Nunca fui daqueles meninos que passam a
adolescência a pedir ao pai para conduzir. Tal como o meu pai não
era um daqueles que consideram cool meter o filho a conduzir o carro
para depois se gabar aos amigos que o “puto já conduz que é uma
maravilha.” E sempre lidei bem com isso porque os motores e afins
nunca foram um grande fascínio para mim. É certo que era daqueles
rapazes que dizia que queria tirar a carta logo aos dezoito anos para
ter liberdade e tal. Acabei por ter a carta aos dezanove.
Como tal, a primeira vez que conduzi um
carro foi na primeira aula de condução. Recordo-me como se fosse
hoje. Na “rifa” calhou-me aquele que era considerado o pior
instrutor de todos. Lá fomos para o carro. Disse-me para entrar.
Sentei-me ao volante e disse-lhe: “Não quer vir para aqui. Isto
tem muitos carros aqui perto. Nunca conduzi e isto é capaz de correr
mal”, disse-lhe. “Calma, que está aqui para aprender”,
respondeu-me com o ar mais calmo do mundo. Que perdeu ao longo das
primeiras duas aulas.
Não achei piada às primeiras aulas.
Com o passar do tempo comecei a gostar de conduzir. A partir desse
momento já só me incomodava o facto de ter ao meu lado aquele que
era rotulado como o demónio dos instrutores. Olá e até amanhã era
aquilo que costumávamos dizer ao longo das aulas. Até um dia em que
conduzia com o vidro aberto. E o instrutor, que andava sempre vestido
com um blusão e óculos à aviador (tipo top gun) espirrou. “Quer
que feche o vidro?”, perguntei. “Este tempo é propício a
constipações”, acrescentei. “O tempo é um filho da puta”,
disse-me naquele que acabou por ser o nosso desbloqueador de
conversa.
A partir daquele momento a nossa
relação passou a ser descontraída. E cedo percebi que afinal o
homem só tinha fama de mau. Porque era um bom instrutor. Ainda
melhor homem. Uma pessoa divertida. Bem-disposta. Sempre pronto para
uma boa brincadeira e que buzinava o carro sempre que passava por um
ex-aluno. Daquele tempo recordo os murros que levava quando me
apanhava a conduzir só com uma mão, as conversas sobre os truques
que algumas miúdas usavam para tentarem ter a vida facilitada, as
aulas aproveitadas para algumas tarefas pessoais e ainda dois
momentos específicos. A vez em que fui ultrapassado por uma ape 50
porque não me deixava andar mais depressa e um estacionamento.
Estacionei perto de um muro. “Está bom?”, perguntei. “Podia
estar melhor. Sai e faz outra vez”, ordenou-me. Encostei o carro de
tal forma ao muro que quando olhei para o lado tinha arbustos dentro
do carro a bater na cara do instrutor.
Isto para dizer que aquelas trinta (se
não me engano) aulas de condução deram-me aquilo que não tinha: o
gosto pela condução. Passei a gostar tanto daquilo que nunca fui
dos rapazes que queriam que o instrutor assinasse a totalidade das
aulas antes da conclusão das mesmas. Sabia que estava apto para o
exame muito antes das trinta mas quis fazer as aulas todas. O
percurso era quase sempre o mesmo mas adorava aquela hora passada ao
volante. Tanto que, nos dias que correm, conduzir é uma das minhas
coisas favoritas.
Porém, o gosto pela condução e pela
velocidade (controlada e nos locais adequados) nunca me fizeram ser
louco por carros. Pela condução sim. Mas só isso. Nada mais. Não
percebo muito de carros nem de motores. É um tema que me passa ao
lado quando se passa debater tudo aquilo que vai além da estética,
cilindrada e cavalos. Mais do que isso e a conversa perde interesse
para mim. Quando acontece, é o momento em que pego no telemóvel e
tento passar mais um nível de um qualquer jogo.
PELA FORMA QUE CONDUZ AS PALAVRAS VOCÊ TEM A ALMA DOCE. SE FORES COMO ESCREVER DEVE SER UM HOMEM AGRADÁVEL DE ESTAR POR PERTO. :)
ResponderEliminarQUANTO AO TEXTO: PIEGAS
DIGO: COMO ESCREVE
EliminarA escrita tem parte daquilo que sou mas não mostra tudo o que sou. Quem me conhece saberá responder a isso.
EliminarObrigado pelas tuas palavras :)
Por acaso não o seu instrutor não se chamava Marcelo? É que me parece que acabou de descrever o meu instrutor de há cerca de 13 anos atrás...
ResponderEliminarNão. Tirei a carta de condução nas Paivas. Mas a data anda por aí.
