17.2.14

o ódio é fodido

Não tenho grandes hábitos de leitura. Tento corrigir mas é algo que nunca tive e que não escondo. Porém, cedo na minha adolescência devorei o livro O Amor é Fodido. Uma obra escrita com brilhantismo por Miguel Esteves Cardoso. Acredito que, em grande parte, este livro, e porque não o próprio Miguel Esteves Cardoso, é o responsável pelo facto de muitas pessoas dizerem que o amor é fodido. Algo em que acreditei e que também proferi muitas vezes quando o meu coração batia à porta errada e/ou quando não era correspondido. “O gajo tem razão. O amor é mesmo fodido”, soltava enquanto pensava que o mundo ia desabar e que nunca seria feliz. Coisas de adolescente que ainda não sabe bem o que se passa no coração.

Os anos foram passando. Continuo a admirar a obra, o talento e a força de Miguel Esteves Cardoso. Mas percebi que o amor não é fodido. Ou que até pode ser, mas em bom, se é que isso existe. E digo isto porque acredito que mesmo na maior parte das fases más de uma história de amor – aquelas que nos levam a colocar tudo em causa – existe algo positivo. Que não pode ser fodido. Algo que mexe connosco. Que nos faz querer ser cada vez melhores. Apesar de doer é um sentimento que cresce dentro de nós e que queremos partilhar com alguém. Até porque quando tudo corre bem, queremos que a nossa alegria seja notada a milhares de quilómetros. Tal como naqueles momentos em que as pessoas olham para nós e dizem logo, entre risos, que estamos apaixonados. E isso não pode ser fodido.

Aquilo que é mesmo mas mesmo fodido é o ódio. Esse sim, é fodido e em mau. Ou péssimo. Sendo também nefasto. E apenas para quem o sente. É que ao contrário do amor, que nos puxa para cima, este prende, quem o sente, ao fundo do poço. É uma espécie de lodo que agarra e se entranha em quem o sente. É algo que corrói e mata lentamente. E ao contrário do amor, que se partilha com maior ou menor alegria, ninguém quer partilhar o ódio de outra pessoa. Nem mesmo aqueles que fingem interessar-se pelo ódio alheio. A verdade é que ninguém quer o ódio de outra pessoa.

E aquilo que é mais fodido no ódio é que quem o sente é que tem de viver com ele. Essas pessoas é que têm de lidar com os sentimentos que vivem dentro de si. Essas pessoas é que têm de o alimentar ou arranjar forma de acabar com ele. E se existem pessoas que perdem tempo de vida são aquelas que odeiam. Porque odiar, numa vida tão curta é um desperdício de tempo. É deitar fora a oportunidade de marcar a diferença por algo bom. É a minha opinião e vale o que vale mas odiar é ser fraco e assumir a incapacidade de ser melhor do que aqueles que se odeiam. Por isso, Miguel Esteves Cardoso, desculpa a minha ousadia. O amor não é fodido. O ódio é que é fodido.

15 comentários:

  1. O ódio é das coisas mais feias... corrói por dentro.

    ResponderEliminar
  2. O ódio é das coisas mais feias... corrói por dentro.

    ResponderEliminar
  3. O amor é fodido! O ódio deve ser uma merda, onde quem o sente se enterra vivo, atrelado a uma carga tão grande de negativismo que imagino que lhe custe respirar. Ainda assim, e sendo o dito, fodido, nunca e jamais me furtarei a ele! Beijinhos*

