15.11.13

is this love? (capítulo dez)


Apesar do seu nervosismo passar despercebido aos pais, Alexandra tremia. Por dentro. Um tremor que congelava o seu corpo com receio do que estava prestes a ouvir, sobretudo da boca do pai, um homem de poucas palavras que foi educado de forma bastante rígida. Uma educação que sempre tentou não passar para a filha. Seria este o primeiro momento em se iria revelar um pai severo? Esta era a grande dúvida que incomodava Alexandra. “Pai, deixa-me explicar-te tudo”, disse. “Não digas nada. Peço-te que te sentes aqui para falar contigo. Ouves o que tenho a dizer e depois acrescentas o que considerares necessário”, explicou o pai.

Muito a medo, Alexandra lá se sentou ao lado do pai. A mãe, nada dizia. Já tinha revelado o seu ponto de vista e entendeu ser melhor que o marido e a filha falassem sem que a sua ideia pudesse motivar um problema desnecessário entre ambos. “Ao contrário do que possas estar a pensar não pretendo criticar-te pela opção que tomaste. Tens 31 anos e considero que tanto eu como a tua mãe, e aqui tenho que destacar a brilhante educação que ela passou para ti, te ensinámos a seguir o rumo certo. A tomar as decisões com base naquilo que é mais justo para ti. Até hoje nunca me desiludiste. Sempre foste uma menina, e para mim serás sempre uma menina, que soube o que fazer. Pois mais negro que o cenário pudesse ser. E isso é um dos maiores orgulhos que um pai pode ter numa filha”, começou por dizer, levando a que Alexandra ficasse mais calma e menos receosa.

“A única coisa que te quero perguntar é se estás certa de que tomaste a melhor decisão para ti e para a tua vida”, questionou. “Vou ter de ser sincera contigo. Não sei”, respondeu. “Aquilo que te posso dizer é que tomei a decisão com o meu coração. E isso foi algo que tanto tu como a mãe me ensinaram. Com isto não pretendo dizer que caso as coisas corram mal vocês é que são os culpados. Se a escolha de ficar perto do Miguel se revelar uma desilusão serei a única culpada. Ele não terá culpa e muito menos vocês”, disse Alexandra. “Tu fizeste-me uma pergunta e agora sou eu que vos digo uma coisa. É muito importante para mim ter o vosso apoio. Não foi uma decisão fácil. Não sei no que vai dar a nossa aproximação e relação mas tenho a certeza de que o vosso apoio tornará o caminho muito mais fácil para mim. E até para o Miguel que está receoso de tudo isto”, acrescentou.

“Podes ter a certeza de que terás sempre o nosso apoio. Nem que amanhã apareças aqui a chorar porque ele te abandonou irei tratar-te mal ou dizer que a culpa é tua. E aqui acho que falo por mim e pela tua mãe”, referiu enquanto a mãe acenava com a cabeça em sinal de concordância com aquilo que acabara de ouvir. “Disseste que o Miguel está receoso. Não precisa de estar assim. Até porque nos conhece desde miúdo apesar do nosso contacto se ter naturalmente perdido ao longo dos tempos. Por isso, quero que venham jantar cá a casa amanhã”, disse o pai, dando por terminada a conversa.

Muito mais aliviada, Alexandra despediu-se dos pais com um sorriso especial. Por si, por Miguel mas sobretudo por ter ouvido aquilo que mais precisava de ouvir: que teria sempre o apoio dos pais. Assim que saiu do prédio ligou a Miguel. “Estou a sair da casa dos meus pais. Vai ter à minha casa”, disse. “Como correu a conversa?”, perguntou com um nervosismo claramente perceptível na sua voz. “Correu bem mas já falamos melhor. Não preciso dizer para levares escova de dentes e roupa pois quero que fiques lá ou preciso?”, brincou. “Vou já ter contigo. Beijos. Amo-te Muito”, referiu antes de desligar.

Alexandra chegou a casa. Para seu espanto já Miguel estava à porta do prédio com um saco desportivo na mão, um sorriso maroto nos lábios e um brilho especial nos olhos. Assim que se aproximaram trocaram um beijo apaixonado, que tal como uma imagem valeu mais do que mil palavras que pudessem trocar naquele momento. Mais do que um beijo era o ultrapassar de uma gigantesca barreira. Pelo menos era nisso que ambos acreditavam naquele momento.

