a minha mulher só serve para beijar os meus filhos

Nunca percebi aqueles homens que defendem que a mulher com quem escolhem casar serve para pouco mais do que educar os filhos e dar beijinhos aos mesmos. Ou seja, jogos sexuais estão fora de hipótese. “Sexo oral? Estás louco? A mulher que beija os meus filhos não faz isso”, dizem. “Sexo anal? Estás louco? Isso é coisa de porcas. A mulher que beija os meus filhos é uma senhora e não faz essas coisas”, defendem. Dou apenas estes dois exemplos porque são provavelmente os mais evidentes no que diz respeito às pessoas que defendem que as mulheres mães de filhos são uma espécie de bonecas de porcelana que servem para exibir uma imagem perfeita.

Falei de duas experiências sexuais para passar a imagem que pretendo. Mas podia falar de muitos outros, e muito mais importantes, detalhes de uma vida a dois. Podia falar de um vasto leque de maluquices e aventuras que os vários casais vivem em conjunto. E falei de homens que defendem que as suas mulheres são uns seres perfeitos e imaculados que só assim podem beijar os filhos que trazem ao mundo. Mas também podia falar de mulheres que defendem que os maridos devem ser uns santinhos que nunca fizeram nada fora dos parâmetros defendidos (algures por alguém) como normais. Pois só assim estão aptos a beijar os filhos delas.

Por mais que tente, não consigo perceber esta linha de raciocínio. Sobretudo porque aqueles que defendem que as mulheres são umas santas que servem para educar os filhos e tal, são igualmente aqueles que muitas vezes escolhem outras mulheres, com quem mantêm relacionamentos à parte dos casamentos, para fazerem tudo aquilo que as santas das mulheres estão proibidas de fazer. Sendo que, e é apenas um mero palpite, as mulheres provavelmente querem viver essas experiências com eles, que por sua vez, preferem fazer as coisas “sujas” e “menos próprias” com as “porcas” – uso este termo simplesmente porque defendem que as mulheres não o podem fazer porque são puras e limpas – que nunca vão morar lá em casa.

Do meu ponto de vista, as relações são feitas de experiências. E não me refiro apenas ao sexo mas a tudo que envolve a vida de um casal. E são essas mesmas experiências, ou melhor, vivências a dois que vão possibilitar que o casal se conheça melhor. Que perceba ao mais ínfimo detalhe aquilo com que pode contar da outra parte. E é a soma de todos esses pequenos detalhes que vai determinar a compatibilidade de um casal. Que vai fazer com que queiram viver tudo a dois em vez de preferirem viver certa experiências com outras pessoas por entenderem que a pessoa que têm em casa é perfeita demais para o que quer que seja.

E para mim, é algures na soma dessas experiências a dois que se descobre se a mulher/homem que está a nosso lado tem aquilo que entendemos ser necessário para ser uma boa mãe/pai e poder beijar os nossos filhos. Se guardarmos somente as coisas básicas da vida para essas pessoas, pouco iremos saber sobre as suas reacções a determinadas situações que fujam da normalidade ou que saltem dos eixos quando batem numa pedra.

Com isto não quero dizer que as melhores mães são aquelas que adoram sexo oral e sexo anal. Nem sequer quero passar a mensagem de que os melhores pais são aqueles que são uns loucos de primeira. Quero apenas dizer que os casais descobrem muito sobre o seu futuro nas experiências que optam por viver a dois. Quer seja na cama, no banco de trás de um carro ou (e o mais importante) em todos os pequenos detalhes da vida que não têm vergonha de viver ao lado de quem amam apenas porque isso vai estragar a imagem perfeita que querem preservar, ignorando a possibilidade de ser uma imagem falsa que se criou com base naquilo que se procura, até ao dia em que os filhos nascem.