Há coisa de cinco anos fui para Andorra. Era Janeiro e fui passar alguns dias à neve com um grupo de pessoas. Fomos de avião até Barcelona. E daí fomos de carro até Andorra. O hotel onde íamos ficar estava lotado e acabei por dividir quarto com um amigo. Minutos depois de chegarmos ao quarto, reparei que a minha mala tinha sido violada, possivelmente no aeroporto.
“Zé Bastos (não é o nome dele mas é o que lhe chamo, entre muitas outras coisas), abriram a minha mala”, disse-lhe.
“Não pode!”, responde-me.
“A sério puto”, acrescentei, enquanto lhe mostrava os fechos partidos.
“Isso já estava assim. Estás a meter-te comigo”, referiu.
“Zé Bastos, estou a falar a sério. Não brinco com merdas destas”, disse.
Quando abri a mala percebi que me tinham roubado as luvas para a neve que tinha comprado em Portugal. Já não sei precisar mas acredito que também me tinham roubado mais qualquer coisa, além das luvas e do que vou falar agora. Depois de vasculhar a mala, percebi que não tinha o nécessaire. Ou seja, não tinha nenhum produto de higiene pessoal para uma estadia de quase uma semana.
“Roubaram-me o nécessaire. Fiquei sem nada”, referi.
Depois de ter dito aquela frase diversas vezes, convenci o meu amigo a ir comigo às compras para comprar tudo aquilo que não tinha. A viagem tinha sido um pouco cansativa. Não havia muito tempo para descansar até ao jantar mas convenci-o a ir comigo à rua numa altura em que estavam graus negativos.
Fomos a vários sítios onde comprei tudo aquilo de que necessitava, desde a escova de dentes e respectiva pasta ao perfume, passando pelo desodorizante e outras coisas como creme por causa do frio e por aí fora. Sei que ainda andámos uma meia hora (ou talvez mais) naquele entra e sai das lojas quando a temperatura não convidava a passeios. Acabei por não me aborrecer muito porque os preços eram mais simpáticos do que cá.
Compras feitas, regressámos ao hotel. Já no quarto, fui mexer novamente na mala. Precisava de tirar roupa e tinha algumas coisas para arrumar. Nesse momento encontrei o nécessaire. O tal que eu garantia ter desaparecido. Estava numa bolsa onde nunca coloco nada e onde não o procurei. Ou seja, do não ter nada para higiene pessoal, passei a ter tudo a dobrar.
“Zé Bastos, está aqui o meu nécessaire. Estava numa bolsa onde nunca guardo nada”, tentei explicar sem me rir. A cada palavra que dizia, mais o meu amigo se ria. Gozando comigo e fazendo diversas frases com a palavra nécessaire. Ainda hoje, quando estou com este amigo com quem tenho o prazer de trabalhar, é raro o momento em que não diz: “então e o teu nécessaire. Roubaram-me o nécessaire”, antes de se rir.
Para ele, tudo não passou de uma alucinação. Para ele, delirei. Para ele, nunca me abriram a mala nem sequer roubaram nada. Para ele, já tinha a mala estragada antes da viagem. O que é mentira. Realmente abriram-me a mala e roubaram algumas coisas como as luvas. Porém, deixaram-me o nécessaire. Que motivou apenas uma das muitas histórias desta viagem.
O que me ri...roubaram-me o nécessaire... eu tive um episódio do género e foram umas saias!!
ResponderEliminarCortei algumas partes da história que dão mais encanto à mesma. Mas mesmo assim o que me rio quando estou com o meu amigo.
EliminarAi Bruno, ainda me ri muito com a tua estória, mas muito comum para quem viaja de avião. Só o facto de pensarmos que umas mãos estranhas mexeram na nossa roupa e nas nossas coisas, seria caso para eu delirar mesmo. Bjs Célia
ResponderEliminarO meu defeito é nunca olhar para as malas no aeroporto. Algo que só passei a fazer depois de me ter acontecido isto.
Eliminarbeijos
"A long time ago" - ainda não havia companhias aéreas low-cost e a TAP não voava para Berlim, a única opção era a Lufthansa mas com escala em Frankfurt. Isto foi numa época em que eu chamava ao avião que saía de Frankfurt às 21:00 e chegava a Lisboa à meia-noite "A Carreira" (tantas foram as vezes que o apanhei...) Em Berlim fui altamente revistada, porque como estava carregada de electricidade estática fiz disparar um certo aparelho e fui considerada suspeita - uma cena à filme, nem te digo nem te conto! Bem, fiz Berlim/Frankfurt e Frankfurt/Lisboa na boa, e quando cheguei a casa, era quase 1:30 da madrugada e abri a mala para retirar não-sei-o-quê... vi uma folha A4 com o cabeçalho "Berlim-Tegel Flughafen / Berlim-Tegel Airport"... Ora, a essa hora da madrugada eu estava mais para lá que para cá, mas levei um choque que depois até nem consegui dormir! Então por causa da suspeita, os tipos viram no meu cartão de embarque que eu tinha bagagem de porão e foram investigar! Só te digo que os alemães não brincam em serviço, porque se não fosse o tal aviso, eu não tinha reparado que a mala tinha sido inspeccionada! :-)
ResponderEliminarIsso dava um belo filme. Que episódio fantástico :)
EliminarExiste uma página no Facebook que se chama "Coisas que um gajo não diz a outro gajo!" (acho que é assim!) "Roubaram-me o nécessaire" enquadrava-se perfeitamente lá! :P
ResponderEliminarTens toda a razão. Mas, aprendi que a vida e os momentos da mesma é que ditam aquilo que dois homens dizem um ao outro. Naquele momento, a fazer contas ao dinheiro que tinha de gastar no recheio do nécessaire e nas luvas e outras coisas, levaram-me a dizer aquilo ;p
EliminarMas assumo que ficava muito bem nessa página :)
O Pedro tem razão! :)
EliminarTambém sigo essa página no facebook e sem dúvida nenhuma que "roubaram-me o nécessaire" ficava lá perfeito! :)
Encaixa muito bem :)
Eliminar“Não pode!”, responde-me.
ResponderEliminar“A sério puto”, acrescentei, enquanto lhe mostrava os fechos partidos.
“Isso já estava assim. Estás a meter-te comigo”, referiu.
“Zé Bastos, estou a falar a sério. Não brinco com merdas destas”, disse.
...AHAHAHAHAHAHAHAH ( Pedro P., excelente comentário)
Foi um comentário muito bem tirado :)
EliminarNécessaire???
ResponderEliminarDisseste mesmo nécessaire????
A partir do momento em que passas a viver com uma mulher, os artigos, como é o caso do nécessaire, passam a ter nomes. Aliás, os nomes que eles realmente têm :)
EliminarFoi a primeira coisa que me ocorreu :)
Muito bom... daquelas em que se costuma dizer: se fosse um cão bem te mordia!
ResponderEliminarAcontece aos melhores... :) E são essas as memórias que ficam.
Esta história irá acompanhar-me sempre :)
EliminarEstou mesmo a ver que isso vai ser um momento cómico para a vida toda :)
ResponderEliminarAcho que sim e se fosse contar tudo a história ainda ganhava uma dimensão mais engraçada :)
EliminarHá coisas que ficam para sempre.
ResponderEliminarBeijinho
É o caso desta história.
Eliminarbeijos