22.1.14

o ordenado é que interessa?

Dia de visita de estudo à redacção. Um grupo de jovens na casa dos seus dezasseis anos. Curiosamente, nenhum deles ambiciona ser jornalista. Ou se o desejam, foram tímidos no momento em que foram convidados a partilhar essa ambição. Durante os curtos minutos em que aqui estiveram, ficaram a par de tudo, desde as funções da chefia, passando pela revisão, paginação, funções dos jornalistas e até aquilo que se faz na versão online da publicação onde trabalho.

Perto do fim da visita, a única estagiária que temos proferiu algumas palavras, no sentido de lhes dar a conhecer aquele que poderá ser o primeiro passo no mercado profissional. A grande maioria dos alunos estava calado. Porém, havia um que só perguntava: “quanto é que ganhas?” Confesso que não percebi para quem era a pergunta. Mas fiquei a pensar na questão desse jovem.

Quando era mais novo fui aconselhado a escolher uma profissão com a qual me identificasse e que me preenchesse. Em nenhum momento da minha vida estudantil foi encaminhado para profissões com saída profissional ou com remunerações mais atractivas. Aliás, se assim fosse, não teria seguido este caminho. Nas conversas que mantinha com os meus colegas, não me recordo de ninguém ser sedento de dinheiro. Cada qual falava do que queria para a sua vida. Aliás, costumávamos dividir-nos entre os que eram a favor da universidade e aqueles que preferiam um curso profissional que poderia abrir mais facilmente as portas do mercado profissional. Essa era a questão. E não o dinheiro.

Porém, aquilo que o miúdo disse hoje deve ser a dúvida da maior parte dos adolescentes da sua idade. Eles pouco querem saber das profissões. Querem sim a segurança profissional e um bom ordenado. Mesmo que, para isso, tenham de optar por um caminho que não os preencha tanto. Quando alguma pessoa mais nova me pede conselhos, digo sempre o mesmo: escolhe aquilo que te realiza. Opta pelo caminho que te faz feliz, por mais espinhoso e assustador que possa ser. Mas a verdade é que não censuro os adolescentes que pensam em dinheiro. É que na minha altura discutia-se a saturação ou não da profissão. Agora, é só notícias de despedimentos, de ordenados em atraso e de falências. E se isso assusta quem trabalha, aterroriza quem está a um passo de tentar entrar no mercado de trabalho sem fazer a menor ideia do que irá enfrentar.

36 comentários:

  1. Eu acho que estamos a criar a geração da crise. E, apesar de achar que os jovens têm que dar valor ao €€€ e não podem ter tudo o que querem, este medo do futuro não é nada saudável...

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    1. Acho importante encontrar um equilíbrio entre o dinheiro e a realização pessoal.

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  2. eu estudei para aquilo que sempre gostei, cheguei tarde à conclusão do que realmente queria...mas uma vez escolhido o curso (só mesmo na universidade é que lá me decidi, melhor tarde que nunca xD) nunca mais quis saber de mais nada a não ser de Design...nunca me importei com o que iria ganhar, mesmo já se falando de crise...felizmente arranjei logo trabalho e, confesso que se ganha-se mais não me importava! Mas também sei que é melhor este certinho do que nenhum! Até porque está bem acima do salário mínimo... Os meus pais nunca me incentivaram para esta ou aquela área, sempre quiseram que eu fosse bem sucedida! E sempre me apoiaram nas minhas escolhas...e agora tenho orgulho em dizer que sou daquelas que se levanta todos os dias e vem feliz trabalhar, porque design gráfico sempre foi aquilo que gostaria de fazer, em pequenos pormenores da vida cheguei à conclusão disso!!! :)

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  3. Os jovens acompanham a realidade que vivem em suas casas e eu atrevia-me a dizer que na maioria das família há alguém frustrado porque não ganha o suficiente para as despesas básicas ou se ganha, não sabe se amanha vai ganhar.
    No entanto, eu continuo a acreditar na realização profissional, tanto que estou à procura de um emprego que me realize mais, mesmo que para isso tenha que ganhar menos e deixar o atual em que já estou efetiva na empresa.
    Vai da mentalidade e das vivências de cada um. Quem sabe se "amanhã", depois de conseguir sair daqui, eu também venha a pensar como esse jovem quando olhar para o extrato ao final do mês e vir outro numero. Mas que se pode fazer? Sou sonhadora! :)

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    1. Um grande problema. Os pais descarregarem as suas frustrações nos filhos.

