O Hotel Muxito, localizado em Vale dos Gatos,
no Seixal, e abandonado há muitos anos foi o local escolhido para gravar boa
parte das cenas de RPG, o primeiro filme português de ficção científica. Este
local fica a cerca de dez quilómetros da minha casa. E, apesar de (lamentavelmente)
estar ao abandono, continua a ser um espaço de rara beleza. Este ressurgimento
do Muxito levou-me a querer saber ainda mais sobre a sua história. Falei com os
meus pais, li algumas coisas e nem precisei de cinco minutos para perceber que
este hotel não precisa de ser cenário de um filme. Este hotel tem uma história
que merece ser contada em filme ou noutro projecto qualquer do género. E foi
isso que me levou a escrever este texto. Não pretendo mostrar aquilo que o
espaço é hoje mas recordar aquilo que foi.
O Hotel do Muxito foi inaugurado em 1956, tendo
feito furor nas décadas de 50 e 60. O espaço era composto por um hotel, treze
moradias, motel, restaurante, discoteca, piscina, campos de ténis, lagos
artificiais e até uma pequena praça de touros. Na época, era aqui que toda a
gente queria estar. Era aqui que os ricos gastavam o seu dinheiro. Estamos a
falar de um complexo de luxo. Basta dizer que foi aqui que foi construída a
primeira piscina olímpica portuguesa. Será que alguém se recorda de hotéis com
piscinas de cinquenta metros e pranchas de dez metros de altura?
Os turistas tinham ao seu dispor motas para
explorarem os hectares de bosque que cobriam o hotel. Num dos lagos, de enormes
dimensões, existiam barcos a remo. Os courts de ténis eram na zona onde hoje
passa a A2. Como curiosidade pode dizer-se que o acesso à praia da Fonte da
Telha foi alargado pelos proprietários do hotel que assim podiam transportar os
hóspedes até à praia.
Ao contrário do que acontece hoje, na altura
ninguém conseguia ver o Muxito que estava escondido pela densa e verdejante
paisagem que o protegia de olhares indiscretos. Hoje, quase nada nada é oculto. Não só pelo abandono mas também pela construção da A2, que cortou a
propriedade. Diz-se que a família que possuía o hotel tinha cerca de cem
hectares de terra em terrenos adjacentes ao hotel. Para quem não sabe, cem
hectares equivalem a cem campos de futebol. Era aqui que também ficavam
instaladas as equipas de futebol e diversas selecções internacionais que viam
no complexo o local ideal para estagiar.
Apesar da sua magnitude, o Muxito chegou a ter
um projecto de ampliação que tornaria o espaço em algo ainda mais
extraordinário. O famoso arquitecto francês Jacques Couëlle foi o autor do
mesmo, que projectava mais um hotel, um maior número de vivendas e ainda aquele
que poderia ter sido o primeiro grande centro comercial português.
Mas, nada disto aconteceu. Após o 25 de Abril,
o Muxito foi ocupado por grupos revolucionários que viam neste local um ícone
da classe alta. Como era normal na época, o espaço foi ocupado e o seu recheio
roubado. Dando assim início ao fim de um dos projectos nacionais mais
interessantes. Em 1999, Gordana Bayloni – a proprietária do hotel – morreu e
desde estão que não existe disponibilidade financeira para reerguer o Muxito, que
desde então está ao abandono, tendo ainda sido utilizado como infantário.
Se estes ingredientes já são dignos de uma
trama cinematográfica, ficam ainda melhores quando se se acrescentam outros. Há muitos anos apareceu um casal americano morto numa das
vivendas. O caso foi muito mediático e nunca se soube o que realmente terá
acontecido. Diz-se que foram assassinados e que o(s) autor(es) do homicídio
pouparam os filhos do casal. Conta-se que o casal estava envolvido com agências
de espionagem internacional. Diz-se também que outro casal, que quis comprar o
hotel, terá sido assassinado no restaurante, sendo que esta história não está
provada. Contam-se também histórias de pessoas que morreram ao saltar da
prancha dos dez metros. Isto faz com que muitas pessoas acreditem tratar-se de
um local assombrado. Há ainda quem defenda que o projecto está ao abandono
devido à Câmara Municipal do Seixal e dos interesses que tem na zona. Deixo aqui algumas imagens daquilo que era o Muxito.
