Em tempos acreditava que as redes
sociais eram um escape para as pessoas. Eram o local onde se brincava
ao faz de conta e onde todos podiam ser aquilo com que sonhavam mas
que na realidade não eram. Por exemplo, recuando aos tempos de
glória dos chats de conversação online, todas as pessoas mentiam.
Durante uma conversa com alguém desconhecido existia sempre a
pergunta: “como és?” Na resposta, elas eram todas magras, com um
corpo que parecia desenhado, com um rabo firme, com um peito perfeito
e lindas como o Sol. Por sua vez, eles eram todos musculados, mas não
em demasia. Sensíveis, importando-se apenas com o interior das
mulheres e todos donos de um qualquer modelo descapotável. Em comum,
os sexos partilhavam uma vida plena, com um emprego de sonho, bem
remunerado e todos viviam em apartamentos espaçosos com vistas de
cortar a respiração. Mais tarde, essas pessoas decidiam
encontrar-se. E vinha a desilusão. Ninguém era aquilo que dizia
ser. Ou seja, todas as pessoas fingiam ser algo que não eram.
Durante muito tempo associei isto às
redes sociais. Mesmo ao Hi5, Facebook e outros que tais onde muitas
pessoas usam fotos que não correspondem à realidade. Não era mais
do que um mundo do faz de conta, onde tudo é possível. Até que
entrei neste mundo dos blogues. Numa fase inicial julguei que poderia
estar perante aquilo que já tinha percebido em relação às outras
redes sociais. Com o passar do tempo descobri que estava errado. Pois
acredito que os blogues são o reflexo da vida de cada um. Nos
blogues não se brinca ao faz de conta. Nos blogues cada um mostra
aquilo que é, a sua verdadeira essência, longe de um computador e
de um espaço onde escreve aquilo que lhe passa pela cabeça.
Nos blogues existem aqueles que fingem
ser boas pessoas quando a necessidade o exige. Quando se precisa de
algo ou de alguém, essas pessoas são as mais amorosas do mundo.
Chegam a parecer feitas de cristal. São tão delicadas que correm o
risco de se partir ao mínimo toque. Conseguem conquistar tudo e
todos. Até que essa necessidade – seja ela qual for –
desaparece. E afinal, o cristal não passa do material mais reles que
existe por aí. Quando não existe nada que precise de ajuda de algo
ou de alguém, essas pessoas revelam a sua verdadeira essência.
(Quem não conhece pessoas assim na
vida real? Aqueles que se aproximam quando precisam de algo e que
mudam o discurso e as acções quando estão de barriga cheia.)
Depois, existem aqueles que falam mal
de tudo e de todos. Aqueles que entendem que ninguém (excepto eles)
tem o direito de ter uma opinião sobre isto ou sobre aquilo.
Aqueles que julgam as vidas e as acções de todos enquanto o veneno
lhes escorre pelos cantos da boca. Pessoas, que por norma, estão
associados em pequenos grupos de outros iguais. São os chamados
parasitas. Que nada mais fazem do que viver em função daquilo que
os outros fazem ou dizem. Aqueles que defendem que apenas criticam o
que os outros fazem quando na realidade são somente autores de
palavras vazias e ocas sem qualquer interesse para quem quer que
seja. Pessoas que se julgam os maiores do mundo apesar das tristes e
infelizes vivências.
(Mais uma vez, quem não conhece
pessoas destas na vida real? Aqueles que se juntam em grupos no
trabalho para falar mal de tudo e de todos. Aqueles que falam mal da
fulana x porque é magra e gira ou do sicrano y que tem sucesso e
está no lugar em que queriam estar. São aqueles que só têm veneno
e maldade na boca apesar de se julgarem superiores a todos os
outros.)
Existe ainda aquele que é o grupo que
mais me faz rir. Este, é composto pelas pessoas com cara de moeda.