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  4. sou da área de letras e entrei agora no mundo do trabalho e posso dizer que me sinto realizada mas ao mesmo tempo sinto medo e pânico... medo de não ter possibilidades de fazer aquilo que adoro por muito mais tempo e pânico de não conseguir pagar a renda, comida e outras coisas essenciais... o ordenado nunca me importou mas percebo bem o valor da "segurança"...

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    1. Sou jornalista de um dos maiores grupos editoriais nacionais há coisa de oito anos e vivo com esse medo diariamente. Mas não deixo que mande em mim. Sou eu que mando nele.

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  5. se eu soubesse o que sei hoje não estava em letras certamente, oh áreazinha mais pobre...

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    1. Imagina sentires isso numa área onde não te realizas e que escolheste apenas por dinheiro.

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  6. Pois.... a maioria anda uma vida a estudar e depois tem que partir para um trabalho qualquer que lhe pague o sustento...
    É a lei da vida, e são poucos os sortudos que conseguem trabalhar e viver daquilo que gostam ...

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  7. pois o que acontece à minhs geração é que os mais velhos só dizem para seguir-mos apenas aquilo que tem saida profissional, mas eu prefiro passar os meus próximos 40 ou 50 anos a fazer algo que me realize do que a trabalhar em algo que eu deteste. a vida é curta demais, portanto, mais vale passá-la a fazer algo que me agrade a mim e nao aos outros.

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  8. Infelizmente, hoje em dia, a maioria dos jovens não pode pensar de outra maneira.
    Eu mantenho-me na minha, a tirar o curso que sempre quis (jornalismo) e com esperança de que um dia tenha um bom trabalhinho.

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    1. E acho que fazes muito bem. E os pais devem cultivar esse modo de pensar. Até porque nos dias que correm todos os mercados são assustadores.

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  9. É preocupante ouvir algo assim. Alguém que pense única e exclusivamente no seu ordenado será um mau profissional.
    Abraço

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    1. Até pode ser um bom profissional. Será é certamente uma pessoa pouco realizada profissionalmente.

      Abraço

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  10. No dia 6 de Outubro de 2011 pelas 23.45 recebi um email que viria a mudar a minha vida. O remetente era a Direcção Geral do Ensino Superior cujo assunto era a minha colocação na universidade.
    Uns meses antes a grande questão era: que curso escolher para que no futuro conseguisse ter alguma estabilidade? Teria de ser um curso que à partida tivesse alguma saída profissional e que sobretudo gostasse e que fosse de encontro aos meus interesses.
    Ao longo de todo este processo, os meus os meus pais sempre me apoiaram e ajudaram-me a identificar qual seria a área, e posteriormente, o curso que melhor se identificaria comigo, nunca me impondo algum. Teria de ser eu a optar e a tomar umas das primeiras decisões mais importantes e difíceis para a minha vida.
    No secundário, sempre imaginei que seria o curso de Ciências da Comunicação o ideal e o que mais se adaptava aos meus gostos. Contudo, no momento de decidir e após alguma reflexão achei que não tinha perfil para tal.
    Acabei por me candidatar ao curso de Turismo e no dia 10 de Outubro de 2011, o dia da mina primeira aula na universidade, tive a certeza de que tinha tomado a decisão correcta. Após três longos anos de estudo confirma-se esta teoria 
    Tudo isto para dizer que, cada vez mais se impõe a pergunta que o rapaz de 16anos fez “ Quanto vamos ganhar?” .
    A escolha de um curso, para quem ainda tem o privilégio de o fazer , tem de ser uma opção muito bem pensada e ponderada porque na maior parte dos casos, nem sempre as nossas preferências vão de acordo com as necessidades do mercado ou com aquilo que poderá ter mais saída. Contudo, é fundamental, durante o nosso período de formação gostarmos daquilo que estamos a fazer e sentirmos que tudo aquilo faz sentido e que não estamos a tirar um curso superior apenas para acrescentar ao currículo.
    NS

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    1. Como dizes, e bem, a chave está no equilíbrio entre a realização profissional e monetária. O sucesso reside aí.

