Nos dias que correm acho que é cada
vez mais importante vestir a camisola do projecto profissional que se
abraça. Mesmo que não passe de uma etapa para aquela profissão que
tanto queremos. Acho que é isso é uma das coisas que destaca um bom
profissional de uma pessoa que não passa de um número mecanográfico
no meio de tantos outros. Este belo texto da Sandra mostra que isso
das profissões menores é um conceito errado para muitas pessoas.
““Sou bibliotecária”. Sinto-me
um pouco presunçosa a dizer isso pois não passo de uma mera
estagiária irrelevante. Porém, sinto-me feliz em dizer com um
sorriso estampado no rosto e com orgulho a encher-me o peito: “Sou
bibliotecária”. As reacções normalmente não correspondem à
minha atitude e as respostas mais comuns são: “Isso estuda-se?”;
“Fazes isso porque queres ou porque és obrigada?”; “Mandas
calar pessoas?”. Penso que estes feedbacks algo incrédulos são
consequência de uma imagem desacertada da minha profissão.
Para ser sincera, as duas imagens
proeminentes que por aí circulam são: a velha bibliotecária de
cabelo branco, rigidamente apanhado, com uns óculos severos que
manda calar ao mínimo sussurro; ou então a imagem da bibliotecária
sexy com os óculos descaídos numa pose sedutora qualquer. Não
existem muitas profissões que tenham de lidar com uma imagem social
tão descrente e contraditória, e que, no entanto, em nenhum momento
está relacionada com a verdadeira prática da profissão. Tenho a
dizer, o que espero não ser surpresa nenhuma, que nada do que acabei
de dizer se aplica na realidade.
Não excluo a existência de
bibliotecárias seniores, nem de bibliotecárias bem-parecidas, mas
não nos limitamos à aparência física nem a emitir sons de
reclamação. O nosso principal foco, seja numa biblioteca escolar,
universitária, pública ou especializada é O UTILIZADOR. Nós
trabalhamos para as pessoas e com as pessoas. O principal objectivo é
facilitar o acesso à informação e criar igualdade, evitar
situações de infoexclusão e, ao mesmo tempo, cuidar do património
que a todos pertence. Património esse que não se limita a livros:
estamos a falar de jornais, fotografias, objectos, tudo o que possam
imaginar.
Os espólios dos “nossos grandes”
estão a ser tratados nas nossas bibliotecas. O nosso trabalho
abrange tudo o que (não) possam imaginar, desde do tratamento
documental (intelectual e físico) até ao atendimento ao público, e
ainda nos preocupamos muito com questões actuais como, por exemplo,
a digitalização e a questões da Web 2.0. Penso em nós como
profissionais multifacetados, que fazem muito com pouco, e que estão
sempre a procura de ser mais eficazes e eficientes. Somos pequenos
investigadores, descobridores por vezes, que não se limitam nunca a
existir como simples “ratos de biblioteca”. Ao mesmo tempo que
caminhamos para o futuro, somos os guardiões do passado. Mas não
somos só nós os bibliotecários: as nossas classes profissionais
mais próximas os arquivistas e os museólogos fazem um trabalho
exímio com objectivos semelhantes e igualmente honrosos.
Dou-me por contente, encontrei aquele
lugar especial, a biblioteca, seja a tradução do conceito físico
ou digital. Estamos aqui para todos vocês! Aproveitem porque não
sei quanto tempo vamos continuar a estar. Peço desculpa por este
desabafo mas hoje acordei e apeteceu-me defender a minha profissão.”
Sandra
Não considerei em qualquer momento que a biblioteconomia, a arquivistica e a museologia sejam profissões menores. São profissões bastante honrosas. Agradeço pela publicação do texto, que teve o objectivo de ser uma chamada de atenção para as profissões do âmbito cultural que não recebem a atenção que merecem. Mais uma vez obrigada.
ResponderEliminarSandra
E ainda bem que não consideras porque há quem considere, de forma injusta, como deixaste bem claro.
EliminarSubscrevo na íntegra, porque sou arquivista!!
ResponderEliminarAcredito que saibas bem o que a Sandra quis dizer.
EliminarDeixa lá... Eu tenho uma profissão bem diferente e sofro do mesmo.
ResponderEliminar- Ah então que curso tiraste?
- Engenharia.
- Civil?
- Não do ambiente.
- Ah isso existe?! E o que fazem? Plantam árvores?
- Não, não é jardinagem.
Que belo diálogo (que acaba por não ter piada nenhuma).
EliminarTambém sou bibliotecária e identifiquei-me com tudo o que foi dito. :) Adoro o que faço porque, para além do trabalho biblioteconómico, ainda faço a promoção da leitura e a programação cultural. É uma profissão fascinante e muito mais dinâmica do que, erradamente, se julga.
ResponderEliminarAs pessoas é que pensam que não é interessante. Sobretudo por desconhecimento.
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