20.2.14

agora escrevo eu #27

Existem pessoas que passam o tempo a lamuriar-se das coisas da vida. Pessoas que entendem ter os maiores problemas do mundo. Para essas pessoas tudo é um caso de vida ou de morte, quando na realidade a maior parte dos seus problemas não passam de coisas simples. São aquilo a que se costuma chamar uma tempestade num copo de água. Este texto, cuja autora me pediu o anonimato, é, num primeiro impacto, um forte murro no estômago. Depois, cabe a cada pessoa que tiver oportunidade de o ler, transforma-lo numa sábia lição de vida. Pode parecer um simples texto mas é muito mais do que isso.

Uma palavra especial de apreço para a autora. Obrigado por teres desistido da ideia de não partilhar aquilo que escreveste e que, a meu ver, muitas pessoas precisam de ouvir ou necessitam de alguém que tenha coragem de lhes dizer aquilo que aqui transmites. Muito obrigado.

“Ninguém sabe prever quando termina, nem como a viagem, apesar de pensarmos que sim, que sabemos, por vezes até temos a arrogância de ter certezas, no fundo só queríamos era ter o dom de fazermos com que na nossa vida só acontecessem coisas boas, a nós e a todos aqueles que amamos.

Mas o livre arbítrio da vida aparece e acaba, no meu caso, com uma história de amor de 30 anos, entre colegas de escola, amigos e mais tarde namorados apaixonados e unidos pelo amor e vivência de casados e pais. Em poucos segundos, o que até aí era uma tarde perfeita de férias de Verão, a que era o tempo de desfrute da praia, de dias a dois, muito namoro, muitas fotografias, muitos passeios pela Meia-Praia, por Lagos, por Marvão, noites frescas e estreladas, sol a escaldar e banhos de mar, tempo de amanhãs, o coração traiu um dos passageiros e assim termina a viagem e a minha história de amor. Ficámos a 20 dias de comemorar e festejar 24 anos de casados, até àquela tarde tínhamos tempo, falávamos no futuro, íamos fazer e acontecer. Mas não tivemos sequer uma segunda oportunidade, a vida foi inesperada e brutalmente interrompida. O meu marido morreu de paragem cardio-respiratória um mês depois de fazer 48 anos.

Por isso tenho a ousadia e infelizmente legitimidade para vos dizer que se deixem de "mariquices" e vivam as vossas vidas numa de paz e amor.”

18 comentários:

  1. Desde cedo na minha vida que lidei com a morte, com esse sentimento que fere e dói no mais profundo do ser e que se chama PERDA. Por isso é que estimo muito bem o pouco que tenho!

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    1. Esses momentos ajudam-nos a ver tudo com outros olhos. Hoje ouvia na rádio um português que está no Quénia. E um rapaz de lá perguntou-lhe como era o nosso país. O português disse que tudo estava a melhor apesar da crise. O queniano perguntou o que era a crise pois quando existia crise no Quénia, a família dele comia uma vez por semana. E ele dizia que era um rapaz feliz, que vivia numa casa com 10m2 sem wc. Que era uma pessoa muito positiva.

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    2. Portanto, citando os Monty Python: "always look on the bright side of life"! :-)

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  2. Uma lição de vida. Sem dúvida qualquer que seja o nosso "problema" nada se compara á perda dos nossos.Um beijinho grande á autora.

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  3. Eu percebo tão bem, mas tão bem , essa situação, só que felizmente o"meu" escapou... é como viver uma segunda vida, mas passamos a dar mais valor ás pequenas grandes coisas e a minimizar os problemas.
    Bom testemunho de vida este que hoje trazes aqui HSB .

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    1. Senti o mesmo com o meu pai.

      É um testemunho impressionante e tenho orgulho por ter tido a oportunidade de partilhar este texto.

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  4. Já perdi muita coisa nesta vida...mas nunca perdi um bocado de mim. No dia em e se isso acontecer não sei se terei a coragem necessária para continuar.

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  5. "Assim termina a viagem e a minha história de amor."
    Não! Apenas virou-se uma página do livro da vida. Tu ficas-te, para dar continuidade a tudo aquilo que com ele construíste. É duro, é difícil mas canaliza as tuas forças para a vida que nasceu desse grande amor.

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  6. Concordo com a Sandra Machado. Isto não é o fim mas o virar de uma pagina para uma nova etapa da vida.
    Eu perdi o meu marido quando eu tinha 32 e ele 45 e mais de dez anos passados eu sobrevivi, levantei-me e decidi viver as próximas etapas que a vida tinha reservado para mim. Para quem escreveu esse texto ainda haverá muitas mais etapas e uma delas foi partilhar este texto.
    Muitas felicidades para elae muito obrigada a ti homem sem blog por partilhares experiências que tanto nos enriquecem

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    1. Muito obrigado pelo teu testemunho. É um orgulho gigante poder contar com pessoas como tu por aqui. Obrigado.

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  7. Entendo a vida na Terra como uma passagem...uma peregrinação...portanto preocupa-me muito viver bem a vida na Terra para poder ter uma boa vida no céu...Gostei muito do texto e da forma de abordar a morte do marido...Muitas felicidades à autora....
    http://dcabanas.blogspot.pt/

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  8. sou respeitadora da dor alheia, por isso não considero "mariquice" quando alguém tem a dor mais pequena que a minha...

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    1. Não se trata de mariquices. A verdade é que muitas pessoas exageram e fazem de coisas insignificantes um problema gigante.

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