carros. avarias. seguradoras. reboques. mecânicos. ou a pior maneira de começar uma sexta-feira

Há uma primeira vez para tudo. Até para ficar com o carro parado numa das mais movimentadas estradas de Portugal. Aquilo que me aconteceu hoje, bem cedo. Soluços e perda de potência foi o aviso que o meu carro me deu, como quem avisa, encosta ou vais ficar parado dentro de poucos segundos. Bem mandado, encostei o carro na berma da estrada. Como bom português, tentei ligar o carro novamente. Nada mais do que soluços.

Posto isto, seguiu-se o telefonema para a seguradora. Peguei num documento e vi o número que estava mesmo por baixo de umas enormes letras onde se podia ler “assistência em viagem.” Pensei que se tratava de um número directo para pessoas que estão na mesma situação do que eu. Nada mais errado. Primeiro passo. Escolher o tipo de seguro que me leva a ligar. Depois, escolher o motivo da chamada. Até que chego à fala com a menina que está do outro lado, e que tem uma voz daquelas que dá vontade de ouvir.

“Sou vosso cliente. O carro avariou e necessitava de um reboque”, disse. Tudo muito bem, até que chegou o momento de dizer onde estava. “Estou no início do IC19. No sentido Lisboa Sintra. Cerca de cinquenta metros antes da primeira saída. Estou na berma”, expliquei, pensando que estava a dar todas as informações necessárias. “E a localidade?”, perguntou-me. “Não sei. Sei a estrada e essas coisas todas mas não sei a localidade”, referi. “Mas precisava de uma localidade”, insistiu. Lá se colocou uma coisa qualquer. Mais um assunto resolvido. “Dentro de 30 a 45 minutos chega o reboque. Posso ajudar com mais alguma coisa?” “Obrigado pela ajuda. Resta-me esperar.”

Felizmente, cinco minutos depois tocava o telemóvel. “É do reboque. Onde é que o senhor está?”, perguntou-me. Mais uma vez, expliquei tudo ao detalhe. “Mas está na Segunda Circular ou está no IC 19?”, insistiu. Após mais algumas explicações, lá se chegou à conclusão do melhor caminho para vir ter comigo. “Cinco minutos e estou aí. Até já”, foi o que ouvi. Lá chegou o reboque. Com mais uma pessoa simpática. Fez tudo o que tinha a fazer. Até que chegou o momento de colocar o carro em cima do reboque. “Posso conduzir o carro para cima do reboque ou prefere que o puxe?”, perguntou-me. “Não vai conseguir conduzir. Ele não pega”, respondi. “Dá, dá”, disse-me. “Ok, força”, referi. Depois de três tentativas falhadas de ligar o carro, lá teve que ser a máquina a puxar o carro.

Seguiu-se a viagem até ao mecânico do costume. Arrisco dizer que é a oficina mais castiça onde já entrei. Um dono e dois mecânicos. Três pessoas que estão sempre de cigarro na boca. Acho que nem dão conta de que estão constantemente a fumar. Aqui não há carros. Só há máquinas e gajos. “O que aconteceu à máquina?”, pergunta um. “De que se queixa o gajo”, pergunta outro minutos mais tarde. Como mecânico extraordinário que é, conseguiu meter o carro a trabalhar em minutos. Sem certezas, culpou uma peça que passa quase despercebida no motor. Espero que tenha razão. E que eu ainda tenha carro hoje. Só faltaram os posters das equipas de futebol e das mulheres nuas que parecem ser todas da década de oitenta.