como é que aguentas?

Este texto vem no seguimento daquilo que escrevi pela manhã. Ou seja, o tema viver ou sobreviver? Quem me conhece sabe como tem sido a minha vida ao longo dos últimos largos meses. Existindo esse conhecimento, é normal que me façam esta pergunta: “como é que aguentas?” E a verdade é que não penso muito nisso, até ao momento em que sou questionado e dou por mim a matutar num tema delicado.

E quando penso nisso descubro os motivos que me levam a aguentar. Aquilo que me faz sorrir quando não tenho vontade de o fazer. Onde vou buscar as forças que julgo não ter. Em primeiro lugar, aguento porque desistir não é opção para mim. Nunca foi. Não é. Nem será no futuro, por mais negro que seja o quadro. “Até o árbitro apitar pela última vez tudo pode acontecer”, é uma frase dos meus anos de futebol que aplico aos obstáculos que tenho de ultrapassar.

Para mim, desistir seria desiludir os meus pais. A minha mulher. A minha irmã. A minha sobrinha. A minha família e amigos. Pior, seria desiludir-me. Seria deixar de acreditar em mim enquanto pessoa. E essa hipótese não se coloca. Aguento, porque não me lembro daquilo por que passo durante o dia. Evito pensar no que me apoquenta até ao cair da noite. Aí, confesso que é mais complicado. Porém, nos momentos em que mais sofro durante o dia, faço tudo para que aquilo que sinto não seja visível aos olhos de ninguém. Faço os possíveis para que a minha dor não seja perceptível a ninguém.

Para manter o sorriso, lembro-me de tudo e de todos aqueles que me fazem sorrir. Lembro-me dos diálogos com a minha sobrinha. Das brincadeiras com a minha mulher. Das conversas com os meus pais. Das conversas que tenho convosco e até dos momentos de vergonha que aqui partilho. Tudo é válido para manter o sorriso. E isto acaba por se transformar em força que me ajuda a superar mais um dia. E mais outro. E o seguinte num processo sem fim. Resumindo, é assim que aguento. E assim continuará a ser. Até porque, como um dia me disseram: “Por mais nuvens que tenha o dia, é certo que amanhã o Sol voltará a nascer.”