Poucas pessoas conhecem as emoções de
uma das mulheres mais famosas do mundo. Aliás, pouco mais do que o
sorriso e acenar de mão se conhece de Isabel II, a rainha de
Inglaterra. Ao longo dos sessenta anos de reinado, a monarca
britânica nunca revelou o seu estado de espírito em público. Por
exemplo, basta recordar a morte de Diana. Ao longo de todo este
processo, o rosto da rainha manteve-se igual ao que sempre foi. Esta
ausência de emoções tem dado que falar ao longo destas seis
décadas. Tem existido muita polémica em torno deste aspecto. Mas
Isabel II nunca mudou a sua forma de estar.
Numa noite, quando tinha apenas 26
anos, Isabel II foi dormir como uma jovem princesa. No dia seguinte,
acordou com a notícia de que era rainha, devido à morte do seu pai.
Apesar dos príncipes e princesas estarem sempre submetidos (quando
assim é necessário) a uma preparação para ocupar o cargo de
soberano, com Isabel II tudo foi diferente. Pela idade. E por não
ter outra hipótese que não passasse por ser rainha com pouco mais
do que vinte anos.
Como tal, e em tenra idade, Isabel II
foi ensinada a esconder os seus sentimentos. A então rainha passou a
ter como missão nunca revelar aquilo que sente. A sua excessiva
alegria. Ou a sua profunda tristeza. E este é o motivo pelo qual
ninguém conhece o verdadeiro estado de espírito da rainha de
Inglaterra. A postura é sempre a mesma. Existe um sorriso aqui.
Outro ali. E pouco mais do que isso.
Desde que tenho conhecimento desta
história que dou por mim a pensar se aquilo que ensinaram à rainha
não será o mais adequado. Até que ponto todas as pessoas devem ter
acesso a tudo o que nos deixa felizes? E a tudo que nos arrasa por
completo e nos deixa de rastos? Serei uma pessoa mais fraca se for
mais transparente no que às emoções diz respeito? Serei mais
vulnerável ao mundo que me rodeia?
Nunca ninguém me disse aquilo que foi
dito a Isabel II. E até me considero um livro aberto. Sendo que
algumas páginas não estão ao acesso de todas as pessoas. E não as
revelo por achar que ninguém as deve ler ou porque me faz parecer
mais fraco. Faço-o porque acho que existem coisas que me atormentam
mas que não devem ser um problema nem preocupação para quem me
rodeia. Deve ser um processo apenas e só meu. E neste ponto, dou
razão às pessoas que ensinaram a rainha.
Ninguém é transparente. Todos temos os nossos segredos e, sim, para nos salvaguardarmos. E quem diz que é transparente mente.
ResponderEliminarMas vou mais longe...As emoções expressam o que somos, relembrando que estamos vivos e por essa razão nos perturbam. Ficando a escolha entre controlá-las, através da racionalização, ou, simplesmente, deixar-nos avassalar pela sua agitação e intensidade. A complexa opção entre estagnar ou viver....
Aliás, as emoções podem tornar-se o pior inimigo para quem as considera uma fraqueza, ou um erro, e procure controlá-las. Impedindo a sua expressão, acaba por recalcá-las e, como tal, deixa-se consumir lentamente por sentimentos corrosivos.
Torna-se vital encontrar na vida um equilíbrio, mesmo que frágil, onde as emoções e os sentimentos possam ser genuínos, para permitir uma existência intensa, na qual se mantenham fiéis a si mesmos e à sua essência.
Partilho da opinião de Eduardo Sá quando afirma que nos educam para abotoarmos o coração até o último botão. E, às vezes, as pessoas despem-se facilmente por fora e têm dificuldade em perceber que o grande desafio da vida é despirmo-nos por dentro. É expressarmos genuinamente as nossas emoções. Pois, quanto mais as reprimimos, mais dificuldades teremos em verbalizar o que sentimos, o que somos...e é assim que o nosso "eu" vai adoecendo...
Que belo comentário. Consegues tocar em muitos temas, sempre de forma interessante. Concordo que todos temos os nossos segredos. Mas aqui não me refiro a sentimentos ;)
EliminarEm público "I'm the life of the party / Cause I tell a joke or two" (salvé Smokey Robinson!)... MAS é uma imagem que eu conscientemente projecto. Porque o que sinto e o que sofro fica apenas reservado para 2 ou 3 pessoas da minha vida.
ResponderEliminarSou como tu :)
EliminarAcho que no caso de Isabel II tudo foi levado ao extremo. Se por um lado foi ensinada a não revelar emoções (pelo menos a nível público) por outro transpôs isso para o seu lado privado, com a família. E penso que é aí que ela é criticada. Porque a frieza com os demais é tolerada, mas a frieza e distância para com os nossos causa estranheza. Por isso não acho que o que lhe foi ensinado seja o mais adequado :) De resto, não são todas as pessoas que devem ter acesso a tudo o que nos faz felizes ou infelizes, nisso também concordo que temos de nos resguardar, até porque informação a mais também dá poder a mais aos outros sobre nós (isto parece quase política mas também se aplica à vida pessoal lol). Mas já tive boas surpresas de ter conversas mais pessoais com pessoas que não me eram próximas (porque assim se proporcionou na altura) e ter descoberto outras visões para certos problemas ou questões, ter tido apoios inesperados assim e ter apoiado também. Acho que devemos proteger-nos um bocado com o que damos de nós, mas acho que devemos também sentir a liberdade de nos darmos mais volta e meia porque isso também nos faz evoluir. E é assim que construímos novas relações de amizades, etc. Como disse em cima a Liliana, é uma questão de equilibrio (ou tentativa dele). :))
ResponderEliminarAcho que ela levou uma lição tão grande que faz aquilo como se nada fosse. É aquilo que sabe.
EliminarEssas surpresas são sempre boas :))
Certamente que o sermos transparentes acaba por nos tornar mais vulneraveis... mas só até ao ponto em que nos deixamos afetar...
ResponderEliminar:)