Ou seja, com duas faces. São aquelas pessoas que são capazes de
comentar o mesmo assunto mas em perspectivas diferentes. São aquelas
pessoas que aplaudem algo e que cinco minutos depois estão a
criticar aquilo que aplaudiram. Sem qualquer vergonha.
(E quem não conhece pessoas destas?
Que falam bem de nós quando estão connosco e falam mal de nós
quando estão com outros que nem vão muito com a nossa cara. São
aqueles que fazem tudo o que for possível para estar bem em todos os
lados sem que percebam que isso faz deles pessoas ridículas e
gozadas pela maioria)
Felizmente, também existe o grupo dos
bons. Aquelas pessoas que são verdadeiras e que dizem o que têm a
dizer. Que mostram aquilo que realmente são e que não optam por
dizer aquilo que fica bem e com que não concordam. São daquelas
pessoas com quem vale a pena conversar.
(Quero acreditar que todas as pessoas
conhecem alguém assim. Se não conhecerem ninguém assim, facilmente
se percebe porquê)
Acho também piada ao facto de que
ninguém se insere nos três primeiros grupos que descrevi. Quem lá
está, de forma descarada e visível por todos, também crítica os
membros destes grupos. Até falam mal deles sem perceber (será mesmo
que não percebem?) que são iguais. Já aqui disse mais do que uma
vez que isto dos blogues não passa de montes de palavras separadas
por vírgulas e pontos finais. Que estão agrupadas de acordo com
aquilo que os autores dos blogues acham ser o mais indicado para o
que desejam. Mas isso reflecte muitas coisas.
É verdade que muitas pessoas podem
defender que todos têm o direito a ser criticados. Não coloco isso
em causa. As críticas – quando não são corrompidas por inveja,
ódios e frustrações parvas – são óptimas para o crescimento de
cada um. Aquilo de que não duvido é que um blogue, seja ele qual
for, espelha na perfeição aquilo que a pessoa é no seu lado
pessoal. Por mais que digam que é uma brincadeira, um escape, um
alter ego ou outra coisa qualquer. Aliás, quem insiste tanto em vender esta
ideia está apenas a tentar convencer-se de que não é igual à
imagem que o blogue tem. Mas, na realidade é. E mais cedo ou mais
tarde irá perceber isso.
Tudo o que escrevemos, acaba por revelar um pouco da pessoa que escreve.
ResponderEliminarNão só dos autores dos blogues, como também dos que os comentam.
Concordo contigo. A escrita diz muito sobre a pessoa. Mas há quem não acredite nisto.
EliminarO Bruno Nogueira disse uma vez que "O mundo é bué cenas!". E eu digo que a vertente social da internet é um mundo.
ResponderEliminarO que eu acho é que, se uma pessoa souber usar a redes sociais/blogs (e não ser usada por elas), aprende muito e descobre que as palavras escritas, as fotos, os comentários e os likes se calhar acabam por ser mais reveladores do que as impressões que se tem quando se conhece uma pessoa como antigamente. A maneira como se fala diz muito, mas a maneira como se escreve diz muito mais. O sentimento de segurança que a distância física e visual dá às pessoas também faz com que as mesmas baixem as suas defesas... e é aí que o pessoal inteligente aproveita as vantagens das modernices!
Bem dito. Reforço algo que dizes e bem: "pessoal inteligente."
EliminarO meu blog é uma espécie de diário e também de psicanalista, não o criei com o objectivo de ficar famosa. E, ainda que protegida por um alter-ego, o que escrevo é verdade, não me armo no que não sou - até porque alguns amigos lêem o blog e davam-me logo nas orelhas.
ResponderEliminarJá agora... não sou magra, com um corpo que parece desenhado, com um rabo firme, com um peito perfeito e linda como o Sol... lamento desiludir-te! :-)
Não és?!? Bolas! ;p
EliminarMesmo que ninguém saiba quem é o autor de um blogue ou de um texto qualquer que esteja noutro formato qualquer, é possível identificar coisas da pessoa nos textos.
