23.1.14

agora escrevo eu #24

Muitas pessoas gostam de escrever. Mas têm medo de partilhar aquilo que escrevem. Este é um receio que gostava que desaparecesse do mundo. E ainda bem que a Daniela perdeu a timidez que sentia em relação às suas palavras. Até porque palavras e sentimentos nunca ficam mal. Que seja um exemplo para os tímidos que escondem as suas palavras do mundo.

“Amar é isso mesmo. Ter cinquenta peles, sentir cinquenta sensações, ter-se a si mesmo e o outro também. Amar é ser-se completo e sentir-se vazio quando o outro está longe. É estar só quando o outro não está por perto, mas saber-se que se é amado e que estamos no pensamento de alguém. É ter certeza que vamos ter saudades, mesmo que nos vejamos logo à tarde.

Amar é isso mesmo. Chegar a casa, atirar com os sapatos para o fundo do corredor e perguntar como correu o dia. É lamuriar-se e reclamar com a vida que se leva, mas agradecer pelo o facto de a outra pessoa estar ali e só ali e não noutro lugar. Porque ela escolheu estar ali. Porque ela quer estar ali. Amar é assim, escolher-se sem se ter opção de escolha. É uma escolha voluntária que se faz sem pensar. É saber que se fez a escolha acertada, sem perceber quais foram as razões. Amar é olhar para o outro e por vezes percebemos que o outro é um mistério, é descobri-lo dia após dia, sem noção dos dias da vida conjunta.

Amar é assim, perceber que o nosso mundo é algo mais só porque as escovas dos dentes estão no mesmo copo, só porque as chaves de casa estão em ambos os porta-chaves, só porque sim. Amar é não ter respostas, é não ter explicações para aquilo que se quer explicar. É um simples assim. E é assim que se ama. No meio de 7 biliões de pessoas, aquele ser veio parar até nós. E nós fomos parar até ele. E se não estivermos juntos é mais uma parte, no meio de tantas partes, do universo que não faz sentido. Porque amar, e não amor, é dar de si mesmo, é entregar-se, é pensar no outro sem saber porquê, é querer agrada-lo sem precisar de razões.

É perpetuar a imaculidade da pessoa em nós, amar alguém é estender-nos a nós mesmos e ligar-nos a outra pessoa. São as coisas simples que nos fazem amar alguém até ao fim da nossa existência individual. É um café num café qualquer da cidade, é um telefonema para avisar de quem vai buscar os miúdos hoje, é deitar-nos de frente um para o outro e saber que amanha é um outro dia e a outra pessoa ainda vai estar ali. É um beijo no topo da testa em sinónimo de despedida e de respeito. É um abraço vindo do nada e um favor à muito pedido. É um de nós ir ao supermercado, só porque o outro precisa de chocolate para o leite, pois sem isso não consegue adormecer.

Amar é estar ali, sentados no sofá da sala a ver uma série, é conversar na mesa da cozinha, é discutir problemas sem se levantar o tom da voz. Amar é ter limites, sendo-se ilimitado. Ilimitado no amor e naquilo que podemos dar ao outro, respeitando os limites daquilo que constrói o amor entre ambos. Amar é ser-se assim, algo mais, ser uma única pele, só porque existimos em conjunto. Amar só porque sim.”

2 comentários:

  1. Estou contigo, tenho 13 ano de casamento, dois filhos que são a luz dos meus olhos e apesar dos nossos defeitos tudo se encaixa. Desculpar, perdoar só mesmo para os que sabem Amar só porque sim.

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