O dia passou. Tendo sido aproveitado ao máximo pelo casal que finalmente se sentia em sintonia. O resto do dia foi mágico. A noite também. Com muita sensualidade e sexualidade. O dia seguinte também foi passado a dois. Como se não existissem mais pessoas no mundo. A hora do jantar aproximava-se e ambos foram tomar um duche antes de mudar de roupa. Num misto de poupar água com prazer, tomaram banho juntos. Brincadeiras, sorrisos, guerra de espuma. Tudo aconteceu naquela cabine suficientemente espaçosa para duas pessoas.

“O que visto para ir lá a casa?”, perguntou nervoso. “Não sejas tonto. Veste-te como sempre. Não vais jantar ao Mónaco. Vais a casa de duas pessoas que conheces desde pequeno”, disse Alexandra. “E que tenho desiludido ao longo dos últimos anos”, acrescentou Miguel. Roupa vestida. E ambos seguiram viagem rumo à casa dos pais de Alexandra. Apesar da conversa do pai de Alexandra, Miguel estava bastante nervoso. Com as mãos ligeiramente transpiradas por causa do receio daquele que considerava ser um dos jantares mais importantes da sua vida.

Chegaram, subiram, entraram e tudo correu normalmente. Apesar da mesa estar posta, a mãe de Alexandra dividia-se em tarefas na cozinha. Não havia muito para fazer. Mas, sempre que dá jantar em casa quer que tudo seja perfeito. E hoje não podia ser diferente. Alexandra foi para a cozinha ajudar e acalmar a mãe. O pai, estava no sofá. No seu lugar de sempre. A ver um jogo de futebol de uma liga estrangeira. Miguel fez-lhe companhia. E o futebol deu início à conversa de ambos.

“Meninos, para a mesa que o jantar está pronto”, gritou Alexandra da cozinha minutos depois. Ainda nervoso, Miguel levantou-se que nem uma mola que repentinamente tem espaço para se libertar da pressão a que está sujeita. O pai acompanhou-o e quando a comida chegou ambos estavam sentados. Arroz à valenciana era o prato. Para alegria de todos. Antes de iniciarem a refeição, o pai de Alexandra abriu uma garrafa de Cartuxa tinto. Que acompanhou o arroz. As conversas surgiram naturalmente. Os sorrisos entre todos foram partilhados à mesma velocidade com que o vinho acabava. Sem que ninguém desse conta passou mais de meia hora. Já não havia vinho. Nem arroz. Restava o bolo de chocolate caseiro, uma especialidade da mãe de Alexandra que ninguém conseguiu recusar.

No final da sobremesa, com Miguel a comer duas fatias, o pai de Alexandra fez um convite a Miguel. “Vou beber um whisky e fumar um charuto na varanda. Acompanhas-me?”, perguntou. “Pode ser”, respondeu Miguel. “No Whisky ou no charuto?”, inquiriu o pai de Alexandra. “Em ambos.” Lá foram para a varanda. Dois copos de Cardhu. O de Miguel com duas pedras de gelo. O do pai de Alexandra com três. Já na varanda acenderam dois Montecristo. Depois de um par de tragos trocaram as primeiras palavras. “Acredito que estejas surpreendido por ainda não se ter falado sobre a decisão da minha filha trocar um sonho pelo que sente por ti”, começou por dizer o pai. “Não me quero meter na vossa vida. Não te quero pressionar nem nada mas tenho um pedido para te fazer”, referiu. “Diga”, disse Miguel. “Se em algum momento estiveres com dúvidas sobre o que sentes pela minha filha, afasta-te dela. Por mais sofrimento que penses que lhe podes causar. É a única coisa que tenho para te dizer Miguel. E espero que compreendas o alcance das minhas palavras.” “Claro que sim. Percebo o que está a dizer. A única promessa que lhe posso fazer é a de que nunca mais irei faltar ao respeito à sua filha”, referiu Miguel antes de um brinde a dois.

Por sua vez, Alexandra e a mãe falavam na sala. É certo que a mãe tinha colocado em causa a opção da filha. Mas não conseguia esconder o contentamento por ter perto de si a sua única filha. E isso era muito importante para si. Entre sorrisos, a mãe notou que algo se passava com a filha. “Está bem?”, perguntou. “Estou a sentir-me mal. Estou um pouco enjoada. Deve ter sido o jantar que me caiu mal. Ou o vinho pois já não bebia há algum tempo”, respondeu.  

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