4.9.13

odeio famosos

“Odeio famosos!” Esta expressão é utilizada com frequência por um amigo e colega, que lida quase diariamente com pessoas que atingiram a fama, independentemente do percurso que as elevou ao patamar de “celebridade”. O seu desabafo está relacionado com a forma como os tais famosos lidam com as pessoas. É uma generalização um pouco exagerada da sua parte mas compreendo o seu ponto de vista.

Muitas pessoas, algumas delas com uma fama de apenas de cinco minutos, julgam que estão no mesmo patamar de um Eusébio, de uma Amália ou de outro símbolo nacional. Ao pensarem desta forma, esquecem-se rapidamente que no dia anterior ninguém sabia quem eram. Olvidam por completo as suas origens bem como as amizades (talvez o termo amizade seja incorrecto) que mantinham quando estavam no anonimato.

Não se lembram também que daqui a dois ou três dias existe a possibilidade de não serem reconhecidos por ninguém. Infelizmente, enquanto dura o estrelato julgam-se superiores aos comuns dos mortais. De modo resumido, é por isto que o meu amigo diz odiar famosos. Até porque existem diferenças que muitas pessoas ignoram. Em alguns casos existe o famoso do seu trabalho. Que é diferente daquele que lida com a imprensa. Que por sua vez é diferente daquele que lida com os fãs e que ainda consegue ser diferente daquele que existe na esfera pessoal dessa mesma pessoa.

Apesar de também lidar com algumas pessoas famosas, não partilho totalmente da opinião do meu amigo. Em quase dez anos de jornalismo já perdi conta ao aparecimento e desaparecimento de pessoas como aquelas que ele refere. Em alguns casos, pessoas que não souberam reagir ao facto do seu estrelato não ser eterno, algo em que acreditavam piamente. Pessoalmente, não me incomoda aquilo que as pessoas pensam ser. Não me aquece nem arrefece que alguém que apareceu num programa de televisão (é um mero exemplo) se julgue um novo José Mourinho. Até porque essa pessoa acabará por descobrir isso mesmo sozinha. A única coisa que me incomoda é o esquecimento do chamado período pré-fama. Sobretudo quando são pessoas cuja existência em anonimato era algo que conhecia bem.

Incomoda-me que só recordem esses tempos por necessidade. Quando dá jeito apelar ao “ainda te lembras quando isto e aquilo.” E isso é algo que me incomoda numa celebridade, num aspirante a famoso, numa estrela de cinco minutos ou mesmo num anónimo que subiu na vida. E quando digo que me incomoda é pelo simples facto de entender que isso diz muito sobre uma pessoa. Sobre aquilo que é e também sobre a forma como olha para os outros.

Tal como um jovem jogador de futebol que ganha mil euros por mês e vê-se na possibilidade de ganhar vários milhões, muitas pessoas mudam radicalmente após cinco minutos na televisão. Ambos julgam estar no topo do mundo. No ponto onde mais alto, onde cabe apenas uma pessoa. É verdade que ambos podem ganhar muito dinheiro. Mas também é um facto que esse dinheiro pode desaparecer em minutos. E ambos vão lidar com pessoas que julgam amigos mas que na realidade são como eles. Pessoas movidas a interesses, maioritariamente relacionados com dinheiro e com mais duas ou três fotografias que aparecem publicadas nas publicações da moda.

Há quem acredite que isto é eterno. E é. Para meia dúzia de pessoas que sabem gerir todo este processo sem esquecer o local de onde vieram e aquilo que realmente são. Os outros, quando percebem esta realidade, muitas vezes à bruta, descobrem também que aquilo que deitaram fora e menosprezaram já não será recuperado. O dinheiro e também a fama compram muita coisa. Podem comprar o embrulho mais bonito do mercado. Mas o chocolate será sempre o mesmo. Terá sempre o mesmo sabor. E isso, não há dinheiro que consiga melhorar. Quanto muito, piorar.

12 comentários:

  1. De facto o dinheiro faz mal a muita gente e, neste caso, a fama também. Percebo o que esse teu amigo diz.
    beijinho

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  2. Muito interessante o texto...Diz-me bastante...de uma outra perspetiva, não de famosos ou pseudo famosos, mas de figuras em ascensão (como todas precedendo a queda), com quem por motivos profissionais tive de conviver, em outro tipo de meio que não o aqui focado...muito também teria a acrescentar...às vezes não foi bonito de ver ....mas no fundo acho que se resume precisamente ao que disseste num caso e no outro...!
    Maria

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  3. Gostei do texto e baila-me na cabeça a seguinte pergunta,isto porque todos os dias vemos ,até profissionalmente muita gente assim:
    Afinal o que é isso de ser famoso? ser figura pública? ter estatuto? ter dinheiro?
    Enfim e no fim , é aquilo que o ego de alguém alimenta e é alimentado por outros durante um certo período de tempo, porque nada é eterno. Oh falsa sensação de grandeza , que vai dar uma grande frustração no futuro.

    Gostei do texto, mas olha HSB e contrariando o titulo expressão do teu amigo, nem chego a odiar os famosos acreditas?.. acho sim pobreza de espirito dos que lhes sobem o poder à cabeça!!

    Gosto tanto daquela frase " Para conheceres um Homem dá-lhe poder" e vi tantos a darem-se a conhecer..e felizmente nunca me senti tentada a seguir um desses;. Coisas da vida..;)
    Bom resto de dia :)

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    1. Para pessoas aparecer num programa durante cinco minutos é ser famoso. Mais, é um objectivo de vida.

      Bom fim-de-semana.

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  4. Bom, acho que nem estar no patamar de uma Amália ou de um Eusébio dá a quem quer que seja o direito de ser arrogante, presunçoso ou cheio de manias.

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    1. Compreendo o que dizes e tens razão. Mas eu aceito algumas coisas num Eusébio que não consigo aceitar (no mesmo patamar) de outras pessoas. Não sei se me faço compreender.

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  5. Há sempre gente que não tem noção do ridículo.
    Abraço

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  6. É isso mesmo HSB.
    A fama, ou a ideia de que são famosos, faz mal a muita gente!
    Uns tristesé o que são na maioria das vezes!

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