Acabava de ser escoltado pelos
seguranças até à saída do aeroporto. O desespero que revelava, e
que facilmente se percebia ser real pois nem o melhor dos actores do
mundo conseguiria reproduzir, de forma falseada, tal sentimento e frustração, ajudou a que
os seguranças se limitassem a acompanha-lo até à porta do
aeroporto. Noutras condições, estaria à espera da polícia para
resolver um problema tão delicado como a invasão a uma zona de
acesso condicionado. A que se junta a desobediência. Porém, os
seguranças perceberam que não havia pior castigo do que deixa-lo ir
à sua vida.
Com o corpo pesado, arrastava-se
lentamente pela multidão de pessoas que se amontoavam à porta do
aeroporto. As suas lágrimas e tristeza passavam despercebidas.
Porque aquele local é mágico no que às emoções diz respeito. O
seu choro era apenas mais um, no meio de outros tantos. O seu aspecto
lastimável era apenas mais um, no meio de tantas pessoas que se
despedem de alguém especial e de quem gostam. Em muitos outros
locais, seria o centro das atenções. Provavelmente uma alma
caridosa até lhe iria perguntar se estava tudo bem. Mas não ali. No
aeroporto ninguém estranha as emoções. Conseguiam passar por ele,
bater-lhe no ombro sem sequer prestar à atenção às suas lágrimas.
Não por descuido. Mas por ser algo normal ali.
Num dos poucos momentos em que levantou
a cabeça reparou que chovia copiosamente. Nesse instante percebeu
que esse era o motivo pelo qual tantas pessoas se aglomeravam à
porta do aeroporto. Mesmo assim, continuou em direcção ao carro.
Num passo lento. O carro não estava muito longe. Mas a lentidão a
que se movimentava era suficiente para que a chuva o deixasse
encharcado até aos ossos. E ainda mais pesado. O que tornava o passo ainda mais lento. Num raro momento de lucidez, chegou
a desejar que toda aquela água lhe lavasse a alma. Em vão. A
tristeza teimava em domina-lo. Além disso, culpava-se de tudo.
Sobretudo de não ter tentado impedir a viagem dela mais cedo.
Chegado ao carro reparou que tinha uma
multa no vidro. Dentro de um daqueles sacos de plástico que impedem que o papel se desfaça com a chuva. “Tudo a ajudar”, foi o que
pensou. Se bem que aqueles sessenta euros eram a menor das suas dores
de cabeça. Foi a pensar nela. E na forte hipótese de nunca mais a
ver que deixou o corpo deslizar pelo carro. Acabando sentado no
alcatrão. Encostado à roda dianteira direita do seu carro. Nesse
momento já era o centro das atenções. Não pela sua tristeza. Mas
por estar à chuva como quem está na praia num dos mais bonitos dias
de Sol de sempre.
Com a roupa colada ao corpo e com os
all-star vermelhos ensopados ali ficou. E ainda com a multa,
já fora do saco que a protegia, nas mãos. Enquanto o papel se ia
desfazendo à velocidade das fortes gotas que a molhavam ele pensava
nela. No seu sorriso. Nos erros que cometeu. E no erro crasso de ter
deixado partir, para bem longe, o seu grande amor. Aliás, o seu
único amor. Num gesto infrutífero passou com a mão esquerda no
rosto para limpar a água. A chuva era tanta que antes de retirar a
mão da face já estava novamente molhado. Ainda mais molhado do que
se tivesse acabado de tomar um duche.
Porém, ao passar com a mão no rosto
notou que várias pessoas olhavam para si. Tinham os olhos fixados em
si. Sem que ele percebesse porquê. Para ele, não havia motivo para
que olhassem para si. Não tinha o discernimento necessário para
perceber que estava há vários minutos sentado no chão debaixo de
uma forte chuvada que assustava a maior parte das pessoas que se refugiava da água à porta do aeroporto. Ao reparar no grupo de pessoas que tinha à
sua frente notou que algumas olhavam noutra direcção. Existiam os
que o observavam. E aqueles que olhavam noutro sentido.