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  11. Eu sempre fui daquelas pessoas, que por mais testes fizesse, nunca me sentia "atraída" pelos resultados que daí advinham e sempre disse que queria era trabalhar, depois logo se via. Ora, tive alguns trabalhos temporários e depois encontrei este, no qual já estou há 12 anos. Se me perguntarem se é o meu sonho, posso afirmar que não, o meu sonho são animais, mas isso não me põe comer na mesa, portanto trato de fazer o meu trabalho bem e desafiar-me a fazer mais e melhor para manter acesa a chama eheheh. "Na minha altura" já pensava era em ter trabalho e ganhar o "suficiente" para satisfazer as minhas necessidades básicas e materiais. Não acho nada estranho quando ouço os jovens a perguntar quanto é o ordenado... :)

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    1. Eu também não acho estranho. É a realidade que lhes é vendida.

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  12. É um facto, como universitária também penso nisso. Há que ponderar uma conciliação do que gostamos de fazer com o que nos pode render mais, o que não quer dizer que na maioria das vezes seja o que pese mais.

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    1. Como já referi, acho que deve ser encontrado um equilíbrio que permita uma realização total.

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  13. A maneira correcta de pensar (que também me foi incutida) é escolher precisamente algo que nos realize.
    Mas numa altura de crise, com determinadas áreas tão saturadas e com uma taxa de desemprego tão elevada, as saídas profissionais e a remuneração acabam por ser preocupações crescentes e factores decisivos para a escolha da área a seguir :S

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    1. Mas será que neste momento existem mercados que não estejam saturados e que paguem muito bem a um jovem licenciado?

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  14. Bom dia:)

    No fundo, no fundo, no fundo tu fazes a pergunta e dás a resposta.
    O ideal para todos os jovens seria poder escolher aquilo que os realiza, que os faz felizes, mas tu e eu sabemos que para muitos essa não é uma realidade ao alcance de todos.
    A culpa não é toda deles...e aqui me cabe fazer um mea culpa: Tenho duas adolescentes em casa que cresceram conscientes da dificuldade do dia a dia, sei que por isso vão sempre colocar nos pratos da balança a ponderação entre o sonho e a viabilidade de emprego...mas o que me assusta mesmo...é que se não der certo, não poderão contar comigo para as ajudar, porque alguém está a tratar de arruinar essa possibilidade na minha velhice....

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    1. Isso dos pais ajudarem os filhos dava um grande debate...

      Aposto que vais aconselhar muito bem as tuas filhas. Tenho a certeza disso.

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  15. Eu sempre fui apologista de fazer o que me preenche, independentemente de receber o salário mínimo ou o triplo. Na hora de aceitar uma proposta de trabalho confesso que a questão financeira não é a primeira coisa a considerar, mas sim o quão feliz e realizada me vou sentir a fazer tal trabalho. Já me chamaram idealista e irresponsável muitas vezes por pensar assim. É certo que não tenho grandes encargos. Se tivesse, se calhar, pensaria de outra forma. Mas não sei até que ponto é que seria capaz de pôr o dinheiro à frente da minha felicidade...

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    1. Eu gosto muito do que faço. Mas isso não significa que aceite condições miseráveis apenas porque gosto da profissão. Aliás, numa entrevista, o candidato não deve dar a entender isso senão isso vai ser usado pelo entidade empregadora.

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    2. Bom, claro, acho que tens toda a razão. Penso que me expliquei mal. É certo que, por muito que goste do que faça (e gosto!), e mesmo não tendo encargos, não significa que aceite um trabalho que se assemelhe a um regime de escravatura ou cujas condições sejam miseráveis. Quando disse o que disse, parti do pressuposto de que não estaria perante uma proposta de trabalho dentro desses parâmetros. Nesse caso é claro que não aceitaria, por muito que soubesse que até podia haver a hipótese de a situação se alterar..