Eliminareu sou o oposto... implorei ao meu pai para me ensinar a conduzir... levava-me para descampados e ensinava-me... depois fui para as aulas e eles ensinavam o basico para passar. quando eu dizia: quero fazer aquilo. a resposta deles era: ah isso nao sai no exame, nao precisa aprender... ganhei raiva à aulas de conduçao. tirei a carta...e ainda hoje detesto conduzir, sou uma azelha de primeira e há coisas k nunca aprendi a fazer :(
ResponderEliminarAcho que as aulas só ensinam mesmo básico. Porque ninguém conduz à velocidade que conduz numa aula. As verdadeiras aulas são quando temos de enfrentar as estradas sozinhos. Ainda podes aprender tudo isso. Basta que alguém te ensine.
EliminarTive muita sorte com o meu instrutor. Para além de ser considerado o melhor da escola - toda a gente gabava o facto de em 20 anos de instrução, só uns 4 ou 5 alunos é que tinham chumbado no exame - era um senhor bem simpático. Mas não foi por isso que comecei a gostar tanto de conduzir, até porque às tantas bateram-me no carro e, mesmo sem eu ter tido culpa, ganhei algum medo. Só há cerca de dois anos, quando me vi obrigada a ter de conduzir diariamente é que, pouco a pouco, comecei a gostar. E hoje em dia, como não estou no país e não trouxe o carro, tenho umas saudades incríveis de conduzir!
ResponderEliminarO meu só tinha a fama de durão porque na verdade era muito boa pessoa. Eu habituei-me a conduzir e é algo que adoro.
Eliminaradoro conduzir... o meu carro é o meu orgulho, tem 28 anos, é mais velho que eu. Mas tenho noção que conduzo muito muito muito muito mal... Sou um perigo e demasiado distraída. (tive 60 aulas de condução btw)
ResponderEliminarGosto disso :) Não das 60 aulas mas do carro com 28 anos.
EliminarÓ Bruno, tens para aqui um qualquer atrasado mental à solta... De facto, às vezes é difícil para algumas pessoas distinguir entre liberdade de expressão e completa parvoíce. Tem direito a dar a sua opinião sobre o blog e os temas nele abordados? Tem, sim senhor. Tem direito a ofender gratuitamente uma pessoa que não conhece de lado nenhum só porque beneficia do anonimato da internet? Epá, nem por isso, mas é o mundo (cibernético) que temos.
ResponderEliminarVou ser sincera: sigo este blog, mas, sinceramente, a atitude 'sou uma pessoa exemplar, e sempre fui assim (neste 'assim' incluir a qualquer característica que esteja a ser discutida no post do momento) desde pequenino, ao contrário dos outros miúdos/homens' irrita-me um poucochinho. O que me chateia, também, é a escrita, a mania de separar tudo o que deviam ser segmentos de frases por pontos finais. Tens algum trauma de infância com vírgulas? ;)
Esta é a minha opinião como leitora, e somos todos livres de ter uma. No entanto, ninguém me obriga a seguir este blog, logo, não tenho o direito de ofender quem o escreve e quem o lê,
Ana
As pessoas são livres de ter a sua opinião. Respeito isso mas não aceito faltas de educação que revelam claros distúrbios.
EliminarEm relação ao que dizes, desafio-te a encontrar um texto onde diga que sou exemplar. Ou que revele isso. Tenho as minhas qualidades. E os meus defeitos. Tal como todas as pessoas. E nunca me comparo com todas as pessoas mas com e realidade que conheço. Algo que sempre fiz.
Quanto à escrita. Cada pessoa tem o seu cunho pessoal. Eu tenho o meu. Que não tem de ser do agrado de todos. Compreendo que isso possa cansar a leitura em algumas pessoas mas é um risco que optei por correr.
Obrigado pela tua opinião Ana.
Há datas memoráveis na vida de cada pessoa, e como tal, e o dia 7 de Janeiro é para mim, porque faz 16 anos de carta! (....e o dia 15 de Setembro, dia do divórcio/mas isso não interessa nada lol)
ResponderEliminarEna tantos :)
EliminarInteressa sim. E aposto que por boas razões.
eu dava tudo para que o meu instrutor não falasse comigo, também só me dissesse 'bom dia, até à próxima', mas não.
ResponderEliminarO sr era realmente chato, carrancudo, mal disposto o que me fez detestar aquelas aulas.
felizmente, não tive de lá voltar. daria em doida.