Curioso, moveu a cara ligeiramente para
a sua esquerda. Sem levantar o rosto, pouco mais observava do que o
pavimento. Os seus olhos não observavam nada fora do normal. Não
conseguia perceber para onde olhavam as pessoas. Até que notou algo
diferente. Duas malas pousadas no chão. Onde a chuva batia como uma
onda que morre numa rocha, fazendo nascer um vasto número de
salpicos. Entre elas, umas lindas pernas. Que pareciam imunes a toda
aquela água. E uns lindos sapatos vermelhos. Que começavam a mudar
de tonalidade tal era a água aglomerada nos mesmos.
Subiu um pouco a cabeça. E os olhos
puderam observar tudo. Era ela. Que tal como ele estava ali à chuva.
Era mais uma pessoa que o observava. Com a diferença que tinha o
cabelo completamente colado à cabeça, algo motivado pela chuva. Tal
como ele, tinha as roupas coladas ao corpo. Algo que definia uma
linda silhueta. Capaz de encantar qualquer homem. No rosto,
destacava-se o negro. Da maquilhagem que tinha sido estragada pelas
gotas de água. Ela chorava. Mas ele não conseguia distinguir as
lágrimas da chuva.
Descrente no que via e pensando ser um
truque da sua mente, olhou no sentido oposto. Contou até três. E
voltou a olhar para o local onde julgava que a tinha visto. E lá
estava ela. Nesse momento percebeu que não se tratava de uma ilusão.
Era real. Ela estava ali. Não tinha entrado no avião. Lentamente,
levantou-se. E caminhou na direcção dela. Com o medo de alguém que
está perdido num deserto e acredita ter visto um oásis. Quando
chegou perto dela colocou as suas mãos nas dela. E só aí teve mesmo a
certeza de que tudo aquilo era real. “O que estás aqui a fazer?”,
perguntou-lhe. “Fui incapaz de entrar no avião”, respondeu ela.
“Porquê?”, insistiu ele. “Porque...”
Ahhhh adorooooo!! :D
ResponderEliminar:D e quando leio cada um destes capitulos não consigo deixar de pensar "E agora?"... mas este deixou-me feliz, e pela primeira vez "acertei" no que vinha a seguir...
ResponderEliminarBeijinho!
Vamos ver no que dá!
Eliminarbeijos
uma palavra:
ResponderEliminarENORME!!!
Ainda bem que gostaste :)
Eliminarestá cada vez melhor!
EliminarVamos ver no que isto dá.
EliminarOlá, estou a adorar a história!!!Mais para breve...please!!
ResponderEliminarÉ que um livro lê-se quando se quer, mas assim é uma inquietação...:)
Para a semana há mais :)
EliminarObrigado pelas palavras.
Este método é muito bom, porque, ao contrário do livro, ao ler um capítulo novo, obrigo-me a fazer uma viagem temporal na cabeça para recordar toda a história... A cada capítulo estás a melhorar a capacidade narrativa, a torná-la mais madura e atraente... Muitos parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigado pelas tuas simpáticas palavras. E ainda bem que gostas :)
EliminarA história está cada vez melhor!
ResponderEliminarFico feliz por gostares :)
EliminarLINDO!!! Esta história está cada vez melhor... estou em pulgas para ler o próximo capítulo!
ResponderEliminarEstes dois nunca mais se resolvem.
EliminarFantástico! É muito bom quando consegues provocar sentimentos com a escrita, em alguns capítulos ficamos, na duvida, até "tristes", neste fizeste com que sorrisse,sou muito atenta a pormenores...é só uma "história" ou é a história de alguém? All Star Vermelhos...
ResponderEliminarAinda bem que gostas. Confesso que transporto coisas minhas para o personagem masculino. Roupas e perfume, por exemplo. Mas a história não é de ninguém, que conheça. Só certos traços da mesma.
EliminarAdooooorrrrreeeeiiiiiii...mas agora estou ansiosa pelo próximo capítulo...A história está a prender... ;)
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