Isto é o resultado de poucos minutos mergulhado na história do Hotel do Muxito. Sei que há muito mais para descobrir. Tenho a
certeza de que dava uma grande reportagem para televisão ou mesmo para imprensa escrita. E sei também que dava um belo filme
onde a história do espaço podia ser misturada com os tais casais assassinados e
mais uma ou outra história de amor.
Aconselho uma visita ao espaço. Os mais
cuidadosos, podem ver o mesmo da estada, local onde tirei a foto que aqui
revelo. Os mais audazes, descubram as ruínas. Mas, não o façam sozinhos pois
nunca se sabe aquilo que se pode lá encontrar. É preferível, por uma questão de
segurança ser um grupo de diversos elementos a explorar um local onde se
respira história e onde se podem imaginar dezenas e dezenas de histórias.
O spot é mesmo qualquer coisa, já lá fui explorar umas 3 vezes.. A piscina abandonada traz-me uma vibe muito creepy! E ainda bem que eu não sabia dessa parte do casal americano quando andei a cuscar as casinhas..
ResponderEliminarFiquei com vontade de ir lá :)
EliminarUma história espectacular de facto. :)
ResponderEliminarE quase desconhecida :(
EliminarAcho que o meu pai já me tinha dito que foi um hotel. Ver as fotos do que foi em comparação com o que é hoje, espetacular. Obrigada! De vez em quando passeio a bixinha para esses lados.
ResponderEliminarÉ um marco dos nossos lados.
EliminarFiquei com curiosidade de ir espreitar o MUxito!
ResponderEliminarVale a pena!
Eliminareste post devia era estar publicado numa revista de turismo. está muito bem escrito, conciso e compreensivel. tinha ideia que o hotel era muito bom, mas agora tenho a certeza... os preços andam mais ou menos como... por noite para duas pessoas... grande abraço!
ResponderEliminarhttp://ocarteiravazia.blogspot.pt/
Eu gostava de ver a história do Muxito numa revista ou numa reportagem televisiva onde as pessoas conhecessem mais do que as ruínas.
EliminarJá ouvi dizer que o espaço é usado, de vez em quando, por praticantes de airsoft.
ResponderEliminarNão sabia disso.
Eliminar...ai o que me fizeste recordar...passo imensas vezes pela estrada e olho para lá e dá dó ed ver o abandono e o descoberto das ruínas...ainda me lembro de ser bem pequenita e ir ás piscinas do Muxito...eram um must na altura :)
ResponderEliminarOuvi dizer que sim :)
EliminarVi as fotos no instagram e fiquei curiosa. Agora que vim ler tudo com atenção só posso agradecer a partilha.
ResponderEliminar:)
Obrigado eu por passares por aqui :)
EliminarÉ incrivel ver como esse local era antigamente e como está agora. Um amigo meu sofreu um grave acidente nesse local, ele estava com um grupo de amigos a graffitar e caiu do 3º andar, num outro edifico que não está presente nas fotos, ele esteve em coma 5 meses, acordou e voltou à sua vida normal e sem qualquer problema. Já testemunhei cenas de sexo nessas varandas no edifico com a piscina e estava simplesmente a correr na rua. O filme sem dúvida que é uma boa publicidade nem que seja para a Margem Sul . :)
ResponderEliminarO Muxito deve ter histórias que nunca mais acabam. Acredito que corras nas rua onde tirei a foto.
EliminarJá lá passei centenas de vezes, e sempre me interroguei o que teria sido aquele espaço. Pelos vistos, era algo luxuoso mesmo em pleno Seixal...
