Tudo corria bem até ao momento em que
João se aproximou da fila 23 do avião que o iria levar até Dublin. A única
coisa que não queria, apenas naquele momento pois era algo com que até
costumava brincar em outras viagens, era a companhia de uma mulher bonita e
sensual no lugar ao seu lado. Mas, contrariamente ao desejado, lá estava ela,
uma morena bastante bonita. A beleza era tal que nem o seu mau momento tinha
poder suficiente para que não a visse.
Aproximou-se da fila, na esperança de
que a mulher se desviasse para que pudesse passar para o seu lugar. Mas ela não
se mexia. “Peço desculpa”, disse. E ela continuava a não se mexer. “Peço
desculpa”, voltou a dizer com um tom de voz mais elevado. E nada. A morena
permanecia imóvel. Para não lhe tocar no ombro optou por passar com a mão
direita em frente aos seus olhos. Foi então que a mulher desviou os cabelos das orelhas e retirou os auscultadores com que ouvia música.
“Sim”, disse ela. “Peço desculpa mas a
música estava um pouco alta e quando estou com música nos ouvidos parece que
desligo do mundo e não reparo em nada. Mesmo nos homens que estão ao meu lado”,
brincou num tom de voz do seu agrado mas que desejava detestar com todas as
suas forças. “Eu também sou assim”, respondeu revelando um tom de voz um pouco
ríspido. “Queria passar para o meu lugar se fosse possível”, acrescentou. “Claro
que sim. Peço desculpa”, disse, levantando-se de seguida.
João ficou ainda mais perto da mulher
que tinha tudo para lhe agradar mas que preferia tentar ignorar. Foi então que
sentiu o aroma do perfume DKNY, um dos que mais gosta nas mulheres. Mas
conseguiu manter o ar de homem que despreza mulheres, algo que não passou
despercebido à morena. João instalou-se no seu lugar e foi a sua vez de se
entregar à música, entregando-se aos melhores temas dos Foo Fighters com um
volume que permitia que a mulher percebesse a letra na perfeição. Colocou o cinto, encostou a cabeça e fechou os olhos na esperança de só os voltar a abrir
no destino
Até que sentiu um ligeiro toque no
ombro. Abriu os olhos. Era a morena que pretendia falar consigo. Agora era a
sua vez de retirar os auscultadores. “Foo Fighters! Só podes ser boa pessoa”,
disse. “Ok. Era só isso?”, reagiu João. “Acho que começámos mal pois parecias
chateado por não te ter ligado nenhuma quando querias passar mas sou eu que sou
despistada. Sou a Inês e peço-te desculpa”, referiu. “Não é isso. Não tens de
pedir desculpa nenhuma e que todos os meus problemas fossem esperar que
reparasses que pretendia passar”, explicou. “Mas pelo menos podes dizer-me o
teu nome”, prosseguiu Inês. “Claro. Sou o João”, respondeu.
“Já deves ter reparado que além de
despistada falo pelos cotovelos. Por isso esta é a parte em que invado a tua
privacidade e te pergunto o que vais fazer a Dublin”, gracejou. “Vou atrás de
uma pessoa”, disse. “Quer dizer, vou à procura de uma pessoa”, corrigiu. “Homem
misterioso e de poucas palavras. Além disso vais atrás, quer dizer, à procura
de alguém. Esta é a parte da conversa em que me dizes que se me contares algo
mais terás de me matar ou que trabalhas para o Governo a quem resolves os
problemas chatos”, brincou, fazendo com que João deixasse cair o escudo e
ficasse cada vez mais indefeso perante a simpatia de uma mulher que tinha
acabado de conhecer. “Sim, tens razão. É a parte da conversa em que te posso
dizer que faço cobranças difíceis e nada mais do que isto para não te arranjar
problemas”, referiu com a voz colocada e com o seu ar mais sério. Inês, que era
o espelho da alegria petrificou perante tal resposta. “Estou a brincar contigo”,
disse João soltando uma gargalhada sonora. Inês sorriu. "Pelo menos deu para te
ver os dentes e para perceber que tens humo", referiu.
“Agora a sério. Esta é a parte da
conversa em que te digo que me despedi e que decidi ir a Dublin à procura de
uma pessoa que vi apenas uma vez e de quem pouco sei”, explicou. “Isso é que é
amor”, disse Inês. “Ou então apenas parvoíce”, acrescentou João. “Acabei de te
conhecer mas quem faz isso por uma pessoa que mal conhece não pode ser palerma.
Longe disso”, argumentou. “Obrigado. E qual o motivo da tua viagem?”, perguntou para mudar de assunto.
“É uma viagem de trabalho. Vou ter algumas reuniões mas que não implicam ir
atrás de alguém ou fazer o trabalho sujo do Governo”, gracejou, motivando novo
sorriso a João.
“Afinal estava a ser parvo. Ainda bem
que me calhou esta companhia”, pensou João enquanto sorria para Inês. Até que
um homem se aproximou de ambos. “Peço desculpa menina mas está no meu lugar”,
disse, mostrando o bilhete respectivo ao lugar B da fila 23. Inês confirmou os
dados no seu bilhete. “Tem razão. Peço desculpa. O meu lugar é o B mas da fila
13. Mudo já”, respondeu numa altura em que João esperava que o homem dissesse
que ficava com o lugar na fila 13. Algo que não aconteceu.
Inês levantou-se. Retirou a sua mala do
compartimento da bagagem e começou a andar para o seu lugar. Até que se virou
para trás. “Boa sorte João. Espero que a viagem corra bem”, disse. João
agradeceu com um acenar de mão e um sorriso não sendo capaz de tirar os olhos
de Inês enquanto esta se afastava de si. O homem sentou-se. “Esta gente. Nem
olham para os bilhetes. Parvos”, disse, sem que João lhe ligasse nenhuma. Mas
se não ligou às palavras foi incapaz de não ficar incomodado pelo cheiro. O
aroma do perfume DKNY de Inês deu lugar a um cheiro resultante do consumo
excessivo de tabaco misturado com a transpiração que parece acumular-se no
corpo e na roupa. “Só tens o que desejaste”, pensou João.
Tenho pena do João... tantas mulheres que se cruzam no seu caminho, mais ou menos interessantes, mais ou menos bonitas e ele só quer uma... Será que vai encontrá-la? Será que vai valer a pena ou será uma viagem em vão??? Será que já tens o final planeado, ou escreves ao sabor do vento e deixas que as ideias fluam e surjam no momento em que te sentas ao computador? Seja qual for o final, sejam quais forem as cenas dos próximos epsódios... eu estarei aqui como espectadora fiel e ansiosa...
ResponderEliminarObrigada Bruno!
Beijinhos
O início estava pensado. Existe uma luz sobre o final. O caminho é encontrado quando começo a escrever. O desenrolar do capítulo é algo do momento. Obrigado pelo teu apoio e simpáticas palavras.
EliminarBeijos
Este foi o capítulo que mais tive prazer em ler..muito bom, mesmo...e o melhor a morena não é a Sophia...coisas da vida!....muito bom! (Des) encontros, mesmo.
ResponderEliminarConfesso que foi dos que me deu mais gozo escrever. Nunca esteve pensado ser a Sophia. A questão é decidir se a Inês se fica por aqui ou se terá impacto na história.
EliminarObrigado pelas palavras.
Competição, sempre aclara as coisas!....ou não!
EliminarPois... vamos ver...
EliminarAhahahah, muito bom!
ResponderEliminarObrigado :)
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