3.2.14

drogas e vícios

A notícia da morte de Philip Seymour Hoffman chocou-me mas não me surpreendeu. Chocou-me tal como me choca qualquer notícia sobre uma pessoa que morre com uma seringa espetada no braço deixando a seu lado um pouco (ou muito) de heroína. Abdicando de sonhos e deixando uma família à deriva. Não me surpreendeu porque o talentoso actor já tinha tornado público que tinha voltado a consumir drogas depois de mais de vinte anos de abstinência. E se voltou, por alguma razão terá sido. Provavelmente, terá utilizado aquela típica desculpa de que só um pouco não me faz mal e mata o vício. O pior é que nisto das drogas nunca existe o é só um pouco que não me faz mal nenhum e não passo disto.

Quando tenho conhecimento de notícias deste tipo lembro-me sempre dos meus amigos que consomem drogas. Abro aqui um pequeno parêntesis para dizer que não escondo que tenho amigos que consomem drogas. Até porque não escolho amizades de acordo com padrões de qualidades que ninguém pode quebrar. Eles tomaram as suas opções. Eu tomei as minhas. Fiz os alertas que tinha e devia fazer. E há espaço para uma amizade sincera apesar das escolhas diferentes de cada um. É claro que leva a um natural afastamento porque os estilos de vida são distintos mas eles têm a perfeita noção de que a nossa amizade não vive do aliciamento e do “experimenta isto que vais gostar.” São opções. Deles e minhas.

Em comum, os meus amigos que consomem drogas (sobretudo leves) defendem que não são viciados. Dizem que está tudo controlado. Que são eles que mandam e não a droga. Dizem isto aqueles que fumam uma ganza ocasionalmente. Dizem isto aqueles que fumam ganzas o dia todo. E dizem aqueles que começaram por fumar umas ganzas mas que entretanto entraram no domínio de outras drogas como a cocaína. Mas existem mais dados em comum.

Quase todos os meus amigos que consomem algo dizem que o momento em que o fazem corresponde a uma espécie de pausa. É um momento de paz em que se desligam do mundo e dos problemas. Sentem-se vivos de uma maneira especial. Não passa pelo efeito super-homem (apesar de também existirem aqueles que se julgam os maiores quando estão sob o efeito de algo). É sobretudo para relaxar, explicam. Posso ouvir estas versões que nunca irei ter vontade de experimentar esse tipo de organização temporária e ilusória. Nem sequer percebo que seja necessária uma substância para fazer com que o caos da minha vida se ausente durante o efeito da droga.

Acredito que Philip Seymour Hoffman garantisse que não era um viciado. Acredito que aquele momento fosse uma pausa na sua vida. Acredito que para ele não fosse um vício mas um momento de descontracção. Aliás, acredito que assim é para qualquer viciado em algo que garante não o ser. Como disse no início do texto, esta notícia não me surpreende. Choca-me. E desejo que choque muito mais os meus amigos que consomem drogas. E que choque muito mais qualquer pessoa que consome drogas. E que sendo viciado, garante que não o é.

24 comentários:

  1. Lamento a minha dureza, mas não sinto pena de pessoas que morrem por consumirem drogas. A informação é mais que muita.

    Lamento mesmo porque o adorava como actor, mas consumir drogas foi escolha dele.

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    1. Não consigo ter uma visão tão fria sobre o assunto. Percebo o que dizes mas não consigo ver as coisas assim.

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  2. Choca e , tal como outros vícios, ninguém aceita que é viciado.
    Não comento mais nada porque está rudo dito aqui no post.
    Boa segunda-feira.

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  3. Senti um choque quando li a notícia. É triste quando não conseguimos viver a vida e enfrentar os seus desafios sem "ajudas" destas.
    Que descanse em paz.
    Abraço

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    1. Fiquei chocado mas não surpreendido. É algo que já não me surpreende para aqueles lados (hollywood).

      Abraço

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  4. Texto fantástico, há coisas que devem ser tratadas com este tipo de frontalidade e um pouco de frieza.
    Enquanto chocar ainda temos esperança que algo mude.

    http://oneplustwoblog.blogspot.pt/

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  5. É horrível ver uma vida desperdiçada assim, seja um famoso ou não. No fim, são sempre as drogas que tomam conta da vida deles, apesar de pensarem o contrário. É triste, muito triste.
    Acho que existem melhores maneiras de fazer uma pausa, do que usar drogas....

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    1. Não discordo de que é uma vida que se desperdiça. E isso é muito triste.

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  6. Este é o lado negro da fama e da vida de muitas pessoas. E sou-te sincera, espanta-me cada vez menos as mortes por overdoses de drogas pesadas ou de medicamentos. Se um cigarro dá ilusão de acalmar os nervos, a cannabis alivia os efeitos da quimioterapia, as drogas pesadas devem com certeza ser um escape para a vida das pessoas. E os avisos não servem de nada. Uma pessoa que queira experimentar, experimenta. E se gosta, se se sente bem, se ajuda continua a usar. Por esse motivo é fácil entrar mas é tão mas tão difícil sair, mesmo tendo a perfeita consciência de todos os riscos.

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    1. Acho que se entra num mundo em que se quer sempre mais um pouco. E mais um pouco. E mais um pouco até que é fatal sem que se perceba que se caminha para a morte.

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  7. Estando eu numa situação de luta á toxicodependencia (não eu mas a tentar salvar o amor da minha vida),esta noticia deixou me aterrada e fez as minhas preocupações virem ao d cima...23 anos depois recai?Que medo...que forma estupida de morrer...lamento por ele e pelos que teimam em consumir...

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    1. Espero que a tua história tenha um final feliz. Tive um primo que roubava tudo o que podia em casa para vender e ter dinheiro para a droga. Roubava mesmo tudo o que se possa imaginar aos próprios pais. Felizmente, venceu a luta e organizou a sua vida.

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  8. Eu para relaxar tomo um banho bem quente ou vou a um massagista, quiçá fazer um spa. E concordo contigo, os drogados são pessoas como nós que se deixaram iludir por algo, neste caso a droga. E continuam convencidos que não têm um problema. E enquanto não admitirem para si próprios que têm um vício, nunca saírão dele.
    beijinho

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    1. Mas em Hollywood não existem spas. Existem as melhores e mais caras drogas do mundo que são oferecidas como quem oferece um cigarro. Alguns dizem que não. Outros não recusam.

      beijos

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  9. O teu penúltimo parágrafo poderia perfeitamente ser um comentário ao que escrevi outro dia (e que, entretanto, foi publicado hoje).
    As drogas podem fazer muitas coisas e podem ter efeitos de escape fantásticos, não digo que não. Mas acho que, se queremos realmente ter o "nosso momento", temos que o ter com nós próprios, da forma mais natural possível.

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    1. É a minha opção. Quanto muito com um copo ou dois de álcool.

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  10. Ele nao morreu por se ter injectado com heroina ou cocaina. Ele morreu devido a um ataque de estupidez aguda!! Peço desculpa mas so consigo ter pena dos filhos que deixou, pq dele nao tenho nenhuma.

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  11. Infelizmente acho que este tipo de acontecimentos apenas chocano momento, até porque se pensa sempre que nunca nos acontece o que acontece aos outros...felizmente ou infelizmente o meu único vício é uns quantos cafés por dia...e vá lá..um quadrado de chocolate por dia (que é como quem diz um docinho :))...

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    1. Nós nunca nos viciamos em nada. Só os outros! Eu também tenho os meus ;)

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