20.9.13

carácter. ter ou não ter, eis a questão

Não se aprende a ter carácter. Por mais que queria ou tente acreditar nisto, não me dou por convencido. O carácter faz parte de uma pessoa. Ou se tem. Ou não se têm. E não se aprende a tê-lo ao ler vinte livros sobre o tema. Ou simplesmente porque se tem uma licenciatura numa qualquer universidade onde a média de acesso ronda os vinte valores. Também não há verniz que cubra a ausência dele. Nem penteados com mais ou menos laca para que não se desmanchem ao longo do dia fazem com que o carácter fique por ali. E os saltos altos? Serão suficientes para subir a um diferente nível de carácter? Acho que não! Tal como não acredito que roupas das marcas mais caras sejam sinal de pessoa de carácter. Quando muito, aprende-se a disfarçar a ausência de carácter.

Por outro lado, meias cheias de buracos não significam que estamos perante uma pessoa mal formada. Ou mesmo sem carácter. E o mesmo se aplica a tatuagens, roupas rasgadas, penteados malucos, piercings sensuais, sujidade na pele, pés imundos, unhas de meter medo e ao analfabetismo. Porque é possível não ter muitas coisas que a vida infelizmente não proporciona a todos, ou seguir um caminho diferente dos demais e manter um carácter ao nível de um Dalai Lama, por exemplo. O bom não é sinal de carácter. E o mau não significa ausência de valores. É simplesmente uma questão de perspectiva. De análise. E, infelizmente, tende-se a associar uma imagem cuidada a algo bom e a fugir a sete pés de uma imagem que não se enquadra nos padrões que alguém, algures, definiu como algo a seguir por todos.

Porém, é muito fácil, e está ao alcance de todas as pessoas, perceber quando estamos perante uma pessoa com carácter ou alguém que não o tem. Bastam meia dúzia de palavras, escolhidas cuidadosamente a pensar num objectivo, e alguns minutos. Depois, é mais ou menos como um teste de gravidez. Olha-se para os relógio. Contam-se alguns minutos. E o resultado aparece. A diferença está nos efeitos desse mesmo resultado. Nos testes de gravidez a maioria das pessoas deseja encontrar os dois traços que confirmam a chegada de uma nova vida. Nos testes de carácter, desejamos quase sempre os dois traços, que confirmam a existência de carácter. Noutros casos, efectuamos o teste só para ter a certeza que um dos traços nunca irá aparecer.

E enganem-se aqueles que pensam que um teste de carácter está apenas ao nível de doutores com quociente de inteligência acima dos 130. Ou seja, de um génio. Qualquer pessoa, basta que assim o deseje, descobre me minutos se alguém tem carácter ou não. Ao contrário de um teste de gravidez, este é gratuito. E até se assemelha a um preservativo ou uma pílula contraceptiva – em comparação com aquelas pessoas que não desejam ter filhos – porque evita muitos problemas e faz com que não se perca tempo com aquilo que é acessório e não se deseja.

19 comentários:

  1. Isso de ter ou não ter carácter tem muito que se lhe diga. Carácter todos temos, uns melhor, outros pior. Ser-se mesquinho, a meu ver, é ter carácter, mau carácter. Ser-se sério e íntegro é ter caraácter, bom carácter. Mas depois vem a eterna questão, quem define o que é bom e o que é mau? Podemos limitar-nos a dizer que, não prejudicando outros, determinada atitude é boa? É assim tão simples?

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    1. Eu prefiro olhar para o mau como a ausência de carácter. E não olho para a mesquinhez como carácter mas como a ausência dele. Acredito sobretudo que o nosso carácter vê-se em relação a tudo o que nos rodeia. Nos bons e nos maus momentos, que nos levam a determinadas condutas.

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  2. Carácter todos temos! Uns têm um carácter integro, bom, honesto, altruísta! Outros têm um carácter de m****!
    Agora concordo contigo, é fácil testar o carácter das outras pessoas. E, não é o aspecto, dinheiro, estudos que define uma pessoa. Conheço, muitos licenciados com dinheiro e bem na vida que têm um carácter muito dúvidoso!

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  3. http://www.lexico.pt/caracter/

    Existem, basicamente, dois tipos de definição de Carácter, um mais lato e outro mais restrito. O seu significado é, portanto, subjectivo.
    Para mim, aceito o primeiro: "2. Conjunto de características, boas ou más, que distinguem uma pessoa, um povo; traço distintivo;" e "5. Reunião de características psicológicas comuns que compõem um indivíduo ou um grupo de pessoas."
    O carácter está lá, o conjunto das características é que, por vezes, é maioritariamente cunhado de más e duvidosas qualidades.

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    1. Percebo muito bem aquilo que dizes mas prefiro ficar-me pelo carácter, que deverá ser bom.

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    2. Então estamos de acordo. Há carácter bom e carácter mau, mas ele existe sempre.

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  4. Sim, concordo contigo.
    Há quem seja íntegro e com bons princípios. Outros acham que nada disso importa e que os valores que os outros prezam são apenas utopias e coisas irreais.
    Confesso que a cada vez que me cruzo com pessoas destas, tenho vontade de lhes dizer das boas!
    Enfim, o melhor é não lhes dar grande importância, pois não merecem a perda de tempo!

    Um abraço

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  5. E infelizmente depois temos os excelentes actores e actrizes, que nem com testes tu lhes vês o mau carácter (ou como preferires: ausência do mesmo), que só bem mais tarde é que se vem revelar... Já que falas em pílulas e preservativos: só na altura do nascimento (vulgo: desilusão) é que se dá pelo tracinho no teste de gravidez.

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  6. Resumindo, vivemos uma crise de valores. A sociedade está completamente podre.

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  7. Como eu costumo dizer "Ou se tem, ou se não tem!"
    Vem no ADN, na medúla da coluna vertebral de cada um de nós, ou está, ou não está.
    A não esquecer: O essencial é invisível aos olhos, não depende portanto da aparência de ninguém.

    Jinhosssssss

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  8. Subscrevo integralmente todo o texto.
    Não diria melhor :)

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  9. E que teste é esse? O jeitão que me dava ter as suas instruções. :/
    beijinho

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