Existem pessoas que souberam que era o autor deste blogue e que quando o revelei disseram-me que já sabiam porque associavam as palavras ao que sou.
É verdade, não há como escapar. Num blog, as pessoas mostram o que nem elas sabem que são. Beijinhos :)
ResponderEliminarNem mais! Mas existem tantas que fingem que não, na tentativa de se enganarem a si mesmos :)
EliminarGostaria de ter escrito isto...concordo praticamente com tudo...cheguei à blogosfera apenas há alguns meses e claro já me deparei com todos esses grupos, como na vida real...mas por aqui também há personagens elaboradamente criadas por detrás de alguns blogues...ia jurar...claro que isso quando detetado também dá uma excelente ideia sobre a pessoa real em questão...enfim..a blogosfera é um mundo especial...tenho no entanto gostado mais dela do que esperava...!
ResponderEliminarBoa semana
Maria
Sinto o mesmo que tu Maria.
EliminarBoa semana
Porra... sou incapaz de mentir seja nas redes sociais (o que me obrigou desde há uns poucos de dias a "limpar" grandemente a minha conta), seja no meu blogue. Sou louca. Todos os dias tenho momentos distintos. E quando quero escrever sobre eles, faço-o sem qualquer espécie de filtro. Há quem não aprecie, há quem me conheça desde as calendas e goste. Há simplesmente aqueles que leem, devem achar-me igual a outras 500 mil pessoas e pronto, vão à sua vida. Mas esconder-me numa pseudo-máscara falaciosa do meu intelecto? Não consigo. E nunca hei-de conseguir. Talvez me torne mais reservada quanto à minha vida. Não sou de me expôr feita louca... Vida real = Vida net...
ResponderEliminarHá quem minta mas na realidade essas pessoas só mentem a si mesmos porque ninguém os conhece e ninguém tem razões para duvidar de tais palavras.
EliminarGostaria de poder comentar com conhecimento de causa, mas (com pena minha) não conheço quase ninguém deste mundo. :P beijinhos
ResponderEliminarpippacoco.blogspot.pt
Não precisas de conhecer pessoalmente para perceber algumas coisas. Aliás, existem pessoas que o melhor é mesmo não conhecer. Mas tu não és uma delas ;p
Eliminarbeijos
Concordo com a Maria
ResponderEliminarAna
É uma opinião comum, acredito eu :)
EliminarO meu blog é o meu eu que não conto pessoalmente à grande maioria das pessoas, porque aqui estou escondida atrás de um ecrã e sei que, pessoalmente, não vou "sofrer" as consequências da maldade de certas pessoas. Porque eu sou sincera e eu mesma sempre, quer aqui quer pessoalmente, mas na vida real há sempre alguém, daqueles que vêem malícia em tudo, que arranja forma de dar um sentido perverso àquilo que disse ou fiz. E aqui é mais difícil que isso aconteça. Espero eu.
ResponderEliminarBeijinho
Não te conheço pessoalmente. Nem preciso de o fazer para dizer que és uma boa pessoa. E isso nota-se mais do que possas imaginar na tua escrita.
Eliminarbeijos
:) Assim deixas-me corada. ;)
EliminarÉ verdade ;)
EliminarA blogosfera tem sido generosa comigo (veja-se por exemplo a bodade que me rodeou aquando do episódio da Mel), de vez em quando lá aparece uma ovelha ranhosa mas o BOM tem sido muito maior do que o menos bom e continua a valer a pena. Conheço muito poucas personagens da bloga ao vivo e a cores mas tem valido a pena e ainda não me enganei quanto áqueles com quem combinei ou acedi em conhecer e deixar-me conhecer.
ResponderEliminarO meu blog começou por ser uma coisa fechada, muito minha e aos poucos fui deixando que algumas pessoas da minha esfera privada o conhecessem, como tal, ainda que quisesse (que não quero) não posso fugir à verdade naquilo que escrevo.
