18.3.14

dicionário falhadês-português

Gosto de críticas. Defendo que uma boa crítica é uma das formas mais eficazes de fazer alguém evoluir. E, ao longo dos anos, fui ensinado a criticar de forma construtiva. E a apenas criticar quando tenho algo para acrescentar. Como tal, para mim, “és uma merda” ou “isso que fizeste é uma grande bosta” - coisas que se ouvem com frequência - não é uma crítica. É apenas e só uma opinião, vazia de conteúdo, quando dita desta forma. Respeito e aceito que qualquer pessoa possa considerar outra uma merda, ou que defenda que outra pessoa só faz porcaria. Mas qual é a validade dessas palavras quando ditas dessa forma? Nenhuma! Terá eventualmente algum valor se for acrescentado de uma argumentação que leva à conclusão e que ajuda que a outra pessoa evolua.

Nos dias que correm, existe uma grande confusão entre o que é uma crítica e uma opinião. Sendo que muitas pessoas opinam com a ideia de que criticam. E o pior é que as tais opiniões, que se julgam críticas, são muitas vezes baseadas num vazio dominado por sentimentos nefastos. Sendo que estes sentimentos são, em muitos casos, os responsáveis pela ausência de evolução de algumas pessoas. As tais pessoas que preferem ver alguém cair em vez de lutar para chegar mais alto do que alguém já chegou.

É por isso que, há muito tempo, não abdico do meu dicionário de falhadês-português, que me tem permitido ao longo dos anos perceber aquilo que move algumas pessoas. Abrindo, ao calhas, o dicionário em questão, deparo-me com exemplos, que aqui partilho, que certamente todas as pessoas conhecem e já testemunharam num emprego ou na vida pessoal.

Falhadês:
“És uma grande merda!”
“Porquê?”
“Porque sim.”

Na realidade, aquilo que se queria dizer, em português, é:
“És minimamente bom naquilo que fazes mas não o quero assumir.”

Falhadês:
“O teu trabalho está uma grande merda!”
“Podes dizer-me como seria para ficar bom? É que assim aprendo e não repito o erro”
“Não sei. Mas isso é uma grande merda.”

Na realidade, aquilo que se queria dizer, em português, é:
“Parabéns. Está bem feito e estou com azia porque não fui eu que fiz.”

Falhadês:
“Essa é a ideia mais parva que já ouvi. Não tem pernas para andar”
“Ok! O que propões?”
“Nada. Mas a tua ideia é parva.”

Na realidade, aquilo que se queria dizer, em português, é:
“Boa ideia. Como é que não me lembrei disto antes.”

Falhadês:
“Como é que aquela pessoa é bem sucedida no trabalho e na vida? Só pode dar graxa aos patrões, dormir com todos os funcionários da empresa. E os projectos pessoais não passam de cópias que são promovidas por amigos igualmente estúpidos e parvos.”

Na realidade, aquilo que se queria dizer, em português, é:
“Que cabra/cabrão! Está bem na vida e luta por isso. Eu não passo da cepa torta mas a verdade é que não faço nada para ser melhor.”

O mundo seria muito melhor se as pessoas dissessem és isto ou aquilo, mas podias ser melhor se fizesses isto ou aquilo. Se as pessoas dissessem esse trabalho ficou péssimo, mas da próxima vez faz isto e aquilo que fica muito bom. Se as pessoas dissessem essa ideia é meio descabida, mas se aproveitar-mos isto e aquilo e acrescentarmos isto de que me lembrei temos uma bela ideia em mãos. E o mundo seria muito melhor se as pessoas olhassem para o sucesso dos outros, quer seja do vizinho da frente, do padeiro ou mesmo das pessoas mais conhecidas como uma inspiração para ser melhor do que essas pessoas. Porque elas estão bem no patamar em que estão. Não precisam de cair. Nós é que precisamos de escalar para lá chegar.

4 comentários:

  1. Trabalhas comigo Bruninho?! Não?! Podia jurar que sim...ouço falhadês desse há quase 25 anos e é coisinha para passar de geração em geração...
    Eu, por exemplo...já "dormi" que tantos homens da empresa que nem os cheguei a conhecer a todos:))))) ahahahahah...hoje rio-me...mas já chorei muito, com tanta maldade...

    jinhoooooossssss

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    1. A vantagem de ter começado a trabalhar muito novo é aprender depressa tudo isto.

      beijos

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  2. Um falhadês/ portuguès muito interessante.
    E tens razão nas tuas justificações.
    Demais!

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