20.3.13

o que dizemos vs o que somos


No final do último jogo do Benfica, Jorge Jesus deu como exemplo três situações de algo de que não me recordo agora. Depois disto, referiu-se aos mesmos exemplos como “ambos.” Um erro crasso. Disso, ninguém duvida. Desde então, e como é hábito quando se fala deste senhor – talvez gere tanta controvérsia por ser treinador de futebol – é apelidado de “burro”, “bronco”, “parvalhão” e por aí fora. Mas será que é mesmo assim? Será que falar mal faz dele (ou de outra pessoa qualquer) um burro?

Pessoalmente, considero Jorge Jesus um homem com uma inteligência muito acima da média. Mais, na profissão que escolheu é mesmo um dos melhores. Se me perguntarem se prefiro um treinador que vista bem, que seja elegante e que as mulheres apreciem, como era o caso de Quique Flores, mas que nada ganha, tenho de dizer que prefiro o tal “burro” que mete a equipa a jogar futebol e que conquista troféus. Mesmo que não saiba falar e que pinte o cabelo com cores que pessoalmente acho ridículas. Dou este exemplo no futebol como daria noutra área qualquer. Nos dias que correm acho que se valoriza mais o pacote do que o valor do conteúdo. E a verdade é que o valor não se mede pela forma correcta como se articulam ideias.

Por isso, considero que não podemos catalogar uma pessoa de burra apenas porque não sabe falar. Há quem leia livros atrás de livros. Neste caso, Jorge Jesus tem diversos televisores na sala para ver o maior número de jogos de futebol em simultâneo. Há quem saiba as últimas tendências da moda. Jorge Jesus sabe que há um puto de 12 anos na América do Sul que vai ser craque e que deve ser comprado agora para ser valorizado. Há quem fale de um modo que soa a poesia. Jorge Jesus abre a boca e diz ambos os três. Agora, de todos estes, quem é o mais inteligente? Não sei. Mas não me limito a catalogar alguém apenas pelas palavras.

Porém, faço uma grande crítica ao treinador e a todas as pessoas que estão num patamar equivalente. Sendo pago com milhões de euros por ano, deveria ter o brio pessoal de corrigir as suas lacunas. Para dar um exemplo, devia perceber que não fica bem lamber-se na televisão antes de falar. Devia investir em aulas que lhe permitissem falar melhor em público. Nem que seja pelo simples facto de ser um dos rostos mais visíveis de uma das maiores marcas portuguesas. E isto aplica-se a Jorge Jesus, como se aplica aos políticos que não sabem falar em inglês e que fazem figuras patéticas a tentar mostrar que sabem aquilo que realmente não sabem. Tal como se aplica a todos os chefes e gestores deste país que sendo pagos a peso de ouro deveriam ter a consciência de melhor a imagem e postura correcta. É certo que o que importa não é o pacote mas valorizar aquilo que somos depende apenas de nós.

Porém, acho que muitas pessoas não corrigem por acharem que são uma espécie de perfeição. Não custa assumir os erros e a necessidade de corrigir algo fazemos de forma errada. Isso não é um sinal de fraqueza mas de grandeza.

26 comentários:

  1. Eu, grande Benfiquista, quero o JJ fora do Benfica. Refiro-me apenas a algumas questões "técnico-tácticas"...

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  2. Concordo com a tua opinião do início ao fim. Bons exemplos que também servem para olharmos um bocadinho para nós. Bem falado ;)

    http://qaoquadrado.blogspot.pt/

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  3. Não sou do Benfica,mas concordo com o que disseste.Ele tem uma inteligência muito pratica...

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  4. Concordo totalmente...para que serve o dinheiro em excesso senão for usado para melhorar, tudo aquilo que faz de nós um ser melhor, em todos os aspectos?

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  5. Passa no meu blog, tenho um selo para ti! *

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  6. Concordo plenamente. Ele é um homem inteligente e na sua profissão é um dos melhores. Não é por falar mal que deixa de o ser. Conheço muita gente que fala mal, alguns nem escrever sabem, mas são inteligentes. Simplesmente não tiveram a oportunidade de aprender e também não se esforçam por a ter, como é o caso do Jorge Jesus. É tipicamente tuga, acomodarem-se ao que têm e não se esforçar por sair da concha, não se estimularem.
    beijinho

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    1. Eu considero que mesmo quem está à sua volta devia alertar para o facto de ter uma má imagem junto das pessoas.

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  7. Realmente o brio profissional não passa só por apresentar resultados. O exemplo que dás, do lamber-se e morder os lábios em televisão, não é preciso dinheiro para corrigir isso. Acredito que possa ser um género de tique, mas com certeza que tem alguém muito próximo dele que vê e que podia alertar para o ridículo da situação.

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  8. Há o exemplo do grande Luís Figo, cujo meu gato herdou o último nome (lol). Grande jogador, que sabe falar. Definitivamente não é um brutamontes nabo que jogava à bola.
    Mas entendo o que queres dizer. Já diversas vezes tive esta conversa em casa: será melhor ser excelente numa determinada coisa e um zero noutras, ou será mais acertado saber o geral de cada?

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    1. É bom ser excelente em algo e aproveitar o que se ganha com essa excelência para ser uma pessoa mais equilibrada.

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    2. Pois, o problema é que raro são os casos em que isso acontece. Conheço o exemplo de um excelente professor de Anatomia, que me deu aulas. Sabia imenso mesmo sobre o assunto, mas em termos de cultura geral era um zero. Não sei até que ponto isso será útil, para o equilíbrio.

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    3. É um tema que dá pano para mangas...

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  9. Gosto de aplicar a máxima de Santo Inácio de Loyola, dos actos ao invés das palavras, e no meu ramo de actividade, lida-se com muita gente (de muitos paises, idades dos 16 aos 60 e muitos, de muitas zonas do pais) e muita categoria profissional e vende-se muito uma imagem e projecta-se muito a imagem e (quase) ninguem admite o erro, mas nos "bastiadores" sabe-se tudo e fala-se de tudo, sempre primei pela sinceridade e entrei com o pé esquerdo e agora (não me ponho em bicos de pés mas) sinto-me confortavel com o que faço e no que faço.
    E prefiro um "bimbo" trabalhador a um "artista" que é só fogo-fatuo...

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  10. Concordo com a critica que fazes, e acho realmente que hoje em dia se valoriza demasiado o pacote, em relação ao conteúdo...

    Não percebo muito de futebol, e o sr. até pode ser bom no que faz... Mas, para mim, há ali qualquer coisa que não bate certo... qualquer coisa que não me inspira confiança...

    Mas lá está, é um "julgamento" de fora, de quem não conhece... e vale o que vale, que é próximo de nada...

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    1. Acho que no caso dele devia preocupar-se mais com a sua imagem.

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