Ontem, ao ver o jogo do Benfica, bateram-me as
saudades. Quando vi o Luisão jogar golfe no festejo do seu primeiro golo,
recordei um dos momentos de que mais gostava quando jogava futebol. E refiro-me
aos festejos dos golos. Tal como o Luisão, também era defesa-central. Mas tinha
quase sempre algo pensado para a eventualidade de marcar um golo.
É verdade que existem festejos que são fruto do
momento. Ou até marcados pelas incidências dos jogos que estão a decorrer. Mas,
boa parte deles estão pensados no momento em que o jogo começa. Até existem
alguns, quando envolvem mais pessoas, que são ensaiados previamente, ao longo
da semana.
Apesar de ser defesa, joguei futebol durante
muitos anos. Em boa parte deles, era um dos marcadores de livres directos e de
grandes penalidades. Isto, permitiu-me marcar mais golos do que é comum num
defesa. E isso permitiu-me muitos festejos. Dos mais tradicionais aos mais
parvos e até com um polémico que me ia valendo uma carga de porrada.
Entre os mais clássicos, estão os beijos na
aliança, o coração feito com as mãos, a camisola que se despe e os abraços a
alguém especial que assiste ao jogo. Coisas que fiz várias vezes. Mais fora do
comum, existe o “cão” que urina na bandeirola de canto, a camisola que se despe
e que se pendura na bandeirola de canto que é arrancada do seu lugar e abanada
bem lá no alto.
Mas há mais. A chuteira que se descalça e que
lá lugar a um telemóvel. A chuteira que se descalça,
ficando-se a olhar para ela. O mergulho no chão, mesmo que seja num campo de
areia, desde que seja em dia de chuva. Os alongamentos que se fazem na
bandeirola de canto depois de marcar o golo. As mãos nos ouvidos. O dedo na
boca que pede silêncio. Perder o equilíbrio, estando sempre a cair. Estar
deitado no chão, apoiado no cotovelo como alguém que posa para uma revista. Apontar para o número da camisola. E,
depois de um período de azar, as mãos que percorrem o corpo da cabeça aos pés
como que a sacudir aquilo que de mau nos tem acompanhado. Mais uma vez, fiz de
tudo um pouco.
Depois, existem as coreografias de grupo. Os
quatro que se juntam a jogar matraquilhos, acabando com um golo imaginário.
Aquele que engraxa a chuteira do que marcou golo. A pistola imaginaria que vai
matando todos os membros da equipa, ficando apenas em pé aquele que marcou
golo. O lutador de boxe imaginário que se desvia de toda a equipa enquanto
treina os seus murros. A dança tribal em volta de quem marcou golo, acabando
com todos no chão. Coisas que fiz ao longo dos anos.
O único festejo polémico que tive, aconteceu
num jogo em que joguei no campo de uma equipa que ia descer de divisão. Estava
a marcar um avançado que era daqueles jogadores que compensa tudo aquilo que
não sabe fazer com a bola com problemas. Ao longo do jogo pontapeou-me, deu-me
cotoveladas, rasteirou-me e até me cuspiu. Até que as coisas mudaram. Passei eu
a atacar e ele todo contente atrás de mim, nos cantos a favor da minha equipa.
Ele sempre a mandar bocas mas teve azar porque marquei golo quando ele me
estava a marcar. Depois do que tinha sofrido, o meu primeiro instinto foi fazer
um dois com os dedos e apontar para baixo, como quem diz vais descer de divisão
enquanto nós vamos ser campeões. Errei porque o que era um momento de alívio contra
um jogador parvo (do estilo vais descer porque pessoas como tu não têm lugar
aqui) transformou-se em algo contra uma equipa e adeptos. No final do jogo
esteve quase tudo a descambar mas acabou em bem.
Acredito para quem viu aquele jogo e nunca mais
me viu jogar, tenha ficado com a ideia de que sou um atrasado mental que não
sabe ganhar. Mas, foi a única vez que fiz aquilo e arrependi-me do que fiz. Foi um momento de alívio por
ter estado tanto tempo a conter-me para não dar troco ao outro jogador,
acabando expulso. Este é o único festejo de que me arrependo.
Existe um festejo, que é muito comum mas que
raramente fiz, por considerar ser o mais especial de todos. E que passa pelo
beijo no emblema do clube. E não o fiz por uma razão muito simples. Para mim,
só se beija o emblema do clube quando se sente. Não se faz só por fazer. Gostei
de todos os clubes onde joguei mas, aqueles que me dizem mais foi onde marquei
menos golos. Por isso, os beijos foram poucos.
Além disso, todos os meus festejos acabavam da
mesma forma. A apontar para os meus pais, mulher e irmã e a
bater com a mão no coração. Era a forma que encontrava de os compensar por me
acompanharem para todo o lado, fizesse sol ou chuva, estivessem 30 ou -3 graus,
fosse o jogo a 20 ou 200 quilómetros de casa. E pensar nisto deu-me vontade de
voltar a jogar…
Sempre tive curiosidade em saber como seria a vida de um futebolista.
ResponderEliminarA vida, mas, fora do dinheiro, ou da fama que alguns alcançam.
Não sei porquê, mas sempre me deu a sensação de haver ali uma certa tristeza. O ter que "beijar" um emblema, que na maioria das vezes apenas significa dinheiro. O lugar onde se vive depender de um contracto. Ter que "carregar" com a família para outras cidades, ou até mesmo outros países, sem ser permitido a criação de muitas raízes. Não sei, mas tudo isso sempre me fez confusão. Suponho que só quem traz o futebol no sangue consegue entender.
Bom fim de semana.
Abraço
Acredito que existam jogadores contrariados. Eu, ganhei muito pouco dinheiro com o futebol. Por isso, joguei sempre pelo prazer de jogar. Mas, para mim, beijar um emblema é algo especial. Tal como nunca aceitei jogar em clubes com os quais não me identificava.
EliminarBoa semana!
beijos
Ficámos...
ResponderEliminarE como nota, posso acrescentar que também fui central e por fim joguei a 6.
Um abraço
PS: fui e serei eternamente um "Ganso".
Eu joguei a 6 antes de me fixar lá atrás!
EliminarAbraço!
Fiquei a conhecer muitos gestos que não imaginava.
ResponderEliminarQuanto a ti, o que dizer?
Gosto da tua forma de ser e estar.
Beijinho
Existem festejos tão parvos mas tão divertidos :)
EliminarObrigado
beijos
Uau que máximo! Conseguiste fazer-me sorrir a imaginar tantas situações de festejo!!! Muito bom!
ResponderEliminarAo fazeres aquele festejo com os dedos na direcção do tipo parvo só me fizeste lembrar o JJ a fazer o 3 com os dedos na direcção do outro ontem eheheh. Ok, pronto, momentos um pouco menos felizes, vá! :)))
Assumo que errei mas estava prestes a explodir :)
EliminarPor acaso os festejos é coisa de muitas vezes me fazerem rir. Porque há alguns verdadeiramente engraçados!
ResponderEliminarHá festejos fantásticos.
EliminarEsqueci-me de um muito giro e dos que mais adoro. É ir para a bancada e sentar a bater palmas ao próprio golo :)