23.10.13

quem manda aqui?

Não me lembro da última vez que joguei futebol num pavilhão onde o piso não seja de relva sintética. Provavelmente terá sido num torneio na margem sul. Onde era costume entrar. Antes disso, tenho que recuar até à altura em que estudava no secundário para recordar jogos frequentes em pavilhões. E não eram uns jogos quaisquer. Eram duelos semanais entre alunos e professores. Algo especial.

De um lado, os homens que nos davam aulas. Aqueles que mandavam. E que, em alguns casos, nos expulsavam das aulas. Do outro, os putos. Que passavam a semana a seguir as regras impostas pelos professores. Os rebeldes. Quase todos aspirantes a jogadores de futebol. Porém, durante aquela hora não havia diferenças. Não existiam professores nem alunos. Não existiam senhores professores. Não existiam tratamentos por você, coisa inexistente no futebol. Naquele rectângulo, todos se tratavam por tu. Eles, queriam mostrar que nos podiam ensinar mais coisas do que a matéria leccionada na sala de aula. Nós queríamos mostrar que de futebol percebíamos nós. Eles aproveitavam para nos dar umas caneladas sem que isso originasse um processo disciplinar. Nós aproveitávamos para umas cargas de ombro mais fortes, sem que recebêssemos ordem de expulsão.

Em comum, ninguém queria perder o jogo. Recordo grandes duelos. Relembro a alegria dos professores quando nos conseguiam ganhar um jogo. Relembro também a azia que sentiam quando perdiam. Refilavam uns com os outros e passavam a semana a levar connosco. É que nós, tínhamos sempre os nossos clubes para esquecer a frustração da derrota. Já eles, tinham que levar connosco quando perdiam. Ou andavam de peito feito sempre que nos ganhavam. A prometer mais para o próximo jogo.

Mentia se dissesse que não tenho saudades desses jogos de futebol. Porque tenho. Tenho saudades daquelas picardias saudáveis. Aliás, jogo de futebol para mim tem de ter picardias saudáveis. E sede de vitória. Não concebo um jogo de futebol como uma hora para correr e queimar tempo. Para isso, corro e não jogo futebol. E tenho saudades dos gritos no balneário. Vamos mostrar quem é que manda aqui, dizíamos uns aos outros. Nós, um grupo de putos que queria somente calar os professores. Sobretudo aqueles de quem não gostávamos nada.

Hoje vou voltar a jogar num pavilhão. Sei que assim que entrar no pavilhão irei recordar aquilo que conto aqui. Vou imaginar-me ao lado dos meus amigos. Vou recordar-me de um golo específico. Mas rapidamente irei pensar no motivo pelo qual estou ali. Rapidamente vou ser conquistado pela sede de vitória. E uma coisa é certa. Irei ser acompanhado pelo "vamos mostrar quem é que manda aqui", frase que sempre me acompanhou no desporto e uma boa companheira motivacional.  

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