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  16. O emprego tem um papel fundamental nas nossas vidas, ou não fosse a trabalhar que passamos a maior parte do nosso tempo, ter um emprego que nos realize é fundamental para a nossa saúde psicológica, mas a grande questão é que mesmo a fazermos aquilo de que gostamos podemos não nos sentir realizados, podemos ter mau ambiente no trabalho, ser mal remunerados ou até sermos explorados, o que pouco a pouco mina qualquer felicidade que daí advém.
    Em Portugal o problema não passa só por remunerações baixas, passa por falta de reconhecimento da importância dos trabalhadores e das suas capacidades e falta também o contrário, a penalização dos maus trabalhadores, os que se acomodam e se tornam parasitas, os que as empresas têm imensa dificuldade em despedir.
    Em nunca soube o queria fazer da vida, sabia apenas o que não queria, nem pensar seguir a via do ensino e na área da saúde apenas psicologia me atraía, mas tinha de decidir com 14 anos a área que iria seguir, escolhi científico natural pois era a área que me dava mais saídas no final do secundário.
    Sempre gostei de imensa coisa e sempre detestei o nosso sistema de ensino, tão linear, tão pouco criativo e com pouca margem à auto aprendizagem e à descoberta, os professores, tirando 3 ou 4 ao longo de 12 anos de estudo, na sua maioria não eram motivadores, muitos não sabiam expor os assuntos de forma interessante e não sabiam cativar os alunos.
    Conclui o secundário com uma média razoável de 15 valores, sem grande esforço pois estudar para testes não era algo que gostasse de fazer, havia tanta coisa mais interessante para fazer, como ler, pintar, desenhar…
    Lembro-me de estar a terminar o secundário quando li um artigo sobre marketing, uma área em expansão com remuneração atrativa, a parte da remuneração era aliciante mas o que mais me chamou a atenção foi o facto de ser transversal a diversas áreas e assuntos e de envolver uma componente criativa muito grande, resolvi tirar o curso de marketing.
    Tive a sorte de começar a trabalhar ainda antes de terminar o curso o que me deu uma vantagem em relação a muitos colegas e que me permitiu mais tarde manter-me a trabalhar na área, hoje faço aquilo de que gosto, é uma profissão aliciante e nada monótona.
    Mas hoje tenho noção que poderia ter optado por diversas áreas tão distintas como design, advocacia ou comunicação.
    Não existe só uma área onde nos possamos realizar, existem várias, concordo que devemos seguir os nossos sonhos e aspirações mas com os pés assentes na terra, pois o dinheiro não trás felicidade mas ajuda-nos a fazer coisas que nos fazem felizes e a pagar as contas ao final do mês.
    Neste momento os jovens devem ponderar muito bem as suas escolhas, não adianta tirarem o curso que sempre aspiraram se depois nunca o irão exercer isso será uma frustração ainda maior do que enveredar por outro curso ligeiramente diferente ou até noutra área distinta mas que também gostem.
    Acho que foi instituído que os jovens têm muitos direitos e poucos deveres, um curso superior não é equivalente a um bom emprego garantido e um bom emprego não implica um curso superior.
    A pergunta do ordenado não me surpreende em nada, vivemos numa sociedade consumista em que as pessoas são medidas pelo que possuem e não pela sua personalidade, é normal que os jovens se preocupem se o emprego lhes vai permitir ter esse estilo de vida.

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    1. Gostei do teu texto. A verdade é que os mercados hoje estão saturados. Por isso, escolher um a pensar num emprego fácil é tão arriscado como escolher um de que se gosta. Além do mais, os anos do curso são suficientes para que tudo mude.

      O ideal é encontrar um equilíbrio.

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  17. Quando eu ainda andava a estudar estive em representação da minha universidade numa feira de ensino e quando uma miúda me falou nas saídas profissionais e eu lhe disse que o meu curso andava pela "hora da morte" ela respondeu-me: "hoje em dia está tudo tão mau que o melhor é escolhermos o curso que gostamos e depois logo se vê". Isto já foi há cerca de 7 anos, mas continuo a achar que ela tinha razão. Porque se formos escolher uma profissão só pelas saídas profissionais ou pelo ordenado corremos o risco de, além de sermos uns frustados, ficarmos no desemprego à mesma. E assim pelo menos temos um curso que gostámos de fazer e em que fomos bons. E depois logo se vê. ;)
    beijinho

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    1. Eu acho que tem muita razão. E há sempre espaço para os bons ;)

      beijos

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