Ali, não há alter ego; sou eu mesma; no bom e no menos bom, com todas (não são assim tantas) as qualidades e com todos (estes são mesmo muitos) os meus defeitos.
Este mundo das palavras tem muito mais de bom do que muitas pessoas julgam. Tens o teu exemplo e conheço mais alguns (já tive o prazer de viver um) de coisas que foram feitas para ajudar alguém. É claro que existem sempre pessoas que pensam que se fazes algo é porque pretendes algo em troca. Mas isso são pessoas que só conhecem aquilo que são. Como tal, não percebem que existam outros que ajudam pelo simples facto de ajudar. Mesmo que se trate de um blogue "profissional."
EliminarVolto a dizer. Acredito que a escrita mostra muito de cada um de nós. Até noto isso nos textos do local onde trabalho. Não preciso de olhar para uma assinatura para saber qual foi o meu colega que escreveu o texto.
Todos temos qualidades e defeitos. O que acontece é que muitas pessoas escondem os defeitos que têm a tentar denegrir as qualidades dos outros. Isso mostra o que são. Por mais que digam que são apenas brincadeiras e outros blás blás blás.
:) É por reflexões destas que eu gosto tanto de por cá passar!
ResponderEliminarMais uma vez, verdade verdadinha o que escreves...
Beijinho e boa semana!
É o que penso. Qualquer texto revela muito mais sobre a pessoa do que a pessoa julga. Quer seja num blogue, quer seja noutro formato qualquer. É fácil perceber quer tipo de pessoa é, mesmo quando os seus textos não passam de cópias de estilos de outras pessoas.
Eliminar... Já agora... Errata: Louca de feitio; não Louca em termos de exposição pessoal. Já me basta a feito ao Sol.. ;)
ResponderEliminarMuito bom :)
EliminarJá conheces o meu blog, a minha escrita, a minha história...já me conheces. Não vou contar tudo outra vez, não quero ser chata, mas sabes perfeitamente que começou por ser o meu diário, o meu cantinho e ainda hoje estou a aprender e a apreender como tudo isto cresceu. Sempre garanti a MorMeu que ia ter cuidado com o que escrevo, atenta e discreta, para não revelar demais de mim e a resposta foi "Mas tu não vês que isso é impossível? Tu escreves como falas como sentes, quando mal te aperceberes, já toda a gente vai saber mais de ti do que tu imaginas, porque qualquer um fica a conhecer-te pelo que escreves, tu és transparente, sempre foste, não é na escrita agora que vais mudar..."...
ResponderEliminarSó recentemente tive oportunidade de viver um episódio menos feliz por causa do meu espaço, com o que escrevo...curiosamente a surpresa chegou-me via família, quem diria?!
Fora isso todos os "estranhos" que me acompanham, já se me entranharam, já não vivo sem eles e como já te disse muitas vezes, são a côr dos meus dias. Não pretendo mudar nada daquilo que sou e que escrevo e quem não gostar...pode sempre por na beirinha do prato.
Já não me lembrava de um desabafo tão grande contigo, Amigo. Obrigada!
jinhooooosssssss
O que acontece contigo acontece com toda a gente. Quer seja uma pessoa que se assume ou outra que prefere esconder a identidade. Quer seja uma pessoa sincera ou uma pessoa falsa. Quer seja uma pessoa íntegra ou um mero cobarde. Está lá tudo. Claro que os mais fracos e cobardes tendem a desculpar-se com tudo e algum coisa, tentando fingir que não são o reflexo das suas palavras.
EliminarObrigado pelo teu testemunho :)
beijos
Um blogue é uma extensão da pessoa que nele escreve - tem tanto de bom como de mau e só tem a importância que o autor e os leitores lhe dão.
ResponderEliminarNão discuto a importância. E tens razão, só tem a que a pessoa quiser. Aquilo que defendo é que a escrita, seja ela qual for, mostra o que a pessoa é.
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