Tenho uma irmã mais velha. São oito os anos que nos separam. Tivemos a fase das turras e também, entre muitas outras, aquela em que saíamos os dois para ir para a noite. “Deu-me” a única sobrinha que tenho e é uma das pessoas que mais amo na vida e por quem sou capaz de tudo. Talvez por isto, acho um especial encanto em relatos de histórias protagonizadas por irmãos que também têm alguns anos de diferença, como é o caso deste relato da Pintarolada, autora do blogue Pintarola que, apesar do nervosismo, teve a coragem de abordar um tema sobre o qual muitos adultos não falam com os mais novos.
“Sempre tive uma certa relação de protecionismo em relação á minha irmã. Talvez demais! Erro meu. Talvez por ser uns dez anos mais velha! Temos sempre uma tendência para pensar, ou pelo menos querer, que aquela pessoa que sempre protegemos tome decisões mais corretas que as nossas. No nosso inconsciente essa pessoa tornar-se-á no reflexo das melhores escolhas que poderíamos ter tomado no passado.
Agora que ficamos cá as duas, imaginava que as questões relacionadas com namorados seria algo perfeitamente adiável, de um futuro longínquo. Que inocente que és, pensam vocês. Pois era! Um dia, andava eu de volta dos tachos na cozinha, ela vem-me contar que tem um namorado! A minha reação foi como se ela me estivesse a contar que estava grávida ou a snifar cocaína. Quase que me dava um piripaque, sentei-me na cadeira, com a cabeça afundada nas mãos a reter toda a informação. Disse que a coisa é séria, já tem uns três ou quatro meses, já lhe deu uma rosa, duas caixas de chocolates e um CD dos One Direction (original! Importante para comprovar a veracidade do amor). Nada de piercings ou penteados duvidosos, não fuma, não ouve música estranha, não é gótico, usa as calças no lugar correto! Todos estes argumentos para acalmar o meu espírito inquieto. Lá tive que aceitar os factos: a minha irmã mais nova, aquela que ainda há bem pouco tempo me fez ficar colada à porta do bloco onde nascem bebés, na esperança de que um choro me fosse familiar, mesmo sem nunca o ter ouvido! Pulei de alegria quando a enfermeira vinha com uma espécie de embrulho na minha direção e do meu pai: confirmou-se que o bebé com choro mais esganiçado era mesmo o dela! Fez-me sentir incrivelmente feliz quando vi a língua multicolorida de tanto chorar, até que achei que era uma bebé feia mas ainda assim achei-a o máximo e não a trocava por nada porque, logo da primeira vez nos vimos, vi olhos prometedores de muitas alegrias. A minha irmã que ainda ontem corria de fraldas para o meu quarto para que lhe lesse uma história ou a levasse ao parque. Parece que foi ontem que lhe caíram os dentes da frente e revejo mentalmente a cara endiabrada que fazia para as fotos, sem dentes, carinha gorducha, que se prometia portar-se bem com a promessa de um ovo Kinder. Nunca se portava bem! E naquele dia, estava eu na cozinha e ela, agora mais alta que eu, cabelos indomáveis, cheios de caracóis, com um sorriso de arrasar qualquer um (mas que preferia que não fosse para já) vem contar-me que um marmanjo qualquer anda a dar-lhe beijos na boca e anda de mão dada com ela na escola!! Nem queria acreditar que a minha irmã já soubesse dar beijos na boca!
Acabamos as duas num abraço, ela mais piedosa que eu, a dar-me palmadinhas nas costas! Parecia que me tinham tirado o chão. Não estava preparada para lidar com isto. Muito menos sozinha.
Contei a uma amiga. Aconselhou-me a falar-lhe em preservativos. Achei que estava louca! É muito cedo para isso. Porém, a realidade começou a dar de si e tive a percepção que estava na altura de termos "a" conversa que qualquer pai ou mãe costuma ter. Dizem que por ser irmã mais velha ainda é melhor, que isso faria-a sentir-se mais á vontade. Mas quer-me parecer que a única pessoa que não estava nada confortável era eu.
Estávamos no carro, depois da escola. Respirei fundo e disse:
Eu: Precisas de ir ao médico?
Ela: Para quê?
Eu: Não sei. Sabes o que é a pílula?
Ela: Sei (com cara de: pergunta estúpida)
Eu: Se bem que eu espero que não andes a fazer nada disso, és muito nova!
Ela: Claro que não M., não sou maluca! Sei que sou muito nova para isso!
(Silêncio, muito silêncio)
Eu: (2 minutos depois): Sabes que já tens idade pra coiso não sabes?
Ela: Uhm coiso, o quê?
Eu: En...engravidar (ufa, nem acredito que consegui dizer)!
Ela: Ahahahah, sei! M. posso ensinar-te como se tem uma conversa com uma adolescente sobre este assunto?
Eu: (nãomeacreditoqueelavaidizeroqueerasupostoeudizer)
Ela: (virada para a frente, como se fosse eu a falar e a pessoa imaginária fosse ela): R. és muito nova, tens que ter cuidado para não estragares a tua vida até porque já és uma mulherzinha e podes engravidar e certamente não quererás isso. Por isso, nada de relações sexuais com rapazes. Quer dizer...com raparigas também não convém (Oi? O que fizeram com a minha irmã?)!
Portanto, neste momento, a minha irmã vai recordar para sempre a primeira conversa constrangedora como algo absolutamente cómico, vulgo, esquisito, em que a irmã mais velha diz algo como: "sabes que já tens idade para coiso"! Está bonito está...Definitivamente, este assunto exige parte II e desta vez vou encher-me de coragem e mentalizar-me que a minha irmã já deixou as fraldas!”