ResponderEliminarEra um dos maiores luxos nacionais.
EliminarBoa publicidade um hotel em ruinas?! Se andam a grafitar, ao menos façam uns desenhos bonitos. Outra questão pertinente: a esquerda, é contra o capitalismo mas vai ocupar um local capitalista; é pelo emprego mas ocupou aquilo e levou ao desemprego; é contra os roubos, mas incentiva a roubar. Excelente!
ResponderEliminarNo pós 25 de Abril isto aconteceu em muitos locais. Conheço pessoas que ficaram quase sem nada e que tinham muito. Muitas delas tiveram de sair de Portugal.
Eliminaré engraçado hoje, dia em que este post foi escrito, eu ter visto uma foto duma revista (Nau XXI)no Facebook, que me fez lembrar o Muxito e ter ido pesquisar sobre o assunto. Soube então que lá foram feitas as filmagens do primeiro filme de ficção cientifica português e li este post. Já encontrei também no Googlemaps a sua localização. Eu só me lembrava que era na estrada nacional, ficava à direita de quem ia no sentido de Setúbal e tinha um gato preto. A última vez que lá fui, foi no verão de 1968...
ResponderEliminarVê-se "bem" da A2, da Nacional mas o melhor é ir pelos bombeiros.
EliminarJunto à auto-estrada havia uma Discoteca, alguém se lembra? Eu lembro, fui lá algumas vezes devia ter uns 14 anos. Era lindo o Muxito. Passavam-se lá belos dias. Donde morava, na EN10, Quinta da Bela Vista, via-se o Muxito. Saudades!
EliminarGostei tanto desta descrição, eu que nasci e cresci bem ali ao lado, soutelo, e iamos em grupo de amigos para a psicina no verão que era explorada. A minha avó materna veio para uma quinta a onde agora é a ponte que liga cruz de pau a foros de amora sendo que a quinta ficou mais peq e mais abaixo, no inicio do bairro do soutelo, vivi lá até aos 21 anos altura que a camera se interessou para fazer um condominio privado, as moradias estão lá diz-se que a mais alta seria para um posto da gnr visto que em frente a onde autrora eram instalações da marinha é agora parte dos bombeiros, oficinas e motoclube, da história que descreves do muxito não conhecia, foi bom conhecer :-) , só conheço histórias pós 25 de abril com a revolução e a destruição do espaço, da morte de um jovem que se aventurou na prancha mais alta, de violações que ocorriam na mata circundante bem como era frequentada por gays e isto sei que era msm muito perigoso nós que moravamos tão perto da cruz de pau mas não podiamos passar por esse mato, agora predios e area da estação dos comboios, já da fonte dsa telha a minha conta que iam de burro e que a subida era em areia da praia e mais inclinada :-) .........e já agora o hotel que lá houve?! O que eu recordo de brincar nas ruinas qd miuda e a praia era vivida em liberdade pela falesia em busca de argila para besuntar o corpo :-)
ResponderEliminarAdorei essas memórias que recordaste. Obrigado :)
EliminarA Quinta p onde foi a sua avó seria a do Carelhas ou do Sacristão. Vivi tambem ( cerca de 30 anos) ai até a minha casa ir abaixo devido à linha do caminho de ferro..boas memórias
Eliminar* minha avó conta
ResponderEliminarEu percebi :)
EliminarAcabado de mostrar este post ao marido que cresceu na zona de agora marisol que une com o pinhal conde da cunha e agora ficamos a imaginar porque no documento da compra do terreno, em 1967, estä incrito vale de gatos, seriam terrenos dessa senhora?
ResponderEliminarDiz-se que a família tinha muitos terrenos em volta do Muxito. É bem possível que fosse.
Eliminarvisitei este hotel abandonado e gostaria imenso que na dia de hoje ainda estivece aberto
ResponderEliminarTu e muita gente.
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