    ResponderEliminar
  4. Essas emoções menos boas que todos, em alguma altura sentimos, fazem parte de nós... O problema reside no facto de que a única coisa a que fomos ensinados, por pais, professores, sociedade em geral, foi lidar com os outros e com as emoções dos outros, nunca com as nossas... Não faz mal sentir, medo, ódio, raiva, solidão... É preciso reconhecer essas emoções e porque é que apareceram, aceitá-las, porque fazem parte de nós e só depois seguir em frente. O que nos foi ensinado é esquecê-las, reprimi-las, pôr um sorriso na cara e "bola p'rá frente". O coração não esquece, fica lá guardado num cantinho pronto a sair cá para fora, por vezes em proporções dantescas... E depois dizem: "olha, estava bem e de repente, enlouqueceu..."
    Mete medo lidar com esses sentimentos, mas é preciso senti-los, se eles aparecem... Quantas vezes não vemos as crianças a chorar e não compreendemos porquê e depois, de repente, já estão a rir? As crianças ainda não foram totalmente "modificadas" pela sociedade, ainda são puras de sentimentos... Sentem tristeza choram! Problema resolvido, já podem rir! Nós é que estamos tão cheios de "máscaras" que, quando sentimos algo de menos bom, forçamos a que desapareça rápido porque ninguém quer estar triste ou deprimido... O que é compreensível! Resumindo e concluindo, o ódio é fodido sim, para quem o sente, principalmente! Porque não sabe lidar com aquele sentimento e ainda fica pior porque não consegue fazer com que desapareça! Fica a remoer no ódio, no que o fez sentir ódio, nas pessoas que o fizeram sentir ódio, mas não consegue aceitar que tem o DIREITO de se sentir mal. Nós nunca achamos que temos o direito de não sorrir por causa daquilo que os outros possam pensar... Nós tratamo-nos muito mal a nível de emoções...
    Falar é fácil (ou melhor, escrever)
    Lindo texto como sempre e concordo contigo!
    Desculpa ter divagado :)))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desculpa nada. Bela divagação. Existem sentimentos momentâneos com os quais temos de aprender a lidar. Quer sejam bons ou maus. Agora, deixar que os maus mandem em nós. Compreendo perfeitamente que uma pessoa que tenha sido maltratada fisica/psicologicamente por outra odeie essa pessoa. Isso não me surpreende. Agora, odiar apenas por odiar e muitas vezes pessoas de quem nada se sabe é um claro sinal de inferioridade.

      Eliminar
    2. Pelo menos eu fiquei a remoer no assunto...concordo totalmente que é preciso lidar, digerir e analisar as nossas emoções tanto as mais bonitinhas de aceitar, como aquelas que dificilmente alguém reconhece sentir.

      Eliminar
    3. Isso é importante, tal como não deixar que as más mandem em nós.

      Eliminar
  5. Agree. Que sentimento tão infertil e arido.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Triste quem tem de o alimentar e tratar dele como se fosse um animal de estimação que vive dentro de si.

      Eliminar
  6. Não vejo ódio como sendo um sentimento que resulte de terem rejeitado o nosso amor. Sente-se raiva, é natural. Essa raiva ajuda a libertar o amor que ainda existe e seguir em frente. Ódio é outra coisa. Quem ainda ama alguém, não a pode odiar. Torna-se sim, se calhar, um amor obsessivo que vai remoendo.
    Ódio, é maldade pura, é o sentimento mais frio, destrutivo e vil, que alguém pode sentir. Acredito que poucos de nós sintamos algo tão feio!...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que aquele ódio gratuito que vive dentro das pessoas tem de estar relacionado com outros sentimentos maus que geram aquele.

      Eliminar
  7. Concordo com tudo o que disseste...mase infelizmente, a vida por vezes consegue ser traiçoeira e colocar-nos esses semntimentos menos bons (para não dizer maus) no nosso coração...e cabe só a nós a capacidade de os arrancar de lá...mas nem sempre fácil porque estão associdos a outros sentimentos como traição, rejeição, vulnerabilidade, falta de auto-estima...e aí o ambiente em que estamos, o termos pessoas que acreditem em nós e nos deêm momento únicos de esperança e alegria é essencial...mas esta é apenas a minha humilde opinião e experiência...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aquilo que dizes é uma coisa. Ódio gratuito e vazio é outra.

      As pessoas têm de aprender a lidar com aquilo que sentem porque odiar outra pessoa nada resolve. Serve apenas para amargurar que sente o ódio.

      Eliminar