esbardalhar ou não, eis a questão

Diogo Morgado aceitou fazer uma participação especial em Vale Tudo. Por sua vez, Maria Vieira condenou a atitude do actor português que ganhou uma dimensão internacional com o sucesso no projecto onde deu vida a Jesus. De acordo com a visão de Maria Vieira, o actual patamar de Diogo Morgado não se coaduna com o formato do programa que vive de situações caricatas em planos inclinados. A actriz defende também que Vale Tudo é um programa imbecil que em nada valoriza um actor. Além disso, questiona se Diogo Morgado terá enlouquecido ou se necessita dos “míseros euros” que pagam aos participantes.

É certo que um programa como Vale Tudo vive de esbardalhanços e de situações caricatas protagonizadas por pessoas mais ou menos conhecidas. Este é o formato e a sua essência, que passa pela diversão dos telespectadores com recurso a planos inclinados, improviso e outras coisas. E isto não me choca. Não me choca com o Diogo Morgado, tal como não me chocava se lá estivesse outra figura qualquer de maior renome. É entretenimento. E só vê quem quer.

A diferença, para mim, está no talento. Existem pessoas cujo talento se inicia e se esgota numa queda num plano inclinado. São pessoas que não sabem fazer nada mais do que cair e bater numa parede. Isso ou fazer uma figura mais ou menos ridícula no chão. Pessoas essas que aproveitam oportunidades deste género para amealhar o dinheiro que não conseguem juntar a fazer outra coisa qualquer. São vazias no que ao talento, direccionado para a televisão, diz respeito. Como tal, não se incomodam com os momentos em que fazem rir os outros porque simplesmente escorregaram e estão no chão.

Depois, existem pessoas talentosas. Para quem um programa deste género é um escape. Porque nas suas profissões, que vivem do seu talento, não existe espaço nem tempo para cenários inclinados e quedas. Maria Vieira defende que Antonio Banderas ou Johnny Depp não são vistos em figuras destas. Talvez não sejam. Mas, já vi muitos filmes cujo argumento e realização são do pior que existe. Filmes que contam com estrelas de Hollywood como protagonistas. Nesses momentos também me pergunto porque estão ali. Será falta de dinheiro? Ou será que, em alguns casos, são projectos que lhes permitem fazer aquilo que habitualmente não fazem nos filmes em que entram? Será uma necessidade ou um escape?

Há ainda um factor que considero bastante importante. Diogo Morgado, ao aceitar participar no programa, não esquece quem lhe deu trabalho quando não era o Hot Jesus de Oprah. Será que, quando foi acusado de plágio, era escandaloso estar num programa destes? Ao aceitar este convite, Diogo Morgado revela carácter e gratidão, dois valores que andam pelas ruas da amargura nos dias que correm. Resumindo, acho que o talento de um actor não se mede pelo reconhecimento internacional ou pelo facto de aceitar participar em programas de entretenimento que vivem de situações caricatas (algo que não acontece apenas em Portugal). Nem acho que essas participações sejam uma afronta para a profissão. Uma afronta é ter pessoas sem talento a ocupar o lugar de actores em projectos que deveriam viver da representação e não de pessoas que representam como alguém que lê a bula de um medicamento.