DMoura
Eu tive mais sorte do que tu :)
Eliminarai o que eu penei para ter a minha cartinha. Aviso já que o coment vai ser longo, mas verdadeiro. Chumbei 5 vezes na condução!! Fui a exame sempre com o mesmo rapaz - o Júlio(tínhamos o mesmo instrutor - o mais cool lá da escola!!se calhar tá explicado!!), e estes foram surreais. No primeiro já depois de eu ter chumbado(contorno do passeio), o Júlio passou para o lugar do condutos e iniciou o seu exame numa descida bem acentuada. Chegados ao final da mesma, travão a fundo e vira-s o Júlio"oh..esqueci-me de pôr o cinto.". Entretanto a escola mudou de carros. Tivemos apenas uma aula naquela nova máquina. Dia do exame, chovia torrencialmente, estava nevoeiro eu queria ligar os médios para iniciar a marcha, mas...tinha-me esquecido de perguntar onde ficava o botão, de modos que liguei piscas,escovas, tranquei portas, liguei rádio, sofagem,,e abri a mala..mas nada de médios!!! No penúltimo exame e após um exame perfeito,já ao chegar à escola o examinador mandou o Júlio virar à direita(numa saída de um IP). Ele não ouviu e seguiu em velocidade elevada quando o examinador lhe grita "não ouviu?Eu mandei-o saír aqui". Travão a fundo, guinada à direita e 2 peões(ficamos virados no sentido contrário ao da marcha). Já éramos conhecidos na escola e motivo de piada, mas não desistimos e à sexta conseguimos os 2(ou então já estavam fartos de nós!!). Dele não soube mais nada, mas eu, hoje, embora conduza tenho a noção que como hei-de dizer isto??!!: SOU UMA AZELHA!!
ResponderEliminarUm verdadeiro e divertido exemplo de persistência. Ainda bem que tudo correu bem. E isso de ser azelha é relativo. Se achas isso, podes melhorar no que precisas.
Eliminarquando tirei a carta numa cidade mais ou menos bem cotada, havia instrutores que já tinham ensinados os pais e agora os filhos. a mim, calhou-me o mesmo que ensinou o meu irmão, de repente, caso eu fosse assim pró fino, passava a chamar-lhe o "tio mário", e isso era capaz de não ser boa ideia. sr. mário , minha linda, para ti, senhor mário.
ResponderEliminarEu também tentei que o meu fosse da minha irmã mas não tive sorte.
EliminarBem, o meu caso tem algumas, poucas báh, semelhanças com o teu. A primeira vez que me sentei ao volante de um carro foi na primeira aula de código, tal como tu, até ai não fazia a mínima ideia do que era conduzir. Quanto ao meu instrutor apesar de ser um excelente instrutor, nada de mais apontar, não foi de todo quem me cativou para a condução, até porque não fui daquelas pessoas que quer porque quer tirar carta e tem que ser aos dezoito, foi aos dezanove quase vinte, não era uma prioridade. Quem de facto me deu o empurrão para a condução, foi o meu pai que, quando já estava eu a terminar as aulas de código, faltavam alguns dias para ir a exame, me foi buscar ao trabalho e no regresso a casa parou o carro e me mandou para o volante, confesso que fiquei em pânico quase, afinal o carro não tinha os pedais do lado do pendura e estes já tinham sido úteis em algumas situações. Lembro-me que desde que peguei no carro até chegar a casa, não ouvi a voz do meu pai, sentou-se calado e deixou-me (tentar)conduzir. A situações repetiu-se uma e outra vez, mesmo depois de ter a carta de condução, não sei explicar bem, mas acho que o facto de o meu pai ter transmitido tranquilidade enquanto eu conduzia acabou por influenciar no meu gosto pela condução. Hoje adoro conduzir, adoro mesmo! Sinto uma certa liberdade enquanto conduzo, não sei explicar. Sem me armar em aventureira, mas quando há necessidade de me deslocar a qualquer lado faço-o sem receio, mesmo que desconheça o destino, gosto do gozo que me dá, não sei explicar, sei que gosto de o fazer .
ResponderEliminarO exemplo que dás do teu pai é muito bom. Os pais tendem a proteger os filhos e essa protecção é levada ao extremo dentro de um carro. Como tal, tendem a corrigir tudo aquilo que os filhos fazem e isso pode causar nervos. Ainda bem que não foi o teu caso.
EliminarEssa dos arbustos na cara do instrutor é boa. Ahahahah
ResponderEliminarO meu instrutor também não tinha muito boa fama, mas porque não tinha paciência para os erros dos alunos e ralhava mesmo. Aconteceu comigo uma ou duas vezes, até que eu lhe pedi directamente para ter mais paciência comigo e não falar assim porque ficava mais nervosa e fazia mais disparates. Ele entendeu e notei o esforço descomunal que ele fazia para não barafustar comigo. Depois quem pagava as favas era o aluno seguinte em que ele aproveitava para descarregar. Lol. Coitado, ainda hoje tenho pena do outro aluno. Contudo, no fim de contas o homem não era assim tão mau, porque uma vez que se encontrou com o meu pai disse-lhe que eu era boa condutora, que tinha nascido para conduzir. Mas que não me dissesse antes do exame feito para que eu não me deixasse de aplicar. Afinal o senhor até se preocupava com os alunos, só que de maneira diferente. ;)
beijinho
... até aos 30 (em Fev. 2014) hei-de pensar seriamente em tirar a carta... !
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