25.11.13

relato feminino de uma ida à depilação

Já ouvi diversos relatos femininos sobre idas à depilação. Desde as dores até à exposição da intimidade a uma pessoa que pode ser estranha. O quanto custa, os “nunca mais faço isto”, entre muitas outras coisas. Mas nunca tinha ouvido um relato tão maravilhoso como este que conheci hoje e que aqui partilho, escrito pela Jujuba, há mais de um ano. Acredito que a maior parte das mulheres vão encontrar pormenores com os quais se identificam. Ou não?

“ “Tenta sim. Vai ficar lindo.”

Foi assim que decidi… Por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha.
Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às… Deixa eu ver…13h?
- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui.
Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?
- É… é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tapando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal.

Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural. Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. “Me leva daqui, Deus, me teletransporta”. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista.
Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?
- Sim… sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa merda…
- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho?

Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu.
O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar…namorar… eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.”

30 comentários:

  1. Quando passar para o laser, falamos...

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  2. Estou a chorar de tanto me rir, tenho as bochechas coladas aos olhos e a cara dormente mas a verdade é que "Mulher Sofre" para ficar (ainda) mais bela...e se com cera o relato é este, imagina se ela tivesse feito depilação a laser....acho que tinha esganado a esteticista, de certeza, porque essa, além de doer horrores, ainda ficamos como cheiro de pele de porco queimada durante um tempo para nos relembrar da tortura!
    Arre.

    Beijocas nossas ;) ADOREI!

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  3. ai meu deus ri-me tanto. A minha cara a tentar disfarcar para que ninguem veja aqui no escritorio. Chamar Abigail a coisinha e demais hahaha Acho que ela traduziu exatamente o que nos mulheres passamos!

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  4. Cheguei à conclusão que devo ser de outro planeta. Doi, sim, mas não doi isso tudo.

    (e a laser ainda menos O.o não estou a entender) lol

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  5. OK!!!! Vais passar a estar nos "Censurados": Tinhas que ter avisado que não era para ler em hora de serviço porra! Agora estou aqui de pintura toda esborratada e toda fungona de tanto que segurei o riso, valha-me deus, arranjas-me cada uma!
    Absolutamente GENIAL!

    Entre a Abigail e o Twin Peaks estou aqui que não me seguro:)))))

    jinhoooossssssss (licencinha tenho de ir ao wc reparar os estragos:))

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    1. Rir é o melhor :)

      Abigail e twin peaks são nomes fantásticos.

      beijos

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  6. Adorei :). Obrigada pela partilha :)

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  7. Muito bom! Valeu a pena cada linha lida, pelas gargalhadas e os olhos marejados de lágrimas.

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  8. Ai Homem! Estou q não me aguento! Ri até me doerem as bochechas!! Que maravilha de testemunho e comigo foi tal e qual a primeira vez. Saí da esteticista e sentia-me uma galinha despenada... e sentia uma corrente de ar que nem te digo!
    Adorei!
    Bárbara

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    1. Acho que muitas mulheres encontram aqui detalhes com os quais se identificam :)

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  9. ahah Mas quem è que dá nomes aos genitais? È uma vagina e um pénis e pronto. Ah e depilação na virilha não dói assim tanto ;)

    (também já o estou a seguir, assim como no Facebook ;) )

    Andreia,
    http://pontofinalparagrafos.blogspot.pt

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    1. Mas Abigail é um grande nome :)

      Obrigado pela simpatia Andreia.

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    2. Começo acreditar que sim =)

      Sempre è mais sedutor do que xoxota, como se diz no Porto. =)

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  10. Looooooooooooool...credo, a depilação não é assim um bicho de sete cabeças tão grande. Há pessoas mais sensíveis umas que outras, mas não é assim tão mau. ;)
    beijinho

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    1. Se fosse mulher e lesse este relato antes de uma depilação ficava nervosa :)

      beijos

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  11. hehehehe. Ser gaja é mesmo lixado! :D:D

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  12. por acaso já conhecia. este relato tem um ritmo e uma criatividade vocabular que só brasileiro sabe fazer. é capaz de estar exagerado, mas é isso que o faz incontornável.

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    1. Este texto, do ponto de vista literário está muito bom. Prende a pessoa com ritmo e diversão.

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  13. Como não fui eu que sofri horrores, o relato deu-me para rir :) Muito bom.

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