Não me lembro da última vez que
joguei futebol num pavilhão onde o piso não seja de relva
sintética. Provavelmente terá sido num torneio na margem sul. Onde
era costume entrar. Antes disso, tenho que recuar até à altura em
que estudava no secundário para recordar jogos frequentes em
pavilhões. E não eram uns jogos quaisquer. Eram duelos semanais entre alunos e professores. Algo especial.
De um lado, os homens que nos davam
aulas. Aqueles que mandavam. E que, em alguns casos, nos expulsavam
das aulas. Do outro, os putos. Que passavam a semana a seguir as regras
impostas pelos professores. Os rebeldes. Quase todos aspirantes a
jogadores de futebol. Porém, durante aquela hora não havia
diferenças. Não existiam professores nem alunos. Não existiam
senhores professores. Não existiam tratamentos por você, coisa
inexistente no futebol. Naquele rectângulo, todos se tratavam por
tu. Eles, queriam mostrar que nos podiam ensinar mais coisas do que a
matéria leccionada na sala de aula. Nós queríamos mostrar que de
futebol percebíamos nós. Eles aproveitavam para nos dar umas
caneladas sem que isso originasse um processo disciplinar. Nós
aproveitávamos para umas cargas de ombro mais fortes, sem que
recebêssemos ordem de expulsão.
Em comum, ninguém queria perder o
jogo. Recordo grandes duelos. Relembro a alegria dos professores
quando nos conseguiam ganhar um jogo. Relembro também a azia que
sentiam quando perdiam. Refilavam uns com os outros e passavam a
semana a levar connosco. É que nós, tínhamos sempre os nossos
clubes para esquecer a frustração da derrota. Já eles, tinham que
levar connosco quando perdiam. Ou andavam de peito feito sempre que
nos ganhavam. A prometer mais para o próximo jogo.
Mentia se dissesse que não tenho
saudades desses jogos de futebol. Porque tenho. Tenho saudades
daquelas picardias saudáveis. Aliás, jogo de futebol para mim tem
de ter picardias saudáveis. E sede de vitória. Não concebo um jogo
de futebol como uma hora para correr e queimar tempo. Para isso,
corro e não jogo futebol. E tenho saudades dos gritos no balneário.
Vamos mostrar quem é que manda aqui, dizíamos uns aos outros. Nós,
um grupo de putos que queria somente calar os professores. Sobretudo
aqueles de quem não gostávamos nada.
Hoje vou voltar a jogar num pavilhão.
Sei que assim que entrar no pavilhão irei recordar aquilo que conto
aqui. Vou imaginar-me ao lado dos meus amigos. Vou recordar-me de um
golo específico. Mas rapidamente irei pensar no motivo pelo qual
estou ali. Rapidamente vou ser conquistado pela sede de vitória. E
uma coisa é certa. Irei ser acompanhado pelo "vamos mostrar quem é
que manda aqui", frase que sempre me acompanhou no desporto e uma boa companheira motivacional.
Tambem tenho falta desses momentos...para bem da verdade, tenho falta das futeboladas com os amigos :(
ResponderEliminarUm dia apareces e jogas com o pessoal.
Eliminarx2, sinto saudades de uma boa futebolada!
EliminarApareçam!
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