “Vou poupar-te uma pergunta. Foi naquele café que lanchámos num dia muito especial para nós”, disse perante o espanto de alguns turistas que tinham observado a chegada de uma jovem vendada. Quando Alexandra e Miguel se beijaram, tudo aquilo passou a fazer sentido para os turistas, em especial para uma senhora de idade que não resistiu e acabou por fotografar o momento do beijo enquanto Alexandra segurava o cachecol com uma mão. “Poupaste-me uma pergunta. Também não preciso de dizer o que tens de fazer ao meu cachecol, pois não?”, gracejou Miguel. Venda posta. E mais uma viagem.

Desta vez, a viagem durou mais tempo. Sempre ao som de Teddy Pendergrass. Com Miguel a cantarolar todas as músicas que conhecia. Nesta viagem, com especial incidência em Love TKO. Alexandra já nem se preocupava com o sentido de orientação. Limitava-se a tentar adivinhar qual seria o destino, sabendo que seria especial para eles. A determinada altura sentiu o carro abanar mais do que o normal. “Posso estar enganada mas estamos na Ponte Vasco da Gama”, disse. “Não sei”, respondeu, entre risos, Miguel. A viagem continuou. Mais alguns minutos. Algumas curvas. Até que o carro parou num local onde não se ouvia qualquer barulho. “Algum palpite?”, perguntou Miguel antes de tirar a venda. “Tenho um palpite mas como não se ouve nada, não sei...”, disse. Já sem venda, Alexandra confirmou o seu palpite. “Bem me parecia que era o restaurante onde jantámos pela primeira vez. Estava na dúvida por causa do silêncio”, referiu. “Compreendo. O restaurante está fechado, o que é uma pena”, lamentou Miguel. “Era tão giro”, acrescentou. “Já sei o que vais dizer agora”, referiu Alexandra. “O quê?”, inquiriu ele com curiosidade. “Que naquela mansão ali em frente é que foi gravada a telenovela Anjo Selvagem. Era a mansão onde a Paula Neves era empregada. Dizias sempre isso”, respondeu, provocando uma gargalhada em ambos.

“Adorei. Obrigado por tudo”, disse Alexandra. “Mas quem é que disse que já acabou? Como esta está fechado e como já são duas horas, vamos procurar um sítio para almoçar que não quero a mãe do meu filho com fome”, brincou Miguel. Lá encontraram uma tasca castiça e por ali ficaram mais de duas horas, a recordar os momentos mais marcantes da história de ambos. Eram os únicos no restaurante mas o amor era tão contagiante que o dono sentiu-se incapaz de lhes pedir para abandonar o espaço de modo a fazer uma pausa antes dos jantares. Foi já perto das cinco da tarde que voltaram a entrar no carro. Olhos vendados. Teddy Pendergrass a cantar. E assim se iniciava mais uma viagem.

Trinta minutos depois chegavam ao destino. Desta vez não saíram do carro. Assim que o carro parou, e ao som de Just Because You´re Mine, Miguel tirou a venda a Alexandra. “Sabes onde estamos?”, perguntou. “Claro que sei. Estamos no parque de estacionamento da praia, onde vivemos uma das nossas melhores noites de amor. Longe de uma cama, claro”, gracejou Alexandra. “Fico feliz por te recordares de tudo tão bem”, enalteceu Miguel. “Agora sim, este dia está completo”, acrescentou. “Adorei. Foi um dos melhores dias da minha vida”, sussurrou-lhe ao ouvido enquanto o abraçava. “Sabes o que quero agora?”, perguntou Miguel. “Levar-te para casa e fazer amor contigo, tal como aconteceu no dia em que fomos passear a Sintra”, disse, sem que Alexandra tivesse tempo para dizer algo. “Gosto da ideia. Mas se a noite já está a cair e se já fomos tão felizes aqui, porque haveremos de ir para casa?”, referiu Alexandra que imediatamente começou a despir Miguel.

Segundos depois os corpos eram um só. Numa união perfeita e imperturbável. Nem sequer se incomodaram com a possibilidade de serem apanhados por alguém. Para eles, naquele momento, mais ninguém existia no mundo. Só eles os dois. Com os vidros embaciados ficaram agarrados um ao outro. Nus, deitados nos bancos rebaixados. “Há algo de mágico em relação a este local. Pelo menos no que ao sexo diz respeito pois a praia nem é uma das minhas preferidas”, gracejou Alexandra. Miguel riu-se. “Sabes aqueles momentos em que gostavas de congelar o tempo. Este é um deles. Parava o tempo agora. Quero-te muito. Ficas comigo para sempre?”, perguntou Miguel enquanto sentia a cabeça de Alexandra no seu peito.

13 comentários:

  1. Aquele momento em que eles é que andam de carro, mas eu também conheço alguns dos sitios que falaste pela forma como os descreveste :)

    Tens um dom, Bruno. Não é qualquer pessoa que consegue transportar os leitores para o que se está a ler.

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    1. Não escrevi os sítios de propósito mas são fáceis de lá chegar :)

      De resto, um exagero do tamanho do mundo que me deixa sem jeito.

      beijos

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    2. Se é exagero, então fico à espera que os restantes comentadores se pronunciem ;) verás que tenho razão :D

      Beijo *

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    3. É a tua simpatia a falar mais alto ;p

      beijos

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  2. eu já me questionava acerca da continuidade desta história.... ainda bem que ainda não acabou! estou a adorar... quem sabe um dia destes não encontramos uma capa com o nome homem sem blogue numa livraria perto de nós :-)

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    1. Obrigado pelas simpáticas palavras :)

      De resto, numa linha onde o impossível está numa ponta e a realidade na outra, essa capa está bastante perto do impossível ;p

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    2. :) Não sei se é um sonho ou não, mas alguém disse: "ninguém mata os meus sonhos"! :) Por isso nada é impossível!
      Se for algo que queiras concretizar, prometo ser uma das compradoras.

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    3. Fico sem jeito. Obrigado pelas palavras :)

      beijos

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  3. Já tinha andando aqui no blog à procura da continuidade da história. Não encontrei. Não pensei que tivesse desistido dela porque não me parece ser alguém que tem por hábito desistir. Vou esperar ansiosamente por mais capítulos. Beijinhos.

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    1. Na altura do Natal tornou-se mais complicado escrever. Depois, tive menos tempo para o blogue. Agora, tudo volta ao normal. Esta semana há mais um capítulo.

      beijos e obrigado.

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  4. Parece-me estranho comentar algo que foi publicado há varios meses, mas só agora é que estou a ler a tua estória! Muitos parabéns pela escrita e pelo enredo... estou a adorar e só espero que acabe tudo bem, pois sou uma romântica incurável ;)
    Sinto-me uma sortuda em comparação aos outros seguidores do blogue... tiveram de esperar vários dias para ler um novo capítulo. Para mim está a ser uma leitura muito fluída e à distância de um clique. Obrigada homem sem blogue... já sou tua fã! Um beijo

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